Miguel Pacheco –
Dinheiro Vivo, editorial
Cavaco já não
confia em Passos. Nem em Portas. Vê na radicalidade de Seguro um sinal de
irresponsabilidade e das roturas que ainda aí vêm
Querem um acordo
PSD-CDS-PS? Esqueçam a ARTV, mudem para a BBC. O salvador que Cavaco quer é
conservador e inglês: George Osborne. Há duas semanas, o ministro das Finanças
britânico e número dois de David Cameron, deu uma ideia do que devia ser um
acordo de governo. Sem exageros, só compromissos.
Apesar de só ter
eleições em maio de 2015, Osborne propôs que o planeamento financeiro
para esse ano e 2016 fosse feito já. Não precisava, ninguém o obrigava, mas
sugeriu na mesma. O plano de Osborne - que o centro-esquerda também assinou - é
simples: gastem no que quiserem, mas só no que puderem. Podem transferir massa
entre departamentos, adaptá-la, fazer o pino com as prioridades políticas - só
não podem é furar os tetos combinados. Com um compromisso a três anos,
Osborne quis garantir uma estabilidade nominal para a despesa, acautelar
dívida, colar conservadores, liberais, trabalhistas. Conseguiu porque não fez
planos para a reforma do Estado, nem entrou em exageros ideológicos que
matariam qualquer denominador comum para o acordo.
Por cá, ainda
estamos longe disso. Apesar da boa vontade aparente, nada apaga os disparates
dos últimos meses, consolidados pela fúria de Belém esta semana. Cavaco já
não confia em Passos. Nem em Portas. Vê na radicalidade de Seguro um sinal de
irresponsabilidade do PS. E pensa nas ruturas a prazo quando os partidos não se
entendem nem numa base mínima.
Percebendo que o
país vai a caminho de um programa cautelar, Cavaco precipitou um acordo. Pensou
em Osborne mas exagerou na dose. O discurso de quarta está cheio de
atropelos políticos, arrepios a um governo eleito e atestados de
incompetência. Para chegar a um acordo mínimo, Belém destruiu um sistema,
ridicularizou partidos, alienou outros. Esticou politicamente um acordo,
exagerou nos pastéis, fragilizou Belém. Cavaco podia ser Osborne. Mas,
irritado, preferiu ser Cavaco.
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