WPROST, VARSÓVIA
– Presseurop – imagem Luigi_Passeto
Os nossos
dirigentes não percebem que estão sentados em cima de um barril de pólvora,
adverte o filósofo polaco Marcin Król. Porque a classe média, à qual é negada
qualquer perspetiva de promoção social, poderá vir a encarar a revolução como
último recurso para se fazer ouvir.
Ao contrário do que
dizem as ideias preconcebidas, no Ocidente, não são os pobres e os desgraçados
que fazem as revoluções e, sim, as classes médias. Foi assim em todas as
revoluções, a começar pela Revolução Francesa, e à exceção da Revolução de
outubro, que foi um golpe de Estado levado a cabo numa situação de desordem
política extrema.
Quando é que a
classe média se decide a desencadear a revolução? Em primeiro lugar, não se
trata do conjunto da classe média, nem sequer de um grupo organizado e, menos
ainda, de uma comunidade, mas antes dos líderes da classe média, aqueles que
hoje ganham as eleições na Europa e que são acolhidos como irresponsáveis
(porque não pertencem à geriátrica classe política tradicional), mas que, de
súbito, se revelam não apenas como muito populares mas também espantosamente
eficazes.
Cidadãos de segunda
categoria
No caso clássico da
Revolução Francesa, o papel de vanguarda revolucionária foi desempenhado por
advogados, empresários, funcionários da administração pública da época e por
uma parte dos oficiais do exército. O fator económico foi importante, mas não
fundamental. Os elementos que desencadearam o movimento revolucionário foram,
sobretudo, a falta de abertura na vida pública e a impossibilidade de promoção
social. Quando tentou, a todo o custo, limitar a influência dos advogados e dos
homens de negócios, a aristocracia incitou à revolução. Em toda a Europa, à
exceção da sensata Inglaterra, a nova classe média, composta por cidadãos de
segunda categoria, não tinha condições para decidir o seu próprio destino.
O que se passa hoje
em termos de discriminação? É, simultaneamente, diferente e semelhante. É
verdade que a aristocracia já não detém o monopólio da tomada de decisões, mas
os banqueiros, os especuladores bolsistas e os gestores, que ganham centenas de
milhões de euros, afastam habilmente a classe média do processo de decisão,
apesar de ser esta a sofrer as graves consequências desse mesmo processo.
Chipre é o exemplo mais recente dessa estratégia e muito significativo.
O domínio dos mais
velhos
Mas há muitos
outros exemplos. Veja-se o caso dos professores universitários, que não só na
Polónia como em toda a Europa, temem pelos seus empregos, em especial quando
têm a infelicidade de ensinar matérias declaradas como pouco úteis pela União
Europeia, pelos Estados-membros e pelas multinacionais, que ditam as regras do
mercado de trabalho.
Na Eslováquia, por
exemplo, as ciências humanas foram praticamente esmagadas, de modo que os
especialistas de História, Gramática, Etnografia ou Lógica têm motivo para
sérias preocupações. Dentro de pouco tempo, seguir-se-ão outras categorias
profissionais. É o caso dos funcionários públicos, cujo número explodiu
literalmente no passado. Será culpa deles? Claro que não. E o que pode fazer um
funcionário despedido, com 15 anos de serviço e que sempre viveu em situação de
segurança de emprego? Provavelmente, nada. O mesmo se passa com os jovens
licenciados, deixados na beira da estrada do mercado de trabalho, bem como os
artistas, os jornalistas e outras profissões fragilizadas pelo setor digital.
As revoluções
emergem em situações de exclusão, profissional e da tomada de decisões, e de
défice democrático. Erguem-se também contra a barreira das gerações ou, muito
simplesmente, contra o domínio dos velhos.
Não terá por certo
sido por acaso que os dirigentes da Revolução Francesa tinham cerca de 30 anos,
enquanto a média de idades dos decisores presentes no Congresso de Viena
(1815), que restabeleceu a ordem conservadora na Europa, era de mais de 60
anos. Os atuais dirigentes europeus têm, na sua maioria, entre 50 e 60 anos,
mas, tendo em conta os progressos da medicina, é bem provável que, dentro de 20
anos, a Sra. Merkel e os Srs. Cameron, Tusk e Hollande ainda estejam no ativo.
A menos que sejam varridos pela revolução.
O grito da
revolução
Todas as vias de
progresso da atual classe média, maioritariamente jovem, estão bloqueadas por
milionários, por velhos ou por aqueles que parecem velhos aos olhos de uma
pessoa de 25 anos. É uma situação explosiva. É um erro pensar que os jovens
encolerizados contra o sistema, mas que não dominam a linguagem habitual dos
partidos políticos e dos movimentos políticos estruturados, não irão chegar à
revolta organizada. No entanto, nunca se fez uma revolução em nome de uma
medida específica, por exemplo, uma supervisão bancária mais rigorosa, mas fez-se
em nome de não continuar a ser possível viver assim. Uma revolução, em oposição
total com os métodos dos partidos políticos, não utiliza linguagem política. A
revolução grita e berra. O som revolucionário é por natureza desordenado mas
quase sempre bem audível.
Então, queremos ou
não queremos uma revolução? Em meu entender, provavelmente não, porque
revolução significa a destruição total, antes da construção de uma nova ordem.
Dito isto, os nossos responsáveis políticos continuam sem perceber que estão sentados
em cima de um barril de pólvora. Não percebem, pois estão demasiado absorvidos
pela ideia que os obceca: regressar ao estado de estabilidade de há dez ou
trinta anos. Não sabem que, na História, não se volta atrás e que as suas
intenções fazem lembrar a apropriada frase atribuída a Karl Marx: a História
repete-se, a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.
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