“Pôr em causa o
euro é a única atitude politicamente sensata”
Ana Sá Lopes –
Jornal i, opinião
A Alemanha tem todo
o interesse em manter a zona euro em lume brando
Um deputado
social-democrata alemão, Joachim Poss, perguntou ao Ministério das Finanças
local quanto a Alemanha tinha lucrado com a crise do euro. A resposta do
ministério liderado por Wolfgang Schäuble é objectiva: todas as hesitações
sobre o euro e o afundamento dos países do Sul permitiram à Alemanha arrecadar
41 mil milhões de euros. O ganho veio de uma forma simples: enquanto os juros
da dívida disparavam nos países em perigo, os investidores refugiavam-se na
velha Alemanha, a economia mais forte e sólida da zona euro. Em muitas
ocasiões, a Alemanha conseguiu vender dívida a juros negativos – ou seja, os
investidores pagavam à Alemanha para os deixar investir as suas poupanças nos
cofres seguros de Berlim. Afinal, desmentindo toda a propaganda sobre os custos
para o contribuinte alemão com a “ajuda” aos países em dificuldades –
propaganda não só veiculada na Alemanha como, qual síndrome de Estocolmo,
absorvida pelos representantes da europaranóia dominante em cada país europeu,
incluindo o nosso – a crise do euro ajudou a Alemanha a encher os cofres. Foi
uma espécie de euromilhões em que o jackpot saiu sistematicamente ao mesmo
apostador. A crise do euro afinal só custou à Alemanha 599 milhões de euros e o
país de Merkel desistiu de se endividar mais 73 mil milhões de euros, como
tinha inicialmente previsto o Ministério das Finanças.
Enquanto isto, a
dívida pública portuguesa conseguiu ontem novo recorde: chegou aos 130% do PIB,
mais uma vez acima do esperado pelos técnicos que elaboraram o fantástico plano
que iria acabar com os nossos problemas de endividamento excessivo. A sétima
avaliação da troika previa que a dívida pública não iria exceder os 122,9% no
fim de 2013.
É por isso natural
que a Alemanha tenha todo o interesse em manter a zona euro em lume brando e
nem se importe de anunciar em plena campanha eleitoral o terceiro resgate à
Grécia, declaração que indignou os gregos mas que, como disse Angela Merkel,
toda a gente já sabia que ia acontecer. O pior que podia acontecer à Alemanha
em campanha seria uma rebelião dos países do Sul contra as políticas europeias
ditadas em Berlim – e o risco do fim do euro, que acabava com a alegria alemã
num ápice. Mas o Sul encontra-se apático, venerador, obrigado, exausto, e vive
como os ingleses no tempo do Blitz: acorda todos os dias sem saber se lhe cai
uma bomba em casa à noite. Pôr em causa o euro é a única atitude politicamente
sensata.
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