Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
Mesmo não tendo
recomendado swaps ruinosos na Refer, a secretária de Estado não podia
desconhecê-los
A razão política
manda dizer que a secretária de Estado do Tesouro deveria ter sido dispensada
pelo ministro das Finanças, pelo primeiro-ministro, ou então ter chegado por si
própria à conclusão de que não tem condições objectivas para se manter no
governo. É certo que pôs o lugar à
disposição e foi confirmada, mas disso a demitir-se vai uma distância abissal.
Houve secretários
de Estado que foram fulminados por ter subscrito swaps ditos tóxicos. Houve
gestores e directores que levaram pela mesma medida, mas há outros que se
mantêm em funções por resistência passiva ou contemporização do governo, que
aparenta ter dois pesos e duas medidas.
Maria Luís
Albuquerque era uma das responsáveis financeiras da Refer, empresa que
subscreveu um tipo de swaps em geral apresentados como não tóxicos, seja lá
isso o que for. A história recente retém até que tem sido a secretária de
Estado a liderar a operação de negociação com a banca para minorar as perdas do
Estado alguns milhões. Diz-se ainda que foi por sua iniciativa que houve um
inquérito aos swaps.
Muito bem, mas não
chega. Pelo seu perfil técnico e pelas funções na Refer, a governante Maria
Luís Albuquerque não podia deixar de conhecer a existência de contratos
tóxicos. Todavia, em dois anos não fez nada, até ao momento, além de pedir um
inquérito tardio. Pecou em parte por omissão e ter posto o lugar à disposição
não a redime. As operações constavam dos balanços das empresas e havia que
analisá-los com rigor, sobretudo por quem tivesse obrigação de estar atento à
situação. Essa circunstância específica da secretária de Estado fragiliza-a a ela
e ao governo no seu todo.
A questão dos swaps
vai durar. Em cada conta do Estado, em cada Orçamento, em cada debate
parlamentar sobre economia, ela virá ao de cima gerando confusão, desconfiança
e tensão política. Nessas circunstâncias melhor seria retirar também este
elemento do elenco governativo, até para que o assunto possa ser discutido e
tratado de uma forma mais serena, contribuindo assim para o efectivo
esclarecimento dos martirizados contribuintes.
Nos últimos dias
multiplicam-se notícias de negociações favoráveis ao Estado que minimizariam os
prejuízos causados pelos swaps. A seu tempo se verá se é assim ou se é apenas a
conjuntura favorável do momento que cria essa ilusão. Imagine-se que dentro de
dois anos os juros sobem para valores de 2007. Bastaria isso para alterar todas
as premissas de análise do assunto.
Outra coisa a
esclarecer é a relação entre a contratação do JP Morgan para assessorar a
privatização dos CTT e o acordo a que se chegou com esse banco precisamente
sobre esses produtos financeiros a que as empresas do Estado iam recorrendo
para acudir a dificuldades de tesouraria. Aguardemos, mas com poucas
expectativas, que se esclareça
cabalmente como foi possível passar de uma situação para outra em tempo
recorde. Ele há cada uma?
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