Martinho Júnior,
Luanda
1 – Na hora do passamento físico de Nelson Mandela, os povos de África, muito em particular os dos países que compuseram a Linha da Frente e o povo cubano, expressam as mais legítimas expressões de respeito e de dor, irmanados e solidários para com o povo e o estado sul-africano!
De todas as mensagens, as produzidas pelos Chefes de Estado como o de Angola e de Cuba em nome dos respectivos povos, destacam-se por serem sem dúvida das mais legítimas, sublinhando a identidade comum entre a revolução cubana e o movimento de libertação em África no âmbito dos resgates que se sucedem, em nome da dignidade que foi negada durante as trevas da escravatura, do colonialismo, do fascismo e do racismo institucionalizado!
Angola, Cuba e Moçambique destacam-se do cinismo de tantos e emergem nesta hora de luto com a autoridade ética e moral sobre os demais, pois com a ajuda dos países socialistas e dos Não Alinhados, foram aqueles que, integrando o pelotão dos combatentes da liberdade, tornaram possível o resgate de África das mãos de um dos regimes mais retrógrados e obscurantistas que alguma vez existiu à face da Terra!
Face a face, agora, em relação a conjunturas capitalistas neo liberais, são ainda os países que compuseram a Linha da Frente e Cuba que são autênticos nos seus sentimentos, no seu internacionalismo libertador e na solidariedade que tanto se precisa para se vencerem tantos obstáculos que há ainda de ultrapassar em função do subdesenvolvimento crónico que advém do passado!
A Revolução Cubana “saldaba la deuda histórica con los 300 mil esclavos que fueron llevados por la fuerza a nuestro país desde África”!
2 – Durante décadas os combatentes da liberdade de África que cerravam fileiras no movimento de libertação, eram tidos pelos regimes retrógrados e pelo império, como “terroristas”: Amilcar Cabral, Eduardo Mondlane, Samora Machel e Agostinho Neto eram os “terroristas” do espaço lusófono e Nelson Mandela um dos assim considerados no espaço anglófono.
Pelos poderes alinhados ao império e seus sequazes, foram assassinados três desses quatro líderes africanos: Eduardo Mondlane, Amilcar Cabral e Samora Machel!
O próprio Nelson Mandela foi preso pelo “apartheid” em função das informações de inteligência prestadas pela CIA norte americana!
Fidel de Castro entretanto tornou-se no líder mundial em relação ao qual mais tentativas de assassinato sofreu por parte dos instrumentos repressivos e de inteligência do império!
Nada mesmo assim os demoveu da saga da libertação dos povos e em benefício de todos e de toda a humanidade!
Quantos não pagaram como os três líderes africanos do movimento de libertação, o preço mais alto para que os resgates se tornassem possíveis, para que Nelson Mandela tivesse a oportunidade de personalizar, em nome dos combatentes da liberdade e do seu próprio povo, o fim do “apartheid institucional” feito estado opressor, instrumento dos processos mais brutais do elitismo global!?...
3 – Enquanto assim classificavam os combatentes da liberdade de África, o império tal como os estados retrógrados e vassalos (entre eles Portugal e a África do Sul do regime do “apartheid”), consideravam aqueles que lhes eram alinhados conforme ao “diktat” de Ronald Regan: “freedom fighters”!
Em estreita ligação a Savimbi, dilecto “freedom fughter” de Ronald Reagan, estiveram “socialistas” como Mário Soares e seu filho João Soares, “caixas de ressonância” de determinado tipo de alinhamentos (“remember” Frank Charles Carlucci)!... os diamantes, mesmo quando eles foram considerados “de sangue”, falavam mais alto!
Ainda hoje essas entidades têm muita dificuldade em se libertarem desse passado de trevas, pois não conseguem ultrapassar a psicologia do rancor que lhes parece marcar toda a vida!
Em África avaliaram-se bem os “fronts” e nas conjunturas de então percebia-se bem o que era retrógrado e avesso ao progresso dos povos, do que fazia parte do imenso resgate que havia de se realizar em nome da humanidade!
Para África a liberdade foi um parto difícil e ensanguentado e para Angola como para Cuba, como para Moçambique, a quota parte dos sacrifícios foi “sem limites”!... por isso se tornou possível Nelson Mandela símbolo da luta contra o “apartheid institucional”… tão bem aproveitado hoje pelos expedientes de manipulação globais neo liberais!...
