sexta-feira, 12 de abril de 2013

Portugal: ESTADO CONGELADO. GASPAR COMPARADO A SALAZAR NO PARLAMENTO




Rita Tavares – Jornal i

Não foi só o PCP a chegar ao extremo. A comparação com Salazar também veio da bancada do PS que disse que o governo está a fazer “birra

O famoso despacho que limita a despesa na administração pública, de autoria do ministro das Finanças, voltou ontem a dominar o debate político, com a esquerda a colar Vítor Gaspar à figura de António Oliveira Salazar. A comparação chegou da bancada do PCP, que chamou o assunto ao plenário da Assembleia da República ontem, mas também do PS.

O deputado socialista João Galamba interveio para dizer que “sem necessidade e sem que se perceba porquê, o ministro das Finanças decidiu fazer algo que já foi feito num passado de má memória e centralizar em si o funcionamento da administração pública”. A referência a Salazar foi confirmada mais tarde pelo próprio deputado, que ainda disse que o despacho se trata de “uma birra” do executivo depois da decisão do Tribunal Constitucional da semana passada. “É uma medida irracional e o PS tem dúvidas sobre a sua legalidade”, acrescentou o socialista.

Mas o que enervou mesmo as bancadas da maioria, provocando uma manifestação ruidosa no plenário, foi quando João Galamba classificou o despacho de “vendetta” e “uma irresponsabilidade” que mostra um país nas mãos de “um bando de irresponsáveis”. O que o acórdão do Tribunal Constitucional impõe ao governo é serenidade e responsabilidade, não são birras nem comportamentos inflamados”, disse.

O tema foi levado ao parlamento pelo PCP, num debate de actualidade que teve na bancada do governo o secretário de Estado do Orçamento, Morais Sarmento. Mas a intervenção de João Galamba teve resposta pela secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares. Teresa Morais pediu a palavra para recordar a declaracção do presidente do Tribunal de Contas sobre o despacho no dia anterior. O socialista Guilherme de Oliveira Martins considerou a decisão de Gaspar “compreensível” e a governante aproveitou para confrontar o PS com essa posição.

Mas foi o PCP, que abriu o debate, o primeiro a trazer o antigo regime ao plenário, com o deputado João Oliveira a dizer que Vítor Gaspar é o “presidente do Conselho investido em ministro das Finanças”, acrescentando mesmo que “a isto já Portugal assistiu na década de 1930 e foi para acabar com isso que se fez o 25 de Abril em 1974”. Sobre o despacho em concreto, o comunista disse que coloca o Estado numa posição de “sequestrado” e questiona: “Como é possível que, em democracia, um governo sequestre o Estado, paralise serviços e tome como reféns as vidas de milhões de portugueses, deixando-as suspensas de uma decisão do agora todo-poderoso ministro das Finanças?”

Na bancada do governo, quem respondeu foi o homem da equipa de Gaspar. Morais Sarmento disse que a resposta ao TC impõe “medidas que permitam atingir os limites estabelecidos para o cumprimento das metas acordadas, que têm garantido condições de financiamento à economia mais favoráveis”. E garantiu que “este despacho tem uma vigência temporária”.

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