António Fernando Nabais - Aventar
Os
animais nunca deixaram de falar. Na verdade, estou ansioso por ouvir uma
história que comece por “No tempo em que os animais se calaram…”, porque já
falaram muito mais do que deviam.
Devo dizer que
gosto muito de animais, porque, como se costuma dizer nas revistas femininas,
se eu não gostar de mim, quem gostará? Para além disso, tenho por eles um
enorme respeito e é por isso que acredito que não devem estar fechados em
jaulas ou dirigir governos de países: enjaulados, são infelizes; governando,
atacam os seres humanos.
Nem sempre é fácil
distinguir onde começa o animal e acaba o homem, mas este, tal como o imagino,
não se rege pela lei da selva e procura viver numa sociedade em que os mais
fracos são protegidos. Infelizmente, quando o homem é um animal político,
revela uma triste tendência para confirmar Plauto, quando dizia que o “homem é
lobo do homem”. Justiça seja feita a José Sócrates, que admitiu ser um animal
feroz.
Por esta altura do
ano, em Castelo de Vide, há como que uma transumância que junta jovens animais
políticos. O objectivo é aprender a caçar com os mais velhos.
Poiares, por
exemplo, revelou-se um predador maduro e explicou que é preciso roer os ossos dos pensionistas. Os jovens laranjinhas
estarão, agora, preparados para perpetuar a espécie, continuando a contribuir
para a extinção dos mais fracos, necessária ao sucesso da alcateia.
Já antes tinha
feito referência ao carácter enganador do apelido do primeiro-ministro. Depois
do que disse em Castelo de Vide, percebi que a mutação de Coelho é
mais grave: quem quer ser lobo tem de vestir a pele de porco.
Não estou a
recorrer à metáfora, que o
dicionário é suficiente: de acordo com uma das acepções, porco é aquele
“tem comportamento considerado obsceno ou sem pudor”. Poderá haver homem mais
despudorado do que aquele que, depois de faltar ao que prometeu e depois de reincidir no
incumprimento da lei, culpa os juízes ou finge preocupar-se com o desemprego
que, afinal, ajudou a criar? Na selva de que o lobo nunca saiu e na pocilga em
que chafurda o porco, o juiz é uma excrescência, porque faz lembrar demasiado
as conquistas da humanidade e é sabido que os animais têm medo dos homens.
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Aventar
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