Celso Lungaretti - Consciência.net
- 20 de junho de 2013
A tomada da
Bastilha foi um episódio de enorme importância simbólica, por ter exposto
dramaticamente a fragilidade de uma monarquia que caía de podre mas os
franceses, por hábito, continuavam temendo; daí o 14 de julho haver se tornado
o principal feriado da nação.
Seu resultado
prático, contudo, foi apenas a libertação dos sete últimos prisioneiros que
nela restavam e a obtenção de um arsenal sucateado (de 15 canhões, apenas três
funcionavam…).
Da mesma forma, o
que nossos indignados acabam de conseguir não foi somente
a revogação, em poucas capitais, de mais um reajuste de tarifas do transporte
coletivo. Na verdade, eles despertaram um gigante adormecido: o povo
brasileiro.
A chegada ao poder
do partido que se propunha a representar os explorados teve o efeito nocivo de
os desmobilizar; passaram a crer que lhes seria dado de mão beijada o que
tinham, isto sim, de conquistar com os punhos cerrados.
Quando o PT se
vergou ao poder econômico para conseguir governar, endireitando e
domesticando-se a olhos vistos, o povo ficou órfão e, pior ainda, desiludido e
descrente de sua força.
Limitava-se a
resmungar contra a corrupção, contra a inflação, contra as maracutaias da Copa,
contra o sucateamento da Saúde e da Educação, contra o caos nos transportes,
contra a vida mal vivida e a noite mal dormida…
Em São Paulo, a
bestialidade de um governo cujos efetivos policiais permanecem
mentalmente ancorados na ditadura militar despertava reações frouxas,
quase irrelevantes face à gravidade de episódios como a ocupação militar da USP
e a barbárie no Pinheirinho.
No entanto, a força
da opinião pública é bem maior que a dos brutamontes fardados; foi o que se
constatou, primeiramente, em 2011, quando uma tentativa de proibição da Marcha
da Maconha acabou em recuo, face à péssima repercussão da blitzkrieg
que a PM desencadeou em plena avenida Paulista.
O fenômeno se
repetiu na semana passada: quando são escancarados ao País –e ao mundo– os
métodos corriqueiros das nossas polícias democráticas, a batalha pelos
corações e mentes está ganha. Só sádicos e psicopatas conseguem presenciar
aquelas agressões covardes sem se revoltarem.
E, desta vez, o
exemplo de luta de São Paulo inspirou iniciativas semelhantes em várias outras
cidades, que trouxeram à tona demandas reprimidas há mais de uma década e
flagraram uma insatisfação generalizada com os governantes do País.
Foi um divisor de
águas: nada será como antes amanhã. A passividade e a prostração terminaram. As
cobranças começaram. Novos contingentes revolucionários estão sendo forjados na
luta, para um dia oferecerem uma verdadeira solução às carências e aflições do
nosso povo.
Desde que sejam
pacientes na acumulação de forças e perspicazes na escolha do momento para cada
batalha, não tentando acelerar artificialmente os acontecimentos e
precavendo-se sempre contra a ação nefasta dos provocadores infiltrados.
Saques e
depredações são tudo de que não precisamos neste momento mágico de retomada em
larga escala das lutas sociais.
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