sexta-feira, 12 de abril de 2013

CHINA E COREIA DO NORTE, DOIS VIZINHOS CADA VEZ MAIS DISTANTES




António Caeiro, da agência Lusa

Pequim, 11 abr (Lusa) - A última edição do principal telejornal da Televisão Central da China, transmitido em simultâneo pela rádio e as dezenas de estações provinciais, tinha apenas uma notícia internacional e não era sobre a vizinha Coreia do Norte.

Para os editores do "Xinwen Lianbo", noticiário de meia hora emitido após o jantar e cujo alinhamento é previamente gravado, o sismo no Irão foi mais relevante do que a persistente guerra verbal das autoridades norte-coreanas.

A imprensa oficial chinesa continua a criticar as "provocações" de Pyongyang, mas parece desvalorizar as suas ameaças bélicas e hoje, primeiro aniversário da ascensão ao poder de Kim Jong-un, voltou a advertir que "a comunidade internacional nunca permitirá que a Coreia do Norte adquira o estatuto de potência nuclear".

"O regime norte-coreano seguiu uma via extrema (...) Pyongyang deve compreender claramente que não tem capacidade para dominar a situação na península coreana", diz o Global Times, diário de língua inglesa do grupo Diário do Povo, o órgão oficial do Partido Comunista Chinês.

Num editorial intitulado "Teimosia sobre armas nucleares não é uma saída para a Coreia do Norte", o mesmo jornal considera a política de Pyongyang "insustentável" e lembra que o seu polémico programa nuclear também "diz respeito aos interesses nacionais da China".

"A favorável opinião do povo chinês sobre Pyongyang está a desvanecer", afirmou o Global Times num outro editorial, publicado na quarta-feira.

Os dois países partilham uma fronteira com cerca de 1.400 quilómetros de extensão, lutaram lado a lado na Guerra da Coreia (1950-53) e, oficialmente, são ambos socialistas. Mas depois de três décadas de "Reforma Económica e Abertura ao Exterior", a capital chinesa parece viver a anos-luz de Pyongyang.

O aeroporto de Pequim, que acolheu 81,8 milhões de passageiros em 2012, já é o segundo mais movimentado do mundo, à frente de Londres. Em 2009, era o quarto e dez anos antes não figurava sequer entre os trinta primeiros.

Para muitos chineses, o isolamento da Coreia do Norte e o culto da personalidade em torno da família Kim evoca o período mais sombrio da Revolução Cultural (1966-76), quando a China era também um país pobre e isolado do resto do mundo.

A Coreia do Norte é governada por uma dinastia: Kim Jong-un, que ascendeu ao poder em abril de 2012, sucedeu ao pai, Kim Jong-il (1942-2011), que, por sua vez, herdou a posição do pai, o "eterno presidente" Kim il-Sung, falecido em 1994.

Na China, os cargos políticos deixaram de ser vitalícios e desde há duas décadas, os titulares dos principais órgãos do Estado e do PCC reformam-se ao fim de dois mandatos de cinco anos.

As relações sino-norte-coreanas eram outrora descritas como "unha com carne".

Pelas marcas dos 70.000 táxis de Pequim (Hyundai) e dos mais populares 'smartphones' (Samsung), a Coreia do Sul, que há vinte anos não figurava sequer nos mapas chineses como um Estado soberano, parece muito mais próxima.

Num inquérito online sobre se a China deve abandonar a Coreia do Norte, promovido por um jornal de Hong Kong, a percentagem dos adeptos do SIM ia hoje nos 84%.

AC // VM

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