Benjamim Formigo –
Jornal de Angola, opinião
A China deu na
semana passada um novo passo em frente para estabelecer a sua influência
militar na região e acentuar a disputa com o Japão sobre um grupo de pequenas
ilhas desabitadas, anexadas pelo Japão imperial no final do século XIX, e ao
mesmo tempo sugerir o preenchimento do aparente vazio da presença dos Estados
Unidos, preocupados com as suas questões internas.
Pequim decidiu
alargar o espaço aéreo não só para uma zona internacional, exigindo que o seu
sobrevoo seja antecedido de um plano de voo submetido e aprovado pela
autoridade chinesa. Este alargamento unilateral do espaço aéreo veio
sobrepor-se ao espaço aéreo de segurança definido por Tóquio. A reacção
norte-americana não tardou, com o envio de dois bombardeiros estratégicos B-52,
baseados em Guam, que atravessaram essa zona aérea, no Leste do Mar da China.
Os Estados Unidos, que reduziram a sua presença militar na região, passando de uma presença activa para uma reacção passiva, com o posicionamento de equipamento e reducção de efectivos e custos, recusam reconhecer o controlo pretendido por Pequim, não só porque permite à China abrir os braços, o que é visto como uma ameaça pelos aliados dos EUA e pode coarctar a liberdade de movimentos norte-americanos na zona, como abre um precedente para que Pequim tome idêntica iniciativa no Sul do Mar da China, abrangendo disputas territoriais que se estendem até perto das Filipinas.
Barack Obama não tem ainda consolidada a sua equipa de consultores de segurança para a região, tendo-se preocupado mais, até agora, com a redução das despesas militares, desequilibradas pela continuada presença no Afeganistão e os acordos comerciais com a Ásia. A resposta imediata esteve nas mãos de secretário da Defesa, Chuck Hagel, enquanto a Casa Branca recusava a medida chinesa. A retracção militar dos EUA tem sido alvo de criticas domésticas, mas também dos seus aliados e parceiros regionais.
Uma série de incidentes, desde 2001, entre aviões americanos e chineses ou barcos chineses e a Marinha japonesa e filipina, pode agravar-se com a declaração unilateral de Pequim. De um lado o novel Presidente chinês, Xi Jinping, que prometeu uma política externa mais activa e o reconhecimento da importância política da China, do outro o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, um nacionalista pouco disposto a compromissos com a China. Barack Obama arrisca-se assim a ser arrastado para uma disputa territorial que seguramente está integrada na decisão de Pequim em esticar os ombros e alargar a sua zona de segurança aérea.
As companhias de aviação, designadamente as japonesas e as norte-americanas, que cruzam aquela rota ficam perante uma de três possibilidades: alterar a rota e voar fora da zona aérea agora decretada pelos chineses e não reconhecida, correr riscos e entrar na zona sem fazer aprovar um plano de voo ou aceitar o controlo de Pequim e submeter um plano de voo. Os japoneses começaram de imediato por submeter planos de voo, tendo sido desencorajados de o fazer pelo seu Governo, que recusa qualquer atitude que possa, directa ou indirectamente, sugerir a aceitação do controlo chinês. As companhias americanas foram aconselhadas a submeter planos de voo enquanto civis, mas para contrariar qualquer noção de reconhecimento os militares decidiram continuar a entrar na zona, estando já anunciada a preparação de “exercícios de rotina” na zona.
O facto é que a China dispõe de meios de controlo que permitem alertar para a entrada de qualquer aeronave, o que, segundo militares chineses, desencadeia de imediato o alerta do sistema de misseis terra-ar do país. Acresce que para a China este esticar de ombros e abrir de braços é um primeiro passo no reconhecimento internacional da sua importância como potência global. O seu desenvolvimento industrial e a consequente necessidade de petróleo colocam também a necessidade de proteger as suas rotas marítimas em oceanos tradicionalmente sob controlo dos Estados Unidos, para não falar na travessia de zonas de risco, como ao largo da Somália, patrulhada por uma força internacional, ou a passagem ao largo das costas da Índia, com quem também tem disputas territoriais e que dispõe de uma das maiores marinhas do mundo e cuja máquina militar se reforça constantemente. A atitude de Pequim não é forçosamente necessária em termos defensivos, mas um marcar de posição política na região. O risco mais imediato está na volatilidade dos incidentes frequentes que ocorrem na região, onde todos parecem querer marcar posição e os Estados Unidos têm também interesses estratégicos negligenciados pela actual Administração.
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