Verdade (mz) - Editorial
Ao abrirmos as
páginas do Notícias – o jornal oficioso – deparamos com uma realidade
aterradora: o órgão de informação mais antigo do país anunciou que irá publicar
uma série de reportagens alusivas ao final dos dez anos de governação de
Armando Emílio Guebuza. Curiosamente, a ideia do jornal que conheceu mudanças
ao nível de direcção e que por coincidência abre, desde então, com as
actividades do Presidente da República, irá abordar “grandes projectos que
despontaram ao longo de dois mandatos (...) e que contribuíram para a melhoria
da vida dos moçambicanos”. A pergunta que não quer calar e que, como dizia
Azagaia, explode na garganta é a seguinte: e os pontos negativos da governação?
Como, por razões
óbvias, o Notícias não falará das páginas negras da governação de Guebuza,
@Verdade ocupar-se-á dessa missão. O primeiro aspecto nefasto da liderança
actual do país é, como o próprio Notícias faz questão de nos demonstrar, a
glorificação excessiva do Presidente da República. A reversão de Cahora Bassa e
a ponte que leva o seu nome, no maior rio do país, são de facto grandes
conquistas. Mas importa reafirmar que a reversão da barragem não significa mais
energia e nem sequer mais alimento para a população que vive ao seu redor.
Os sete milhões que
também são apontados como um grande marco impulsionaram a vida dos membros da
Frelimo. Ou seja, o pré-requisito para aceder aos fundos de desenvolvimento
local é ser membro da Frelimo. A nacionalidade, neste aspecto, é um mero
artifício acessório. Isso deve ser vincado no mandato de Guebuza. Em dez anos
tornou-se mais importante habitar no país Frelimo do que na pátria que dá pelo
nome de Moçambique.
O nível de
genuflexão e endeusamento da figura do Presidente da República representam uma
grande mancha na sua governação. Há, portanto, mais papagaios do que nunca e a
imprensa que vive dos nossos impostos está na dianteira deste processo
asqueroso e repugnante que visa lamber despudoradamente as partes íntimas da
governação.
As ditas
Presidências Abertas e Inclusivas significaram sempre, é bom que se diga, a
expressão máxima da teatralização da nossa auto-estima. Os distritos lavam o
rosto para receber um Presidente que grita do palanque improvisado que o país
está a progredir enquanto debaixo do verniz da mentira o povo míngua.
Guebuza há-de ser
sempre o Presidente das convulsões sociais. Será lembrado ao final de dez anos
como o mais alto magistrado da Nação que viu a sua filha virar milionário do
dia para a noite. Isso ninguém irá esquecer. E na folha de deméritos da governação
de Guebuza ainda temos de colocar em letras garrafais o aborto que foi a
Revolução Verde.
O golpe teatral da
cesta básica e a mentira do arroz de terceira qualidade. Um termo inventado no
Ministério da Indústria e Comércio. Os especialistas do ramo de produção deste
cereal nunca ouviram falar sobre tal classe de arroz. Guebuza também é o
Presidente da caos no sector da Saúde e do saque flagrante de madeira nas
nossas florestas.
Não adianta polir o
Presidente e endeusar a sua figura. A verdade é como o azeite e sempre virá ao
de cima. Guebuza será julgado também pelos seus erros. Nisso a história é
infalível.
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