Luís Rainho –
Jornal i, opinião
Cavaco Silva
enganou-nos bem. A mumificação afinal era calculada e a paralisia medricas
escondia a hesitação teatral do comediante circense (ou lá como se chama). O
homem, assim de repente, lá nos surpreendeu. Mas só mesmo por culpa nossa.
Bastava a recordação daquela crise caricata em torno do estatuto dos Açores
para entendermos a mola que faz com que a criatura de quando em vez se mova: o
orgulho ferido. Há uns anos, Cavaco deixou o país suspenso de uma importante
comunicação, que na volta versou apenas uma ínfima perda de território
presidencial. Mas suficiente para desencadear um ataquito dos grandes.
Agora devíamos ter
prestado mais atenção ao episódio em que a cavacal figura surgiu nas pantalhas
a comentar, de queixo professoral bem esticado, a imaginária fortaleza
parlamentar do governo, quando na realidade este já se esboroava ante a vaidade
de Paulo Portas. Uma figura ridícula, de verdadeiro truão (ou lá como se
chama).
Imagino a ira, os
perdigotos furibundos. Ele tão empenhado na defesa dos seus meninos e estes
entretidos a urinar sobre os pés da sua augusta estátua. A vingança, para ficar
gravada nas parangonas dos tablóides e nos livros vindouros, tinha de ser
tremenda: caiam calduços sobre o governo, sobre o PS e sobre a desprezada
Esquerda, a leste de convites e de dignos arcos.
Agora, eis-nos
perdidos num labirinto de conversações estéreis, de enviados e mirones, de
jogos florais que só servem para adubar o ego do presidente. Ou lá como se
chama aquilo.
Publicitário - Escreve
à quarta-feira
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