Africa Monitor
Intelligence
1 . O cenário de
uma renúncia ao cargo de Presidente por parte de José Eduardo dos Santos (JES),
é considerado em meios que apropriadamente acompanham os meandros do assunto
como sendo o que está a ganhar mais consistência entre todos os que têm sido
considerados plausíveis para a sua retirada.
As estimativas no
que toca ao "momento" virtualmente encarado/escolhido por JES para
materializar a intenção de renunciar, dão primazia ao fim de 2014, princípio de
2015. A inclinação por tal calendário é considerada decorrente da conveniência
de favorecer a afirmação de Manuel Vicente como novo Presidente.
Em caso de renúncia
do Presidente é o Vice Presidente que ascende automaticamente ao cargo, com a prerrogativa
de cumprir o tempo ainda remanescente do respectivo mandato. Os ca de três anos
vincendos são considerados úteis para M Vicente se afirmar politicamente e
preparar para as eleições de 2017.
JES faz tenção de
se retirar das funções de Estado, mas não da presidência do MPLA. Tendo em
conta o papel do MPLA, preponderante no Estado e influente na sociedade, a
continuação da liderança do partido por JES também constituirá um contributo
para a consolidação da posição de M Vicente.
2 . A vontade de JES,
pessoal e política, de se fazer substituir por M Vicente, é agora considerada
"mais nítida" nos mesmos meios. Desde Out/Nov.2013 têm vindo a ser
assinalados factos considerados elucidativos de que estão em marcha planos
visando "preparar" M Vicente para o exercício do fututo cargo.
Os especialistas
brasileiros contratados com esse fim (AM 812), organizaram um programa
considerado "vasto" de aprimoramento da figura e do desempenho
político de M Vicente. Na leitura do seu último discurso (Prevenção Rodoviária)
foi notada já a influência de técnicas oratórias ausentes de outras
intervenções públicas.
Um anterior
espírito "refractário" de M Vicente em relação à sua ascensão a
Presidente parece igualmente estar a dissipar-se. Irradia agora um maior
à-vontade – presente em detalhes como a
aceitação de uma escolta nas suas deslocações na cidade de Luanda, que antes
recusava.
3 . Entre as razões
determinantes da decisão de JES de se retirar nas circunstâncias que se
desenham, avulta o seu estado de saúde, de natureza não completamente
conhecida, mas com sequelas evidentes em termos de fadiga. Nos seus últimos
aparecimentos públicos, só na cerimónia de cumprimentos do corpo diplomático
pareceu normal.
As restrições em
termos de tempo e energia a que a vida de JES parece estar agora sujeita,
também são notórios no plano pessoal e privado. P ex, limitou os encontros de
convívio que mantinha com amigos de infância, tais como Elísio de Figueiredo,
Brito Sózinho, Desidério Costa, Afonso Van Dunem "Binda", etc.
Os rumores em
relação ao estado de saúde de JES têm-se avolumado na proporção das suas agora
frequentes viagens privadas a Barcelona (AM 809), aparentente devidas ao
acompanhamento clínico que os seus padecimentos requerem. JES fica geralmente
instalado numa moradia alugada no Bairro de Pedralves.
A disseminação
interna da ideia de que JES se encontra debilitado (prevista para breve nova
viagem a Barcelona), tem dado azo a fenómenos como uma quebra da sua
autoridade, tendencialmente em deterioração, que também terão influenciado a
sua vontade de acelerar uma retirada.
4 . M Vicente não
goza de apoios nos orgãos de direcção do MPLA, em especial BP. Para este ano
está, porém, prevista a realização de um congresso do partido antevisto como
oportunidade para JES alterar a actual relação interna de forças num sentido
mais favorável a M Vicente.
A ala da direcção
do MPLA adversa a M Vicente, é constituída por adeptos de Fernando da Piedade
Dias dos Santos – cujas aspirações pessoais ao cargo de Presidente,
supostamente ainda se mantêm. Dino Matrosse, primo de FD Dias dos Santos, SG do
partido, é a principal figura da ala que contesta M Vicente.
A relação especial
entre ambos esteve patente no recente casamento de uma filha de D Matrosse,
para o qual FP Dias dos Santos era o principal convidado. As previsões vão no
sentido de que D Matrosse será substituído como SG no próximo congresso, do
mesmo modo que os "veteranos" que constituem o foco de contestação a
M Vicente.
A substituição dos
"veteranos" será justificada pela necessidade de rejuvenescer o
partido – o que levará à promoção de quadros mais jovens, conotados com M
Vicente. Os apoios com que o actual Vice Presidente conta na sociedade e no
regime situam-se no sector do petróleo, em meios da elite política e na
juventude.
A promoção de M
Vicente à função presidencial, nas circunstâncias que parecem definidas,
implicará que uma outra figura eleita nas listas do MPLA às eleições de 2012
seja designada Vice Presidente. Prevê-se que a escolha venha a recair numa
figura que pela sua autoridade compense a postura branda de M Vicente.
Sem comentários:
Enviar um comentário