Público
O militar americano
que passou documentos confidenciais à WikiLeaks sobre as guerras no Iraque e no
Afeganistão não está livre de ser condenado a prisão perpétua.
Bradley E. Manning,
o soldado norte-americano acusado de ter passado à WikiLeaks centenas de
milhares de documentos confidenciais sobre as guerras no Iraque e no
Afeganistão, começa a ser julgado esta segunda-feira e já sabe que vai ser
condenado.
Depois de se ter
dado como culpado de dez das 22 acusações iniciais, a questão agora é saber se
o tribunal irá condená-lo por crimes mais graves, como auxílio ao inimigo, o
que poderia valer a este jovem de 25 anos um resto de vida passado na cadeia.
Centenas de pessoas
aguardam o início do julgamento nas proximidades do Fort George G. Meade, no
estado Maryland, e gritam em defesa do homem que consideram heróinas
proximidades – as imagens transmitidas pelas televisões mostram mesmo apelos à
atribuição do Nobel da Paz a Bradley
Manning.
Mas não é preciso
esperar pela decisão do tribunal militar para avaliar as implicações deste
caso. O resumo foi feito pelo próprio Manning, numa das audições preliminares,
a 28 de Fevereiro. “Acreditei que se o público, em particular o público
americano, tivesse acesso à informação, isso poderia dar início a um debate
sobre o papel dos militares e das nossa política externa em geral.”
O soldado franzino
que nasceu na pequena localidade de Crescent, no estado do Oklahoma, tornou-se
na bandeira de milhões de activistas pela paz em todo o mundo, mas os cerca de
250.000 telegramas do Departamento de Estado norte-americano e os 500.000
documentos das Forças Armadas que entregou à WikiLeaks fizeram dele também um
alvo dos responsáveis pela segurança dos Estados Unidos.
“O soldado Manning
foi treinado para recolher informações sensíveis, e usou esse treino para pôr
em causa a nossa confiança, para prejudicar sistemática e indiscriminadamente
os Estados Unidos em tempo de guerra”, acusou o capitão do Exército Ashden
Fein, numa das audições preliminares. No caso Estados Unidos vs. Bradley
Manning, a acusação já fez saber que vai apresentar provas de que os documentos
entregues pelo soldado à Wikileaks foram vistos por Osama bin Laden.
Ao longo do
julgamento, que deverá prolongar-se por três meses, até inícios de Setembro,
deverão ser ouvidas 150 testemunhas. Para que Manning seja condenado por
auxílio ao inimigo – um crime que, segundo a lei norte-americana, pode levar a
uma condenação à morte, embora a acusação já tenha afirmado que não pedirá essa
pena em caso algum –, terá de ser provado em tribunal que o soldado sabia que
os documentos em causa iriam ser vistos por membros da Al-Qaeda ou outros
inimigos dos Estados Unidos.
Bradley Manning
argumenta que agiu de acordo com um imperativo moral – o de expor “negociações
clandestinas documentadas e outras actividades aparentemente criminosas”. Na
declaração que proferiu em tribunal no dia 28 de Fevereiro, falou na “sede de
sangue” de soldados norte-americanos, que “se congratulavam mutuamente pela
capacidade de matar muitas pessoas”.
Foto: Centenas de
apoiantes de Manning pedem a sua libertação junto ao Fort George G. Meade, em
Maryland NICHOLAS KAMM/AFP
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