Jornal de Angola,
editorial
Um diplomata dos
EUA ao serviço do Africom fez uma afirmação marcante: julguem-nos pelo que
fazemos e não pelo que dizem de nós. Em política, o preconceito reduz a
capacidade de análise, subalterniza a inteligência e adultera a realidade.
Por isso, não
podemos estar mais de acordo, porque os angolanos sofrem na pele, mais do que
nenhum outro povo, devido a julgamentos errados. Os nossos julgadores
habitualmente olham apenas para o que dizem de nós e não para o que somos e
fazemos.
A dimensão dos que julgam pelo que ouvem dizer de nós é insignificante. Mas os resultados dos seus julgamentos errados são devastadores. Basta ter em conta a longa guerra que fomos obrigados a travar pela dignidade, pela soberania e pela integridade territorial. Não vamos reportar-nos a factos da Idade da Pedra, mas apenas a 1961, quando o Presidente Kennedy pressionou Salazar a desencadear o processo da Independência Nacional. A voz do petróleo falou mais alto. Mais tarde o ditador de Lisboa calou Washington com uma concessão à Cabinda Gulf Oil.
A dimensão dos que julgam pelo que ouvem dizer de nós é insignificante. Mas os resultados dos seus julgamentos errados são devastadores. Basta ter em conta a longa guerra que fomos obrigados a travar pela dignidade, pela soberania e pela integridade territorial. Não vamos reportar-nos a factos da Idade da Pedra, mas apenas a 1961, quando o Presidente Kennedy pressionou Salazar a desencadear o processo da Independência Nacional. A voz do petróleo falou mais alto. Mais tarde o ditador de Lisboa calou Washington com uma concessão à Cabinda Gulf Oil.
Desde então passámos a ser julgados pelo que a propaganda diz de nós e não pelo que somos e fazemos. Os angolanos foram o pilar mais sólido da liberdade e da democracia na África Austral. A guerra que enfrentámos conduziu à libertação do Zimbabwe, Namíbia e África do Sul. Neste aspecto ninguém fez mais do que nós. Ninguém foi mais abnegado. Ninguém sofreu mais, nem os próprios povos subjugados aos ditames desumanos do apartheid.
O Presidente José Eduardo dos Santos era em 1979 um dos poucos membros do Bureau Político do MPLA com um curso superior e com experiência de comando numa vasta região político-militar. Por isso, era dos poucos que podia suceder a Agostinho Neto. Quando os seus pares o escolheram estava consumada uma sucessão lógica e natural. Mas não foi nem é isso que se diz.
O nosso Presidente nunca teve um minuto de descanso. Vestiu o camuflado e comandou a resistência aos invasores estrangeiros. Gastou nestas acções patrióticas todos os anos que vão de 1979 ao Acordo de Bicesse, em 1991. Quando se apresentou às eleições em1992 era um político experimentado, um dirigente com provas dadas, um vencedor. Como não era isso que diziam de nós, a retumbante vitória eleitoral de José Eduardo dos Santos e do MPLA foi julgada de uma forma errada. Mais uma tragédia causada pelos julgadores apressados: a chamada guerra pós eleitoral.
A propaganda dizia que o MPLA ia perder, que José Eduardo dos Santos estava no fim. Mas quem passou mais de uma década a lutar pela soberania e a dignidade de um povo nunca está acabado, pelo contrário, tem o lugar no coração dos eleitores que os resultados revelaram.
Em África não existe Primavera. Já não existia na natureza, agora está provado que não “pegou” também na política. Basta ver os exemplos da Tunísia, Egipto e Líbia, três países africanos julgados pelo que diziam deles e não pelo que eram. Mais julgamentos errados que redundaram em tragédias humanitárias que estão longe do fim. E a primeira vítima dessas “Primaveras” foi a democracia. Se forem capazes de julgar os angolanos pelo que fazem e não pelo que dizem de nós, vão perceber que em Angola não “pegou” a Primavera Árabe e muito menos vai fazer ninho uma Primavera Bantu, reclamada por quem não é capaz de aceitar a legitimidade do voto popular, nem compreende que a fase de transição acabou com a aprovação da Constituição da República em vigor desde 2010.
Julguem o poder político em Angola pelo que faz e não pelo que a propaganda diz dos que foram eleitos com mais de 70 por cento dos votos nas últimas eleições. Quem ganhou as eleições pode ser criticado, pode ser confrontado com outras ideias e outros projectos vencedores.
A oposição, mesmo a que se abriga nas proximidades do partido que ganhou as eleições com uma maioria qualificada, pode reclamar a demissão do Presidente da República e do Executivo. Mas isso só é legítimo se as instituições democráticas não estiverem a funcionar.
Nada disso acontece. As instituições democráticas funcionam em pleno, os Direitos e Liberdades são sagrados e por isso garantidos, a economia cresce a níveis que são dos mais elevados do mundo, todos os dias são criados milhares de postos de trabalho, o Estado responde a cada vez mais necessidades das comunidades, a Assembleia Nacional funciona em pleno, os Tribunais estão a chegar aos municípios, num esforço gigantesco de formação de magistrados, o que não é fácil. A educação, saúde e habitação melhoraram muito.
O poder em Angola está legitimado pelo voto popular e continua a merecer a confiança dos eleitores, que sabem julgar os que elegeram pelo que fazem e não pelo que dizem deles. Era bom que países que são nossos parceiros fossem capazes de se libertar dos preconceitos e deixarem de nos julgar pelo que dizem de nós. Quanto mais não seja por uma questão de inteligência.
Sem comentários:
Enviar um comentário