segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

SOMOS TODOS ALEMÃES E ISTO VAI ACABAR MAL

 

Ana Sá Lopes - jornal i, opinião
 
Schulz não fará melhor do que o nosso Durão com esta correlação de forças
 
O acordo Merkel-SPD para a grande coligação na Alemanha tem uma coisa boa – a começar na instituição de 8,5 euros de salário mínimo à hora. É bom que os alemães tenham mais dinheiro disponível para gastar, o que só vai favorecer a sua própria economia como pode dar uma ajuda às nossas exportações e às de outros países europeus em crise.

Mas, com a excepção do salário mínimo, o acordo de coligação é uma vitória em toda a linha de Angela Merkel e das suas políticas europeias. A total ausência de mudança de rumo nas políticas europeias que ficou instituída no acordo de coligação é mais uma machadada na social-democracia europeia. Afinal, para que serve aos outros europeus que exista uma coligação na Alemanha com os sociais-democratas se esses sociais-democratas não servem para nada no que às políticas europeias diz respeito?
 
O falhanço da Europa não é um falhanço apenas da “senhora Merkel” e do liberalismo que resgata bancos (e nunca pessoas). Esse liberalismo foi penalizado durante 15 dias após o colapso do Lehman Brothers mas rapidamente voltou ao seu lugar de comando da política europeia. A social-democracia, que tinha uma oportunidade de ouro para se impor depois da crise de 2008, ficou apática. Afinal, com a Terceira Via, já se tinha passado para o outro lado e estava confortavelmente instalada no sistema liberal. O que estamos a assistir por estes dias é ao desaparecimento de uma das forças fundadoras da Europa. A tragédia Hollande tinha sido antecedida pelo acordo dos socialistas e sociais-democratas ao pacto orçamental – com imensos socialistas em toda a Europa e muitos por aqui a defenderem que o défice zero devia ser inscrito na Constituição.
 
Recentemente, na TVI, Paulo Rangel chamava a atenção para o acordo que está subjacente à possível eleição do social-democrata alemão Martin Schulz para a presidência da Comissão Europeia. Os discursos e os textos de Schulz são interessantes e parecem consistentes com a possibilidade de uma alternativa. Mas Schulz vai a votos com o patrocínio da senhora Merkel. Alguém acredita que Martin Schulz venha a fazer melhor que o nosso pobre Durão Barroso com esta bênção e com esta correlação de forças?

Toda a Europa está ocupada – e não é só o nosso desgraçado secretário de Estado que é “alemão” aos olhos dos gregos. Não existem aldeias gaulesas nem uma vontade firme de fazer uma aliança no Sul. A coisa vai acabar muito mal.
 
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