Deutsche Welle
Edward Snowden
escolheu Hong Kong como refúgio, mas território assinou com Washington um
tratado de entrega de suspeitos de crimes. Risco de intervenção de Pequim
ameaça gerar imbróglio entre chineses e americanos.
Ao escolher Hong
Kong como refúgio, o técnico de computação Edward Snowden, que se diz
responsável por revelar o largo esquema de espionagem do governo americano na
internet, pode ter conseguido adiar sua extradição, mas não evitá-la. A
situação ameaça criar um imbróglio – e com possíveis implicações também para as
relações entre China e Estados Unidos.
Em 1996, um ano
antes de ser devolvida à China, Hong Kong, então colônia britânica, assinou um
tratado de extradição com os EUA que permite a troca de suspeitos de cometerem
crimes. E especialistas apostam que Snowden terá dificuldades para driblar o
acordo caso o governo americano realmente decida processá-lo e solicitar sua
extradição.
"Hong Kong não
vai colocar em risco sua relação com os EUA por causar de Snowden. E poucas
pessoas já descobriram ter influência para persuadir outro país a mudar de rumo
por sua causa", disse à agência de notícias Reuters o advogado americano
Robert Anello, que já lidou com vários processos de extradição.
A questão, no
entanto, pode se tornar ainda mais complicada. Hong Kong tem significativa
autonomia em relação ao resto da China, mas é de Pequim a responsabilidade por
questões de defesa e política externa. E uma lei do território prevê que a
China pode emitir uma "instrução" determinando se Hong Kong deve
acatar ou não o pedido de extradição.
A intervenção se
justificaria no caso de os interesses chineses em questões de defesa ou
assuntos internacionais estejam significativamente ameaçados. Os EUA, por outro
lado, já disseram que tratarão do assunto diretamente com Hong Kong.
“Todos os casos
serão tratados de acordo com as leis de Hong Kong”, disse o governo americano,
em breve comunicado.
Vigilância em larga
escala
Edward Snowden, de
29 anos, revelou no domingo (09/06) ser o homem que fugiu com documentos
secretos da Agência Nacional de Segurança dos EUA do Havaí para Hong Kong,
entregando-os em seguida à imprensa.
O ex-funcionário da
CIA (agência de inteligência americana), que mais recentemente trabalhava no
serviço de monitoramento da NSA, fez a revelação em entrevista ao jornal
britânico Guardian. Ele afirmou que o objetivo das revelações foi tornar
público o excesso de controle por parte do governo americano.
Até agora, no
entanto, Snowden ainda não teria entrado com pedido de asilo. Segundo o
repórter do Guardian, que o entrevistou num hotel em Hong Kong, ele também
não teria entrado em contato com o governo dos EUA e com as autoridades de Hong
Kong. Snowden declarou que, nos últimos quatro anos, trabalhou como funcionário
de empresas externas para a NSA.
De acordo com os
documentos revelados pelo técnico de computação, os EUA praticaram o
monitoramento em grande escala dos dados de usuários de internet de serviços
como Google, Facebook, Microsoft, Apple e Yahoo. Esse programa de monitoramento
leva o nome "Prism".
Ao jornal
britânico, Snowden declarou que não quer viver num mundo onde "tudo que
faz e fala é gravado".
"A NSA montou
uma infraestrutura que lhe permite captar quase tudo", afirmou.
"Quando eu queria interceptar o e-mail ou o telefone de sua esposa, eu só
precisava pedir os dados interceptados. Eu posso conseguir e-mail, senhas,
dados de conversas, informações sobre cartões de crédito", disse Snowden
ao repórter do Guardian.
Pressão republicana
De acordo com
Snowden, ele trabalhou primeiramente como assistente técnico na CIA e depois
passou a atuar na NSA, que é especializada na vigilância de infraestrutura de
comunicação, como funcionário de várias companhias externas, como a empresa de
assessoria Booz Alllen Hamilton e a fabricante de computadores Dell.
Booz Allen
confirmou que Snowden era um funcionário alocado no Havaí – por menos de três
meses. A empresa distanciou-se de Snowden, afirmando que os relatos sobre a
revelação de segredos seriam "chocantes" e uma "violação dos
valores fundamentais da empresa."
A princípio, a Casa
Branca não quis fazer nenhum comentário. Em declaração, o escritório do diretor
dos serviços secretos dos EUA, James Clapper, explicou na noite de domingo que
"Prism" não seria nenhum programa secreto de coleta ou interceptação
de dados. "É um sistema interno de computação do governo". O programa
permitiria apoiar a coleta de informações de esclarecimento no exterior.
O escritório de
Clapper afirmou que o Departamento de Justiça já teria sido acionado e que os
serviços secretos já estariam avaliando os prejuízos provocados pelas
revelações. "Qualquer pessoa com acesso a documentos secretos sabe que tem
a obrigação de proteger informações confidenciais e respeitar as leis
vigentes", diz o comunicado.
Em Washington, as
primeiras vozes já se levantaram pedindo a extradição de Edward Snowden. O
republicano Peter King, membro da Comissão de Serviço Secreto da Câmara dos
Representantes, exigiu que fossem tomados os primeiros passos para a
transferência de Snowden para os Estados Unidos. Além disso, ele também pediu
"uma ação penal com a maior dureza da lei", caso as investigações
correntes confirmem Snowden como o informante.
CA/dpa/afp
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