A segurança e a paz
em África foi tema central da recente cimeira que reuniu em Paris países
africanos e a França.
Jornal de Angola,
editorial
Foram tomadas
decisões sobre como o continente pode superar situações de crise que afectam
alguns Estados. As situações de crise têm a ver com a instabilidade política
como a que foi geradora de massacres na República Centro Africana, de que
resultou a morte de 300 pessoas. A tragédia do Ruanda está ainda viva na
memória dos dirigentes africanos, que discutiram em profundidade com a França
as soluções para que o continente africano esteja dotado de estruturas e
efectivos militares capazes de neutralizar casos que possam resultar em
desagregação de Estados africanos afectados por conflitos internos.
Os comunicados oficiais nada referem sobre a destruição da Líbia e o assassinato do Presidente Khadafi numa guerra de agressão liderada pela OTAN mas entusiasticamente apoiada pela França e outras potências ocidentais que se manifestam preocupadas com a paz em África. Países africanos e França vão nos próximos tempos mobilizar recursos para a formação de uma força de reacção rápida em África, composta por africanos, a fim de participar em operações de paz no continente. Os Estados africanos não querem que se repitam situações idênticas às que ocorreram em vários países africanos, como a Costa do Marfim, a Líbia, o Mali e mais recentemente a República Centro Africana.
A demora na reacção a conflitos armados ou a potenciais conflitos pode ser causadora de muito sofrimento entre as populações civis. É necessário actuar com oportunidade e eficiência para resolver conflitos mas também para preveni-los. O mundo dispensa os que fomentam esses conflitos, armam uma das partes para depois ocuparem esses países militarmente porque a parte vencedora está a cometer graves atentados contra os direitos humanos. A União Africana tem uma grande responsabilidade na busca de soluções para que no continente haja estabilidade e paz. E ainda bem que conta para esta missão com o apoio dos países africanos que estiveram em França na cimeira. Mas também é importante que as potências ocidentais parem de fomentar guerras contra os países africanos para depois se apresentarem como “pacificadores” quando foram elas que lançaram os conflitos. Além da reacção rápida às crises no continente é necessário cuidar da consolidação das instituições democráticas, para assegurar uma permanente normalidade constitucional.
A vulnerabilidade das instituições de certos Estados em África é aproveitada sem hesitações pelas potências ocidentais, que instrumentalizam grupos de aventureiros extremamente violentos e nalguns casos fortemente armados para levar a cabo operações sistemáticas de destabilização. A sinceridade e a cooperação das potências ocidentais é mais importante do que treinar militares ou fornecer material bélico. Se a partir de agora cessarem as actividades subversivas que criam instabilidade e conflitos armados que depois justificam intervenções militares “a pedido”, será dado um importante passo em frente na estabilidade e na paz em África. Os grupos que em África criam o caos e apostam na desagregação dos Estados, inviabilizando a acção das autoridades legítimas, não são de geração espontânea. Alguns têm os seus escritórios nas grandes capitais europeias. E de lá reivindicam ataques terroristas, como aconteceu no CAN Angola 2010, quando em Paris o dirigente de um desses grupos anunciou que a sua organização tinha atacado a tiro a caravana desportiva do Togo e jornalistas angolanos, causando mortos e feridos inocentes. É preciso que os Estados africanos tenham forças armadas com capacidade operacional para lutar internamente contra forças que promovem a violência, pondo em causa a segurança das populações e o processo de desenvolvimento do continente. É importante combinar as acções da força de reacção rápida que se pretende criar com o aumento da capacidade operacional dos exércitos africanos, que precisam de ser reestruturados e bem equipados. A soberania dos Estados africanos deve ser defendida sobretudo pelos próprios Estados africanos. Individualmente, se isso for possível, ou no quadro de uma força africana, cuja capacidade operacional deve ter um efeito dissuasor, a fim de que os inimigos do continente que promovem a destruição e a insegurança não continuem a adiar o sonho de África de se tornar num continente próspero. Há sim inimigos jurados, dentro e fora do continente, que não deixam África atingir níveis elevados de crescimento económico e que tenha instituições sólidas.
Esses inimigos de África surgem do nada, mas os seus mentores estão bem identificados. Sem qualquer projecto de sociedade e incapazes de viver em regimes democráticos, os grupos armados que desestabilizam alguns Estados em África são intolerantes e optam pelo terrorismo. A cimeira França-África só tem realmente sucesso se as potências ocidentais deixarem de apoiar esses grupos. A participação de um elevado número de países africanos na cimeira de Paris diz bem da vontade dos dirigentes africanos de superarem rapidamente situações de crise no continente, estando dispostos a lutar juntos e incansavelmente pela paz e estabilidade definitivas em África. Oxalá do lado europeu exista a mesma vontade.
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