segunda-feira, 1 de abril de 2013

Portugal - Crise. MANIFESTO DEFENDE QUE HÁ MAIS PAÍS PARA ALÉM DOS CORTES




Margarida Bon de Sousa – Jornal i

Economistas defendem que o governo quer mostrar obra com a redução dos gastos públicos. Mas não chega

Foi você que pediu um economista? Desta vez não foi um, mas 64 - muitos deles próximos do Presidente da República - que elaboraram um manifesto sobre o lema “Despesa Pública menor para um Futuro melhor”, onde dizem que o rei vai nu. Ou seja, separam o trigo do joio da actual governação e defendem que, apesar de todos os sacrifícios dos portugueses, as reformas estruturais estão por fazer. Patrício Gouveia, Cardoso e Cunha, Pinho Cardão, Sousa Lara, Ribeiro e Casto, Cadilhe, Beleza e Sofia Galvão são alguns dos nomes para quem é imperativo reduzir a carga fiscal, tornar atractivo o investimento, reduzir as rendas excessivas e reformar o Estado e as administrações públicas, o que, a não ser feito, fará com que a despesa volte aos níveis de 2010 depois da intervenção da troika. “Está aí a sorte dos governos, o que é o menos, mas sobretudo a dos portugueses, o que é o mais”, lê-se no manifesto que será apresentado quarta-feira.

FALTA EMPATIA AO GOVERNO 

Para os 64 economistas as metas estão traçadas e passam pelo controle cuidadoso da despesa, com renegociação de inúmeros contratos, pela eliminação do que existe a dobrar no Estado, por um sector empresarial financeiramente saudável e pelo relançamento da economia. “A consolidação orçamental está longe de estar concluída: o défice estrutural terá ainda de se reduzir para 0,5% do PIB depois de 2016”, defendem. “Para se atingir uma situação sustentável, a médio e longo prazo, devemos reduzir a despesa estrutural primária para 33% do PIB em quatro anos e definir um tecto de referência estável em que, por regra, o total da despesa pública não ultrapasse os 40% do PIB. Acima desses valores, a dívida continuará, com toda a probabilidade, a aumentar em vez de a reduzirmos”, acrescentam.

Quanto à actuação do executivo PSD/CDS, o grupo de economistas afirma que “passados estes vinte meses de governação, o que os cidadãos efectivamente sentem é um aumento brutal da carga fiscal: cada vez pagam mais, sem verem, de forma palpável, a contrapartida de o Estado gastar menos. Torna-se, por isso, imperioso um trabalho sério de reforma do Estado com redução significativa do seu peso estrutural nas finanças públicas sem o que o garrote fiscal sobre os indivíduos, as famílias, as empresas, não cessará de se apertar”.

O manifesto refere ainda que “é importa também que o governo deixe de actuar como sendo forte com os fracos e fraco com os fortes e que os cidadãos se apercebam dessa mudança, a vejam e sintam”.

O i resume aqui os principais pontos do manifesto:

Os programas e a prática

Passados estes vinte meses de governação, o que os cidadãos efectivamente sentem é um aumento brutal da carga fiscal: cada vez pagam mais, sem verem, de forma palpável, a contrapartida de o Estado gastar menos.

A despesa pública

Houve uma quebra de mais de 5 pontos percentuais do seu peso no PIB mas o facto não resultou da reforma do Estado mas de um  somatório de intervenções cujo efeito logo se esgotou. Ou então deveu-se a medidas transitórias que, terminado o seu efeito, reproduzirão nos anos seguintes os montantes anteriores.

Investigação Tecnológica

O que se exige é uma investigação tecnológica virada para as empresas, para a inovação e para novos produtos susceptíveis de serem produzidos e comercializados.

Educação e Saúde

A Rede Pública de Educação e o SNS deverão encaminhar-se para modelos compreensivos – e não exclusivos – integrando, com paridade de condições e sob comum fiscalização e regulação pelo Estado, actores públicos e privados.

PPP, SCUT e Auto-Estradas

Torna-se necessário concretizar uma decidida acção no sentido de rever os contratos, corrigindo rentabilidades excessivas, porque imunes a risco, de que diversos operadores usufruem.

O Estado paralelo

Seria recomendável uma reforma caracterizada pela verticalização da Administração Pública: começar pelo emagrecimento drástico dos gabinetes governamentais, pondo termo a essa “película dirigente”, e prosseguir com o regresso à Administração directa do Estado de funções dispersas por uma infindável variedade de organismos da Administração indirecta.

Prestações sociais

O governo não começou bem, ao atingir de forma desproporcionada alguns dos mais velhos, devendo o esforço nacional de equilíbrio das contas públicas ter a sua sede privilegiada na aplicação uniforme do IRS tanto a activos como a reformados.

Administrações Locais e Regionais

É  indispensável que o Estado anuncie que não dará o seu aval às dívidas das empresas municipais e, até possivelmente, às autarquias locais.

As rendas ilegais na energia 

O sector eléctrico nacional acumulou um défice tarifário de quase 4 mil milhões de euros, devido essencialmente ao pagamento de ajudas de Estado a empresas detentoras do monopólio de produção – uma situação ilegal face à lei de concorrência comunitária. O sobrelucro dos produtores beneficiados com rendas excessivas constitui um atentado à competitividade da economia.

Observatórios

Constituem um dos mais notáveis frutos da forte dinâmica reprodutiva dos burocratas. Não se conhece nem quantos são e o que efectivamente fazem, nem que algum tenha perdido o financiamento estatal.

Cidadão não quer estatísticas

O imperativo é reduzir a carga fiscal e tornar atractivo o investimento. É isso que deve ser o trabalho dos governos para servirem os portugueses.

Fundações

É fundamental que o governo não descanse nesta frente de acção, continuando de modo persistente a separar criteriosamente o trigo do joio.

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