Rui Peralta, Luanda
I - Em Abril de
2011, o ex-presidente do Peru, Alan Garcia emprestou a sua voz ao projecto
imperialista da Aliança do Pacifico. O projecto foi de imediato apoiado pelo
Chile, Colômbia e México, que juntando-se ao Peru iniciaram uma frenética
actividade que levou á sua expansão, abarcando actualmente o Panamá, Costa
Rica, Guatemala, Paraguai e Uruguai, estando a Republica Dominicana á porta,
para entrar neste clube VIP, que conta com observadores de alto gabarito como a
Espanha, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Japão.
Alguns destes
países assinaram Tratados de Comércio Livre com os USA, outros suportam bases
militares norte-americanas no seu território, México e Chile pertencem á OCDE e
todos os povos destes países são espezinhados pela corja neoliberal,
respondendo estes governos, directamente, aos seus amos em Washington.
Obama viajará
brevemente á Costa Rica, onde irá reunir-se com a presidente Chinchilla e
posteriormente com outros mandatários centro-americanos - que aguardam impacientes
pelo seu cartão de sócios - para discutir o enquadramento da Aliança do
Pacifico no Acordo Estratégico Trans-Pacifico de Associação Económica (TPP –
Trans-Pacific Partership), do qual os USA são os mentores.
II - Os objectivos
imediatos e regionais da Aliança do Pacifico – a) a contenção dos projectos
emancipadores bolivarianos; b) um bloco concorrente á ALBA e um espaço
organizado e instrumentalizado no MERCOSUR – ficarão inseridos na mais vasta
estratégia norte-americana de viragem ao Pacifico, com a vantagem dos assuntos
regionais serem resolvidos pelos próprios, com o assentimento da Casa Branca e
com as verbas dos interessados (sacadas aos bolsos dos contribuintes, o que na
América Latina é o mesmo que dizer, sacado dos bolsos dos assalariados, que
representam a grande fatia dos ingressos fiscais, pois as oligarquias não
gostam de pagar o que devem).
Não se trata assim
apenas de mais um bloco de integração económica regional, mas também de um
cavalo de Tróia, que vê com bons olhos um espaço como o MERCOSUR, no qual se
insere e do qual tirará proveitos e dividendos, pela sua relação única e
estruturada com os mercados do Pacifico (do qual são parte integrante),
contrabalançando eventuais derivas do MERCOSUR para politicas contraproducentes
às de Washington e ao seu papel de protector e agente de segurança privado do
Capital.
III - É de uma
particular ambiguidade o papel do Uruguai nesta plataforma, não pelo facto de
ser um país do Atlântico Sul e um tradicional agente económico neste mercado (é
óbvio que os vastos mercados do Pacifico são tentadores para um país como o
Uruguai, para mais quando os seus tradicionais mercados atlânticos estão
mergulhados numa crónica e persistente crise), mas pelo seu papel no MERCOSUR e
pela sua adesão ao SUCRE.
Em algum suspense
ficam mergulhadas as expectativas quanto á Argentina e á sua adesão a esta
Aliança, sendo no entanto com o Equador que a evidencia maior sobre as reais
intenções deste bloco neoliberal se irão revelar. Isto porque a posição
geográfica do Equador deixa-o como um elemento natural de um eventual bloco
regional Sul-Americano do Pacifico, embora as transformações sociais,
económicas e politicas em curso neste país, façam com que os mentores deste
projecto neoliberal de submissão encarem com alguma dificuldade a sua inserção
(e o contrário – a dificuldade que o Equador terá em aceitar um bloco
neoliberal, contrário á sua soberania nacional e popular - também é uma
realidade que tem de ser levada em conta).
Outra expectativa,
embora na América Central é a da Nicarágua, também um elemento natural num
eventual mercado do Pacifico, pela sua posição geográfica, sendo um país com
litoral Atlântico e litoral Pacifico, o que o transforma num excelente elo de
ligação e numa óptima plataforma logística privilegiada nas relações Atlântico
/ Pacifico (o que muto poderia ajudar a economia nicaraguense a proceder a um
processo de crescimento integrado). Se a incipiente nomenclatura sandinista for
tentada a um enriquecimento rápido, a Aliança do Pacifico poderá assumir a
função de liquidação do sandinismo histórico (de raiz anti-imperialista,
nacional e popular) e transformá-lo á imagem capitulacionista dos novos
dirigentes sandinistas, que conduziram o movimento á retórica populista, social
nas palavras e ultraliberal (mas fortemente oligárquica) nos actos.
IV - A próxima
cimeira da Aliança do Pacifico será organizada em Cali, na Colômbia, durante o
próximo mês de Maio. Independentemente da agenda de discussão, é necessário que
o espaço bolivariano e o bloco anti-imperialista reunido em torno da ALBA
fortaleçam as suas conquistas. Para que a ALBA converta-se num muro de
contenção ao avanço imperialista e às políticas neo-liberais (uma vez que no
seu seio persistem perspectivas reformadora que aceitam a economia capitalista contida
e controlada (?), o máximo a que poderá aspirar este bloco é a conter a vaga
neo-liberal), torna-se necessário que acelere a implementação dos diversos
acordos e projectos e respectiva mobilização em torno dos objectivos preconizados.
Os acordos
existentes em torno dos sectores alimentares, do ferro, do alumínio, da
energia, dos medicamentos, a criação da Universidade do ALBA (UNIALBA), os
projectos de alfabetização e pós-alfabetização, a livre circulação de pessoas,
bens e mercadorias no espaço ALBA, a quebra das barreiras alfandegarias entre
os países do ALBA, a criação de um Banco ALBA e das linhas aéreas regionais,
são acordos que devem ser implementados de forma desburocratizada e reunindo em
seu torno uma ampla mobilização dos cidadãos da ALBA, para que as populações
participem nestas realizações e sintam a sua importância na vida dos cidadãos.
