Pedro Tadeu – Diário de Notícias, opinião
Maria Luís
Albuquerque protagoniza um velho problema moral da política portuguesa? Sim. A
tradição a que me refiro não está, porém, na mentira que ela terá dito numa
Comissão Parlamentar de Inquérito (aparte: peço desculpa, mas não vou escrever,
hipocritamente, frases como "ter faltado à verdade" com que os
políticos e os analistas bem comportados, cínica e politicamente corretos, têm
descrito este problema).
Uma hipotética nova
questão dos casos swap não é, com certeza, a de uma mentira dita por um
governante em sede institucional: em 39 anos de democracia não é esta a
primeira vez que os deputados são enganados nestes inquéritos. Mas será a
primeira vez que uma ministra das Finanças é apanhada a mentir durante esse
ritual solene.
Isso é, de facto,
novo, mas não modifica o problema moral em si: quem mente de forma oficial aos
representantes do povo não pode exercer funções oficiais em representação desse
povo. Há muito que esta relação está apreendida e o resultado lógico e coerente
desse entendimento seria a decorrente demissão de Maria Luís, exigida pelos
partidos de oposição.
O que é novo, do
ponto de vista moral, vem agora: não fosse este caso suscitado numa altura em
que os dirigentes do País hipotecaram a sua própria conduta ao que entendem ser
a satisfação das necessidades da crise e, obviamente, a senhora ministra já não
o era. Este falso estado de guerra desculpa tudo, como verificámos nas últimas
semanas. Aquilo que antes da crise era condenável passou agora a ser um serviço
prestado ao País... Os governantes perderam a vergonha e as consequências serão
desastrosas para o regime.
Voltemos ao que é
velho, ao que motivou esta crónica: o tradicional problema moral da política
portuguesa, que se revela, mais uma vez, com as swap e, antes, se evidenciara
com as PPP, o BPN, a traficância política de empregos em empresas públicas e,
até, privadas, certas gestões de certas empresas públicas e municipais e
inúmeras outras tropelias. Estes escândalos ocorrem sempre pelos mesmos dois
motivos - pessoal político que quer gastar dinheiro sem ser democraticamente
controlado e pessoal financeiro sempre disposto a criar condições para isso,
garantindo, no final da linha, proveitos anormais, pagos pelos contribuintes.
Este sim é o velho problema
moral: a política que se verga ao dinheiro. Melhor do que discutir na
Assembleia da República a moral da ministra Maria Luís seria debater a forma de
pôr um fim a esta promiscuidade que, em última análise, criou a crise onde
todos sofremos. Mas, por aí, haveria muito moralista que sairia a perder.
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