4 – Em plena globalização neo liberal, os povos africanos herdeiros do movimento de libertação, conjuntamente com a solidariedade cubana assumida desde as horas mais difíceis e decisivas, têm uma imensa responsabilidade histórica no presente e no futuro, em função do passado.
O império tem usado todo o tipo de argumentos e de manipulações para tornar impossível o sonho dos povos africanos a cerrarem fileiras na luta contra o subdesenvolvimento que redunda dos pesadelos de mais de cinco séculos!
As independências nunca o serão se forem só de bandeira, como nunca o serão se o poder estiver concentrado em elites que não dêem seguimento aos resgates que todos sem excepção aspiram realizar.
Nunca será por via da lógica capitalista que os objectivos maiores da harmonia, do equilíbrio e da justiça social, do respeito pela humanidade e pela Mãe terra, da democracia e da paz serão alcançados!
A saúde e a educação são duas das pedras angulares desses resgates: erradicar o analfabetismo e encontrar padões de saúde condignos são dois dos maiores desafios do presente e para isso necessário se torna equilíbrio, justiça social, socialismo e respeito para com o homem e a natureza!
A longa batlha pela saúde e a educação está longe de ser ganha, mas a influência neo liberal quantas vezes monta artificiosos obstáculos para que essa trilha possa avançar com mais celeridade, consistência e dignidade!
5 – Muitos dos “activistas-fantoches” contemporâneos são avessos à lógica com sentido de vida que advém do movimento de libertação e reflectem procedimentos típicos, formatados como foram os procedimentos dos “freedom fighters” de Ronald Reagan e dos estados vassalos conformados ao império tutelar da “civilização ocidental”!
Confundiram-se antes esses “freedom fighters” com os “dirigentes” dos bantustões propagados dentro e fora da África do Sul pelo “apartheid” institucional feito estado e pelo império (basta recordar o papel de Mobutu), como se confundem agora os “activistas-fantoches” com os que têm estimulado as “revoluções coloridas” e as “primaveras árabes” de mais recente data, explorando o êxito do fim do socialismo real na Europa e a implosão da URSS!
O emparceiramento dessas novas “luzes da ribalta” cuja energia reflecte o poder, os interesses e as conveniências da hegemonia a que se agarra o império, envolve como não podia deixar de ser, “socialistas” como Mário e João Soares!
O poder hegemónico dos mais poderosos da Terra, os 1% que captaram em seu proveito o grosso das riquezas do planeta, instrumentalizaram o império tornando-o reitor dos obstáculos que estão a ser semeados no caminho daqueles que pretendem continuar os resgates que se impõem a partir das heranças do passado em proveito comum!
Para isso não se cansam de utilizar todo o tipo de fundamentalismos ideológicos que antes foram estimulados no “laboratório” dos “freedom fighters”: as mesmas receitas, a mesma psicologia, a mesma intenção de sempre, como se suas mentes retrógradas não conseguissem superar os traumas do passado!
6 – As fronteiras começam de novo a tornar-se nítidas entre o que estimulam os procedimentos retrógrados e os que lutam com visão progresista em prol dum verdadeiro renascimento africano!
Os esforços dos porgressistas perante o enorme campo de manobra do império que se senta hoje à mesa connosco, têm de ser redobrados:
A cidadania e a participação alargada de âmbito sócio-político devem assumir-se reduzindo o estigma da representatividade, por que só assim se evitará o “apartheid social” fruto da lógica capitalista imposta correntemente por via neo liberal pelo império!
África precisa de em paz, aprofundando a democracia, estabelecendo cada vez mais equilíbrios e consensos sócio-políticos, realizar os resgates do subdesenvolvimento e são aqueles que dão seguimento às mais legítimas apirações do movimento de libertação, os que se podem tornar nos mais lúcidos personagens perante os obstáculos e os desafios, por que se poderão assumir plenamente identificados com os seus respectivos povos e a sua trajectória histórica!
A obra de Nelson Mandela que ficou incompleta e se tornou tão ténue com a sua presença no poder inaugurando a nova África do Sul está aí!
A luta continua e sobre as elites esclarecidas a responsabilidade é maior que nunca: há que romper caminho com tenacidade, paciência, persistência, humildade, solidariedade e amor para construir paz com socialismo numa Terra esgotada que em muitos lugares foi atirada para o beco sem saída do subdesenvolvimento e da miséria, senão da guerra e da morte!
