Daniel Ribeiro,
correspondente em Paris - Expresso
Depois de entregar
em Paris um prémio da UNESCO a François Hollande, Mário Soares disse ao
Expresso que Passos Coelho "só pensa em números e cifrões".
A concorrida cerimónia de entrega do prémio Félix Houphouët-Boigny a François
Hollande, ontem, na sede da UNESCO, em Paris, começou mal para Mário Soares mas
acabou por terminar bem.
Na sala repleta e
sentado ao lado de sete Presidentes africanos, o ex-Presidente português ouviu
elogios do chefe do Estado francês, que disse: "Sinto-me muito orgulhoso
por receber este prémio das mãos de Mário Soares, um amigo e sobretudo um homem
que consagrou toda a sua vida à luta pela democracia e pela
descolonização".
Antes, Soares
também o saudara, na tribuna, com ênfase: "Excelentíssimo Presidente,
querido camarada e amigo, o senhor é uma pessoa que eu admiro desde há muitos
anos, conhecemo-nos no tempo do nosso tão saudoso amigo François
Mitterrand".
Numa parte
improvisada do discurso, Mário Soares disse também que, "como português e
anticolonialista", tinha grande esperança no papel de François Hollande
para ajudar a União Europeia a sair da crise. Mais tarde, explicaria ao
Expresso: "Acredito em Hollande porque ele é socialista e europeísta e vai
contribuir para salvar a zona euro e a União Europeia".
"Sabotagem!"
À saída da sessão,
Mário Soares estava visivelmente satisfeito. No entanto, horas antes as coisas
correram mal para Mário Soares, que quase não conseguia entrar na sede UNESCO
para presidir à cerimónia e, como presidente do júri do prémio, entregar a
recompensa a Hollande.
Vindo de carro, do
Eliseu, onde almoçara com o chefe do Estado francês e os sete Presidentes
africanos, foi encaminhado pela segurança do evento para uma porta lateral da
sede da Organização das Nações Unidas para a Educação e a Ciência, onde
centenas de pessoas se amontoavam para entrar, sem êxito, nas instalações, na
altura já lotadas.
Mário Soares
protestava enfurecido e teve de aguardar largos minutos para que os polícias
lhe permitissem voltar a entrar no carro e chegar à porta principal, por onde
entravam as personalidades. "Isto é uma sabotagem, há aqui pessoas,
polícias de extrema-direita, que querem boicotar esta cerimónia!",
exclamava para o Expresso. Muito irritado, acabou por entrar em cima da hora do
início da sessão!
"Hollande pode
dizer à Merkel: olhe o que eu fiz! "
No fim da
cerimónia, o ex-Presidente português já estava totalmente calmo. "Foi uma
muito boa sessão, François Hollande fez um grande discurso e pode mostrar a
Angela Merkel que tem força, que os africanos gostam dele, que até o
recompensam, e pode mesmo ir dizer à Merkel: 'Olhe o que eu fiz pela África!'.
Ele tem razão em usar este prémio prestigiado, porque a Merkel não fez nada
pela paz no Mali, não fez nem faz nada pela África nem por ninguém!",
disse ao Expresso.
Mário Soares
considera que François Hollande "faz o que pode". "Ele tem tido
dificuldades porque a direita e a extrema-direita o contestam imenso, porque
estes querem recuperar o poder!".
"Seria bom que
o António Costa também falasse contra o Passos..."
Muito combativo, a
referência dos socialistas portugueses atacou duramente, nas declarações ao
Expresso, o atual primeiro-ministro português: "Passos Coelho é um
negociante e é um sócio permanente do Relvas, apenas pensa em números e
cifrões".
Quando Soares soube
que o presidente da Câmara de Lisboa e seu camarada socialista, António Costa,
estava igualmente em Paris, ontem, para o lançamento de um festival cultural
português, exclamou: "Seria bom que ele também falasse contra o
Passos!"
Desde a morte do
ex-Presidente francês François Miterrand, em 1996, ontem foi a primeira vez que
Mário Soares voltou a entrar no Palácio do Eliseu. O prémio Houphouët-Boigny
foi entregue a François Hollande pela sua "alta contribuição para a paz e
a estabilidade em África", designadamente devido à intervenção militar francesa
no Mali, ainda atualmente em curso.
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