Verdade (mz)
editorial
Na leitura do
informe sobre o Estado da Nação, o Presidente da República falou sobre um país
que caminha célere rumo ao progresso. Armando Guebuza explicou que os recursos
naturais não geram riqueza imediata. Na altura ficámos com a impressão de que o
Presidente vive num mundo à parte ou fecha os olhos aos reiais problemas do
país.
O argumento usado
para rebater os dados estatísticos que dizem que empobrecemos e que somos o
quarto pior país do mundo veio pronto: “Vocês não conhecem o país real”, atiram
alguns papagaios atentos que andam pelo país graças aos nossos impostos.
Em discursos
floreados falaram-nos de um país que progride, mas que os nossos olhos,
centrados na capital do país e nas capitais provinciais, não enxergavam. Cruzamos
os braços e resignamo-nos diante da nossa incapacidade de palmilhar o país
profundo. No entanto, as deslocações dos nossos repórteres ao país real, aquele
que desconhecíamos e, por isso, não tínhamos autorização para dele falar,
revelaram que o país realmente cresceu, mas deixaram claro que a pobreza, essa,
é uma mancha cada vez maior sobre os moçambicanos.
No entanto, nesse
mesmo país real desconhecem- -se direitos. Ou seja, a culpa da ausência de
medicamentos não se cinge, para os residentes desses locais onde a informação
passa de olhos vendados, às más políticas do Governo do dia. A inexistência de
um posto de saúde é um problema do próprio povo que, em período eleitoral,
agradece como se de um bênção se tratasse a capulana ou camiseta com o rosto de
um político qualquer que lhe impingem. A construção de uma escola não é, para
estes residentes, uma obrigação do Governo.
Neste país ninguém
lê manifestos ou cobra promessas. Aqui não se exige nada. Aliás, a única coisa
que os residentes destas parcelas do país pedem é chuva para irrigar os campos.
Vivem literalmente do que a terra dá. O resto pouco importa porque não serve
para semear. O servidor público, aqui neste país, não é ninguém se não trouxer
algo que sirva para distrair estes cidadãos que desconhecem direitos.
O Estado da Nação
continuará bom enquanto estes cidadãos não perceberem que os seus direitos não
têm de ser ditados pela natureza. Quando eles compreenderem que uma escola não
significa uma caridade de um senhor todo- poderoso de 4x4 ou de helicóptero.
A greve dos
médicos, dos madgermanes e dos desmobilizados de guerra provam que o índice de
cidadania continua a crescer nos espaços onde a informação corre célere e
desgarrada. Mas lá no país onde o Facebook não chegou é que é preciso implantar
a cidadania.
Não adianta semear
a revolta aqui se nos outros espaços o voto pode ser comprado com um capulana
ou com a imponência de um homem que desce dos céus. Portanto, não é preciso que
o Estado da Nação seja mau para que os moçambicanos acordem. É preciso que eles
acordem para que o Estado da Nação represente um perigo para o futuro de quem
lhe tornou um desastre...
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