As elites sê-lo-ão apenas e quando compreenderem que os povos se devem assumir como os verdadeiros actores das imensas tarefas que há ainda por realizar em benefício de todos, pela dignidade de África!
No fundo, são os povos e só eles que podem ser os verdadeiros artífices dos resgates contemporâneos!
Mapa: Mapa da riqueza com o PIB distribuído à população.
A consultar:
- Cuba rendió homenaje a Mandela en ONU – http://www.cubadebate.cu/?p=261877
- Mensagem integral do Chefe de Estado Angolano pelo passamento físico de Mandela – http://www.portalangop.co.ao/angola/pt_pt/noticias/politica/2013/11/49/Presidente-Jose-Eduardo-dos-Santos-considera-Nelson-Mandela-simbolo-Luta-Libertacao-completa-Africa,f7160f06-fb6e-4df2-b9e0-4a78e15f50ca.html
- Mensagem do povo e do governo cubanos pela morte de Nelson Mandela – http://www.granma.cu/portugues/cuba-p/6diciembre-50mensaje.html
- Resgates com sentido de vida – I – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/11/resgates-com-sentido-de-vida-i.html; II – http://paginaglobal.blogspot.com/2013/11/resgates-com-sentido-de-vida-ii.html
1 comentário:
Palabras de Raúl en Johannesburgo: “Rendimos emocionado tributo a Nelson Mandela”
Presidente Jacob Zuma:
Familiares de Nelson Mandela:
Altos Dignatarios:
Hermano pueblo de Sudáfrica:
Rendimos emocionado tributo a Nelson Mandela, a quien se reconoce como símbolo supremo de dignidad y de consagración inclaudicable a la lucha revolucionaria por la libertad y la justicia; como un profeta de la unidad, la reconciliación y la paz.
Junto a sus compañeros de lucha, dirigió a su pueblo en la batalla contra el apartheid, para abrir el camino hacia una nueva Sudáfrica, no racial y unida en la búsqueda de la felicidad, la igualdad y el bienestar de todos sus hijos, para superar las secuelas del colonialismo, la esclavitud y la segregación racial.
Ejemplo de integridad y perseverancia, encabezó luego el esfuerzo dirigido a la eliminación de la pobreza, la reducción de la desigualdad y la creación de oportunidades para todos.
Mandela es un ejemplo insuperable para América Latina y el Caribe, que avanzan hacia la unidad e integración, en beneficio de sus pueblos, respetuosos de su diversidad, con la convicción de que el diálogo y la cooperación son el camino para la solución de las diferencias y la convivencia civilizada de quienes piensan distinto.
La Humanidad no podrá responder a los colosales desafíos que amenazan su propia existencia, si no lo hace mediante una nueva concertación de esfuerzos entre todas las naciones, como la vida de Mandela preconiza.
Cuba, que lleva en sus venas sangre africana, surgió en la lucha por la independencia y por la abolición de la esclavitud y, posteriormente, ha tenido el privilegio de combatir y construir junto a las naciones africanas.
Jamás olvidaremos el emocionado homenaje de Mandela a nuestra lucha común, cuando nos visitó, el 26 de julio de 1991, y dijo: “el pueblo cubano ocupa un lugar especial en el corazón de los pueblos de África”.
Recuerdo su entrañable amistad con Fidel Castro, símbolo de la hermandad entre africanos y cubanos, quien expresó:
“Nelson Mandela no pasará a la historia por los 27 años consecutivos que vivió allí encarcelado sin ceder jamás en sus ideas; pasará porque fue capaz de arrancar de su alma todo el veneno que pudo crear tan injusto castigo; por la generosidad y la sabiduría con que en la hora de la victoria ya incontenible supo dirigir tan brillantemente a su abnegado y heroico pueblo, conociendo que la nueva Sudáfrica no podría jamás construirse sobre cimientos de odio y de venganza”.
¡Honor y gloria eternas a Nelson Mandela y al heroico pueblo de Sudáfrica!
Muchas gracias.
http://www.cubadebate.cu/opinion/2013/12/10/palabras-de-raul-en-johannesburgo-rendimos-emocionado-tributo-al-hermano-nelson-mandela/
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