segunda-feira, 15 de julho de 2013

Portugal: PASTÉIS A MAIS EM BELÉM



Miguel Pacheco – Dinheiro Vivo, editorial

Cavaco já não confia em Passos. Nem em Portas. Vê na radicalidade de Seguro um sinal de irresponsabilidade e das roturas que ainda aí vêm

Querem um acordo PSD-CDS-PS? Esqueçam a ARTV, mudem para a BBC. O salvador que Cavaco quer é conservador e inglês: George Osborne. Há duas semanas, o ministro das Finanças britânico e número dois de David Cameron, deu uma ideia do que devia ser um acordo de governo. Sem exageros, só compromissos.

Apesar de só ter eleições em maio de 2015,  Osborne propôs que o planeamento financeiro para esse ano e 2016 fosse feito já. Não precisava, ninguém o obrigava, mas sugeriu na mesma. O plano de Osborne - que o centro-esquerda também assinou - é simples: gastem no que quiserem, mas só no que puderem. Podem transferir massa entre departamentos, adaptá-la, fazer o pino com as prioridades políticas - só não podem é furar os tetos combinados. Com um compromisso a três anos, Osborne quis garantir uma estabilidade nominal para a despesa, acautelar dívida, colar conservadores, liberais, trabalhistas. Conseguiu porque não fez planos para a reforma do Estado, nem entrou em exageros ideológicos que matariam qualquer denominador comum para o acordo.

Por cá, ainda estamos longe disso. Apesar da boa vontade aparente, nada apaga os disparates dos últimos meses, consolidados pela fúria de Belém esta semana. Cavaco já não confia em Passos. Nem em Portas. Vê na radicalidade de Seguro um sinal de irresponsabilidade do PS. E pensa nas ruturas a prazo quando os partidos não se entendem nem numa base mínima.

Percebendo que o país vai a caminho de um programa cautelar, Cavaco precipitou um acordo. Pensou em Osborne mas exagerou na dose. O discurso de quarta  está cheio de atropelos políticos, arrepios a um governo eleito e atestados de incompetência. Para chegar a um acordo mínimo, Belém destruiu um sistema, ridicularizou partidos, alienou outros. Esticou politicamente um acordo, exagerou nos pastéis, fragilizou Belém. Cavaco podia ser Osborne. Mas, irritado, preferiu ser Cavaco. 

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