V - Importante é
também uma acção coordenada destes países no MERCOSUR. A importância efectiva
de uma política latino-americana para o Pacifico tem de passar por aqui e não
por um espaço controlado pelos USA. Os interesses da América do Sul e Central,
num contexto mais vasto do Pacifico, são diametralmente opostos aos dos USA. Para
a América Latina a questão coloca-se primeiro ao nível da integração económica
dos países americanos da costa do Pacifico. Só a partir daqui se conseguirá uma
estratégia de relacionamento e de intercambio económico, que passa pela
definição das áreas de operacionais logísticas, das áreas de suporte, dos
entrepostos comerciais, dos mecanismos de distribuição e de fluxo entre o
Atlântico Sul e o Pacifico,
Existem, por outro
lado, factores que têm de ser levados em conta e que serão objecto de
alterações, no caso dessa integração se efectuar. Por exemplo: Um pivô
importante do relacionamento comercial Pacifico/Atlântico Sul é formado pela
Austrália e Nova Zelândia / África do Sul / Argentina. Ora a integração
ribeirinha do Pacifico da América do Sul e Central implicará um relacionamento
directo Pacifico / Pacifico, invertendo os mecanismos deste fluxo e
prescindindo do papel da África do Sul como intermediário e da Argentina como
Front Line. Observe-se que o Pacifico, nesta rota, é inutilizado, sendo o
Indico o seu intermediário com o Atlântico Sul (o Oceano Moreno de Adriano
Moreira). Para alem deste exemplo, sofrerão, naturalmente, profundas alterações
os fluxos com o Japão, Coreia do Sul, Malásia, Filipinas, Indonésia e com a
própria China.
VI - A economia
capitalista actual é fortemente globalizada e a afirmação neoliberal das novas
elites capitalistas implementa o seu domínio. Os fluxos inter-regionais, as
novas rotas traçadas e a manutenção das anteriores, as novas linhas de comércio
internacional, o esgotamento de determinados fluxos e o estabelecimento de novos
suportes logísticos, são factores que têm de ser analisados em termos
geoeconómicos, uma vez que representam elementos de importância estratégica.
Sendo a única
realidade do capitalismo a economia, as questões estratégicas tornam-se, também
elas, polarizadas em torno da realidade existente: a realidade económica. O
imperialismo pondera a sua acção, não alicerçado na realidade política
(inexistente como realidade, sendo um apêndice da realidade económica), mas na
única realidade em que ele se movimenta, a economia.
A construção de
blocos anti-imperialistas, criadores de novos paradigmas e factores de
transformação, não deixam de ser factores produzidos no contexto global do
capitalismo, criados pela dinâmica dos processos e das contradições que se
devolvem no seu seio. Hoje nenhuma politica é efectivamente anti-imperialista
se a força geradora desta premissas não for anti-capitalista. As oligarquias ou
extractos capitalistas (as burguesias nacionais, por exemplo) podem ser
anti-neoliberais, mas nunca irão assumir uma estratégia anti-imperialista, pois
acabam por sucumbir, mais tarde ou mais cedo, aos monopólios generalizados
(base da nova elite neoliberal) que absorverá os seus capitais,
transformando-os em elementos secundários das novas forças do mercado e do seu
domínio global.
VII - Na lógica do
conflito existe sempre um ponto culminante a partir do qual a acção se
transforma no seu oposto. Por exemplo: os exércitos que de forma vitoriosa
avançam demasiado no terreno são facilmente derrotados por excesso de extensão,
tal como as armas mais eficazes tornam-se completamente ineficazes devido às
contra-medidas correctas do inimigo.
A importância da
solidariedade entre os países que iniciaram as suas dinâmicas transformadoras é
um elemento essencial ao prosseguimento dos processos em curso. Mas se as
alianças solidárias entre si devem ser realmente solidárias e abertas, existe
no entanto a necessidade de recorrer a solidariedades estratégicas a nível
regional com países que, embora não sofrendo processos transformadores,
opõem-se e oferecem resistência aos processos capitalistas de globalização e
tentam globalizar-se (ou seja reposicionarem-se no mundo) de forma soberana.
Na vasta região que
é a América Latina, estas solidariedades estratégicas constituem a base de
espaços como o MERCOSUR e é fundamental que a solidariedade efectiva entre os
processos bolivarianos (Venezuela, Bolívia e Equador) seja equacionada
estrategicamente e actua em bloco, com uma voz única. Este pressuposto será
ampliado em espaços que englobem o Caribe e a América Central, onde é
determinante a posição de Cuba. É esta dinâmica da solidariedade efectiva (Venezuela,
Equador, Bolívia e Cuba) e dos mecanismos da solidariedade estratégica
(relacionamento do bloco da solidariedade em espaços mais vastos onde possam
jogar com as contradições inerentes ás dinâmicas capitalistas) que se
construirá uma autêntica integração regional e será a partir daí que se tornará
efectiva uma soberana utilização do espaço do Pacifico.
No fundo é transformar
a piscina de Washington num oceano de solidariedade global…
Fontes
Bossi, Fernando La
Alianza del Pacífico. El imperio contraataca; http://www.rebelion.org.
Luttwak, Edward Turbo
Capitalism; The Ocean Publishing Group Ltd, London 1998.
Luttwak, Edward Strategy:
The logic of war and peace; Harvard University Press 1987.
The International
Herald Tribune, April 13, 2011.
Business Week, May
15, 2012.
New York Times, January
28, 2013
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