António Caeiro, da
agência Lusa
Pequim, 11 abr
(Lusa) - A última edição do principal telejornal da Televisão Central da China,
transmitido em simultâneo pela rádio e as dezenas de estações provinciais,
tinha apenas uma notícia internacional e não era sobre a vizinha Coreia do
Norte.
Para os editores do
"Xinwen Lianbo", noticiário de meia hora emitido após o jantar e cujo
alinhamento é previamente gravado, o sismo no Irão foi mais relevante do que a
persistente guerra verbal das autoridades norte-coreanas.
A imprensa oficial
chinesa continua a criticar as "provocações" de Pyongyang, mas parece
desvalorizar as suas ameaças bélicas e hoje, primeiro aniversário da ascensão
ao poder de Kim Jong-un, voltou a advertir que "a comunidade internacional
nunca permitirá que a Coreia do Norte adquira o estatuto de potência
nuclear".
"O regime
norte-coreano seguiu uma via extrema (...) Pyongyang deve compreender
claramente que não tem capacidade para dominar a situação na península
coreana", diz o Global Times, diário de língua inglesa do grupo Diário do
Povo, o órgão oficial do Partido Comunista Chinês.
Num editorial
intitulado "Teimosia sobre armas nucleares não é uma saída para a Coreia
do Norte", o mesmo jornal considera a política de Pyongyang
"insustentável" e lembra que o seu polémico programa nuclear também
"diz respeito aos interesses nacionais da China".
"A favorável
opinião do povo chinês sobre Pyongyang está a desvanecer", afirmou o
Global Times num outro editorial, publicado na quarta-feira.
Os dois países
partilham uma fronteira com cerca de 1.400 quilómetros de extensão, lutaram
lado a lado na Guerra da Coreia (1950-53) e, oficialmente, são ambos
socialistas. Mas depois de três décadas de "Reforma Económica e Abertura
ao Exterior", a capital chinesa parece viver a anos-luz de Pyongyang.
O aeroporto de
Pequim, que acolheu 81,8 milhões de passageiros em 2012, já é o segundo mais
movimentado do mundo, à frente de Londres. Em 2009, era o quarto e dez anos
antes não figurava sequer entre os trinta primeiros.
Para muitos
chineses, o isolamento da Coreia do Norte e o culto da personalidade em torno
da família Kim evoca o período mais sombrio da Revolução Cultural (1966-76),
quando a China era também um país pobre e isolado do resto do mundo.
A Coreia do Norte é
governada por uma dinastia: Kim Jong-un, que ascendeu ao poder em abril de
2012, sucedeu ao pai, Kim Jong-il (1942-2011), que, por sua vez, herdou a
posição do pai, o "eterno presidente" Kim il-Sung, falecido em 1994.
Na China, os cargos
políticos deixaram de ser vitalícios e desde há duas décadas, os titulares dos principais
órgãos do Estado e do PCC reformam-se ao fim de dois mandatos de cinco anos.
As relações
sino-norte-coreanas eram outrora descritas como "unha com carne".
Pelas marcas dos
70.000 táxis de Pequim (Hyundai) e dos mais populares 'smartphones' (Samsung),
a Coreia do Sul, que há vinte anos não figurava sequer nos mapas chineses como
um Estado soberano, parece muito mais próxima.
Num inquérito
online sobre se a China deve abandonar a Coreia do Norte, promovido por um
jornal de Hong Kong, a percentagem dos adeptos do SIM ia hoje nos 84%.
AC // VM
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