domingo, 7 de abril de 2013

Portugal: PASSOS REESCREVEU A HISTÓRIA




Nicolau Santos – Expresso, opinião

Na sua comunicação ao país, Pedro Passos Coelho reescreveu a história económica dos últimos dois anos.

Passos revelou-nos que, não fora o acordo do Tribunal Constitucional, e o nosso ajustamento económico estaria concluído em meados de 2014, com a troika a abandonarf tranquilamente o país e a deixar-nos em paz.

Acontece que não é assim. Não só o processo de ajustamento orçamental já levou o Governo a pedir por duas vezes que a troika aligeirasse as metas do défice, como a dívida pública está a crescer de forma explosiva, como o desemprego está fora de controlo e a economia caminha depressivamente no seu terceiro ano de recessão, sem se vislumbrar quando se inverterá a tendência.

Pedro Passos Coelho veio dizer que não fora o chumbo do TC aos cortes dos subsídios de férias dos funcionários públicos e dos pensionistas, que representam um aumento de 0,8% do défice,  e esta história acabaria da melhor maneira.

Esqueceu-se de dizer que, por exemplo, em 2012, a derrapagem foi três vezes superior a esses 0,8 e decorreu exclusivamente de um orçamento elaborado em bases irrealistas e numa enorme falta de conhecimento da economia portuguesa.

Esqueceu-se ainda de dizer que o Executivo persistiu no erro e que o orçamento deste ano foi elaborado com base numa recessão de 1%, para três meses depois de ter entrado em funcionamento o Governo já admitir uma recessão de 2,3%.

Passos Coelho quer aparentemente que, em situação de emergência nacional, seja suspensa a Constituição. Lamento. O Presidente da República disse há poucos meses ao Expresso que a Constituição não estava suspensa. E foi o próprio Presidente que pediu a verificação da constitucionalidade de alguns artigos do orçamento. Não foi o TC que tomou essa iniciativa.

O que esta decisão do TC põe diretamente em causa é o facto do Governo se estar a preparar, há muito, para acabar definitivamente com os subsídios de férias dos funcionários públicos e pensionistas.

Mas não é este aumento de 0,8% no défice deste ano que põe em perigo o ajustamento económico do país. É a receita que tem sido seguida que levou a estes resultados catastróficos, mesmo que Pedro Passos Coelho tente reescrever a história e vender-nos uma versão diferente.

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