Jornal de Negócios
- Lusa
O co-fundador da
RDP África David Borges acusou na terça-feira a comunicação social portuguesa
de ligar "muito pouco" à realidade africana, uma lacuna
"grave" que o aumento de capitais angolanos no mercado nacional pode
vir a resolver.
No debate
"Media em África -- Contributos para a Democratização da
Comunicação", que na terça-feira decorreu em Lisboa, o antigo director e
co-fundador da RDP África disse ver com bons olhos a entrada de capitais
angolanos no mercado nacional, desde que haja "um grande fundo de
honestidade nessas operações". "Não tenho nada contra a Angola estar
a comprar em Portugal e Portugal poder comprar em Angola", afirmou.
Isto porque,
defendeu o actual comentador da SIC, a entrada desses capitais pode
"resolver lacunas muito graves", designadamente o facto de
"África rigorosamente não aparecer nos órgãos de comunicação social em
Portugal".
"Aparece
quando há um problema, quando há uma guerra na Guiné-Bissau, uma cheia em
Moçambique, ou quando porventura houver um golpe de Estado em Angola",
exemplificou durante o debate, que teve lugar na sede da Comunidade dos Países
de Língua Portuguesa. De resto "África não acontece em Portugal, e isto
apesar de a Agência Lusa e a RTP e RDP África terem jornalistas em quase todos
os países africanos", sustentou David Borges. "Mas o trabalho dessas
pessoas é canalizado exclusivamente para os guetos comunicacionais que são a
RTP e RDP África", criticou.
Nesse sentido, o
jornalista considerou que "os investimentos angolanos trazem a vantagem de
colocar notícias africanas na comunicação social portuguesa" e ao mesmo
tempo "melhoram a realidade dos órgãos de comunicação em Angola". "Depende
depois é do grupo empresarial, se defende honestamente ou não a existência de
um órgão autónomo e em que os jornalistas têm todo o poder para decidir os seus
conteúdos", ressalvou.
Já José Arantes,
antigo governante e actual responsável da divisão de Relações Internacionais da
RTP, afirmou que o "realmente conta é a forma como a comunicação social se
comporta, não a e titularidade de capital".
O responsável da
RTP disse ter "suficiente confiança" nas instituições portuguesas
"para que, independente da titularidade", os órgãos de comunicação
social sigam "sempre princípios de isenção, pluralidade e
independência".
Arantes considerou
ainda o "interesse estrangeiro" um "factor positivo", que
revela que há vontade de investir na comunicação social portuguesa" e se
apresenta como "uma oportunidade de recapitalizar alguns órgãos de
comunicação".
Outro tema focado
no debate foi a importância que as rádios comunitárias têm em vários países
lusófonos como a Guiné-Bissau, tendo a jornalista e investigadora Patrícia Mota
Paula defendido uma "maior aposta" nesses projectos.
A investigadora
sustentou que essas rádios são "meios de comunicação privilegiados",
não apenas devido a sua proximidade, como também pelas suas funções que vão
"desde a extensão do sistema educativo à difusão das campanhas de saúde
pública, da aprendizagem ao desenvolvimento da participação democrática e ao
reforço da cidadania".
1 comentário:
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