Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
Foi mais uma semana
para o governo esquecer e óptima para Seguro capitalizar sem abrir a boca
Uma coisa é certa:
desde a saída de Miguel Relvas, alegando uma falha anímica, Passos Coelho
enredou-se numa sucessão de problemas.
Quem pensava que a saída iria ajudar a coligação enganou-se redondamente, como aqui se tinha previsto. Surgiram até variadíssimas crises, começando na saída bombástica de Vítor Gaspar, passando pelo quase colapso gerado por Paulo Portas, até aos casos Maria Luís Albuquerque e, agora, Pais Jorge.
E o facto é que em nenhum momento a área política, protagonizada por Poiares Maduro e Pedro Lomba, cujo acolhimento pelo PSD foi frio e, pelo CDS, indiferente, conseguiu uma estratégia que minorasse os danos. Pelo contrário.
Para não ir mais longe, basta olhar para os últimos dias. Os briefings são
tiros no pé. Uma vezes há e outras não. Quando há, é quase garantido que dão
raia. Não se percebe, entretanto, porque é que o primeiro-ministro apareceu
inopinadamente na quinta-feira para presidir à reunião plenária semanal do
governo. Não se percebe porque é que não houve comunicado final. Não se percebe
porque é que Paulo Portas, afinal, não presidiu aos trabalhos. Não se percebe
porque é que Miguel Macedo teve de vir a público explicar que estava a ser
difícil fazer o Orçamento depois de se saber que a reunião durou 11 horas. Não
se percebe também a estratégia de atirar o problema dos swaps para o campo do
PS, quando já se viu que também aterra sempre no PSD, desde que Albuquerque
quis fazer do tema uma arma de arremesso. Tudo isto eram problemas evitáveis.
Guerras de contra-informação à volta de documentos alegadamente forjados.
Denúncias de que assessores do ex-primeiro-ministro e do actual líder do PS
tinham recebido vendedores de swaps remetem para assuntos acessórios e sem
dignidade, dando azo a respostas que bloqueiam qualquer hipótese de estabelecer
o diálogo que Cavaco Silva acha essencial e distanciam ainda mais o cidadão
comum da classe política no seu todo.
Passos Coelho tem, neste momento, um governo melhor nas áreas técnicas e pior
no campo político. É um contra-senso, até porque pessoas como Moreira da Silva
e Marques Guedes têm uma experiência, uma qualidade e uma maturidade que
poderiam evitar os problemas em que o governo se tem enredado.
Para vingar, o executivo tem de marcar a agenda e não ir a reboque da
actualidade, fazendo avançar os ministros mais sólidos para o terreno (para
além dos já citados, há Pires de Lima, Paulo Macedo, Miguel Macedo, Teixeira da
Cruz e Mota Soares), a fim de retirar o enfoque do Ministério das Finanças,
onde Albuquerque continua fragilizada, mesmo com a saída de Pais Jorge.
Aproveitando o Verão e o abrandamento da época, os estrategos governamentais deveriam arrefecer os seus ímpetos, guardando as energias para as questões substanciais.
O facto é que situações como as dos últimos dias são do melhor para a oposição.
Esta semana, sem sequer aparecer, António José Seguro só ganhou. Capitalizou
fazendo-se de morto, como em tempos Guterres aconselhou a Marcelo Rebelo de
Sousa e este não quis, acabando por não chegar a primeiro-ministro. Já o actual
secretário-geral do PS parece estar atento à lição.
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