Macau, China, 29
ago (Lusa) - As Zonas Especiais de Timor-Leste deverão possuir autonomia
executiva, administrativa e financeira idêntica a Macau, defendeu o antigo
primeiro-ministro timorense Mari Alkatiri, responsável pelo projeto em nome do
Governo de Díli.
"Estas novas
zonas, que irão começar em Oecussi, mas que no futuro poderão também ser
aplicadas em ilhas como Ataúro ou Lautem, terão de ter uma autoridade política,
uma assembleia e um orçamento, de forma a cumprirem a sua missão 'especial' no
interior de um país, como acontece com Macau na China, que tem ainda a
autonomia judicial", disse Alkatiri em declarações à agência Lusa.
Mari Alkatiri está
em Macau para promover as zonas especiais timorenses, mas também para outros
projetos mais imediatos como, entre outros, a refinação de petróleo na costa
sul ou as indústrias de Baucau, onde um consórcio sino-australiano vai investir
350 milhões de dólares na produção de cimento que empregará a prazo 3.000
pessoas.
O responsável
timorense disse à Lusa querer "arrancar com o projeto de Oecussi em
2014", porque é necessário criar infraestruturas para atrair investimento.
"No dia 15 de
setembro inauguramos o novo porto que deverá servir nos próximos cinco anos e
espero que tenhamos até ao final do ano pronta toda a legislação reguladora das
novas zonas especiais para que em 2014 sejam iniciados os trabalhos da nova
cidade em Oecussi", disse.
Mari Alkatiri
adiantou que, primeiro, é necessário realojar parte da população atual dos
70.000 habitantes dos 815 quilómetros quadrados de Oecussi para se iniciar a
construção da nova cidade, que terá de ser acompanhada de infraestruturas como
saneamento, energia, escolas e hospitais internacionais.
"Para atrair
investimento internacional temos de oferecer condições de educação, saúde e até
de circulação", razão pela qual está também prevista a construção de um
aeroporto.
Numa primeira fase,
em Oecussi, Mari Alkatiri preconiza a instalação de indústria ligada à
agricultura, pecuária e pescas, setores fundamentais, para, mais tarde, pensar
noutros serviços como o turismo e indústrias extrativas.
"A pesca é
artesanal e tem um caminho a percorrer para ser potenciada, a agricultura pode
ser base de cooperação com a Indonésia na área do café para que ganhe
quantidade suficiente para ser polo fornecedor e a pecuária tem um potencial de
crescimento pela venda para a Indonésia", disse.
Com um investimento
de cinco mil milhões de dólares (3,76 milhões de euros) até 2030, o projeto
contará com um terço de investimento público e dois terços de privados, numa
aposta que tem de ter vários parceiros para potenciar o crescimento, defendeu.
"Queremos
criar as condições para que estas zonas sejam um polo de desenvolvimento na
sub-região e, mais tarde, da região onde estão inseridas", disse,
recordando que a zona indonésia adjacente às zonas especiais pensadas para
Oecussi, Ataúro e Lautem são remotas para aquele país e podem também beneficiar
desse desenvolvimento.
No futuro, e
visando a região asiática, Mari Alkatiri não esconde que Timor-Leste, com as
suas regiões especiais, poderá ser "um entreposto comercial" para os
países de expressão portuguesa que ficam distantes e podem beneficiar da
posição estratégica de Timor-Leste.
Mas não é apenas a
componente comercial ou industrial que Alkatiri defende, já que preconiza para
Oecussi o primeiro Centro de Estudos de Mudanças Climáticas, que obrigará, como
para o restante desenvolvimento e projetos, a "importação de massa crítica
externa".
"Temos de
abrir as portas, temos de chamar pessoas que ajudem ao desenvolvimento e formem
locais numa formação em trabalho ativo", sustentou.
Instado a comentar
a situação política de Timor-Leste, a estabilidade política necessária para
atrair investidores e o seu envolvimento num projeto a pedido do Governo que
não integra, Mari Alkatiri rematou que, como, garante, faz o povo: "as
vacas e os búfalos pastam juntos, mas à noite cada um volta para o seu
curral".
É que, acrescentou,
"no processo de construção do país há que, na diferença, apostar no
desenvolvimento da nação".
JCS // MLL – Lusa
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