quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Angola: RENÚNCIA DE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS

 

Africa Monitor Intelligence
 
1 . O cenário de uma renúncia ao cargo de Presidente por parte de José Eduardo dos Santos (JES), é considerado em meios que apropriadamente acompanham os meandros do assunto como sendo o que está a ganhar mais consistência entre todos os que têm sido considerados plausíveis para a sua retirada.
 
As estimativas no que toca ao "momento" virtualmente encarado/escolhido por JES para materializar a intenção de renunciar, dão primazia ao fim de 2014, princípio de 2015. A inclinação por tal calendário é considerada decorrente da conveniência de favorecer a afirmação de Manuel Vicente como novo Presidente.
 
Em caso de renúncia do Presidente é o Vice Presidente que ascende automaticamente ao cargo, com a prerrogativa de cumprir o tempo ainda remanescente do respectivo mandato. Os ca de três anos vincendos são considerados úteis para M Vicente se afirmar politicamente e preparar para as eleições de 2017.
 
JES faz tenção de se retirar das funções de Estado, mas não da presidência do MPLA. Tendo em conta o papel do MPLA, preponderante no Estado e influente na sociedade, a continuação da liderança do partido por JES também constituirá um contributo para a consolidação da posição de M Vicente.
 
2 . A vontade de JES, pessoal e política, de se fazer substituir por M Vicente, é agora considerada "mais nítida" nos mesmos meios. Desde Out/Nov.2013 têm vindo a ser assinalados factos considerados elucidativos de que estão em marcha planos visando "preparar" M Vicente para o exercício do fututo cargo.
 
Os especialistas brasileiros contratados com esse fim (AM 812), organizaram um programa considerado "vasto" de aprimoramento da figura e do desempenho político de M Vicente. Na leitura do seu último discurso (Prevenção Rodoviária) foi notada já a influência de técnicas oratórias ausentes de outras intervenções públicas.
 
Um anterior espírito "refractário" de M Vicente em relação à sua ascensão a Presidente parece igualmente estar a dissipar-se. Irradia agora um maior à-vontade – presente em detalhes como a aceitação de uma escolta nas suas deslocações na cidade de Luanda, que antes recusava.
 
3 . Entre as razões determinantes da decisão de JES de se retirar nas circunstâncias que se desenham, avulta o seu estado de saúde, de natureza não completamente conhecida, mas com sequelas evidentes em termos de fadiga. Nos seus últimos aparecimentos públicos, só na cerimónia de cumprimentos do corpo diplomático pareceu normal.
 
As restrições em termos de tempo e energia a que a vida de JES parece estar agora sujeita, também são notórios no plano pessoal e privado. P ex, limitou os encontros de convívio que mantinha com amigos de infância, tais como Elísio de Figueiredo, Brito Sózinho, Desidério Costa, Afonso Van Dunem "Binda", etc.
 
Os rumores em relação ao estado de saúde de JES têm-se avolumado na proporção das suas agora frequentes viagens privadas a Barcelona (AM 809), aparentente devidas ao acompanhamento clínico que os seus padecimentos requerem. JES fica geralmente instalado numa moradia alugada no Bairro de Pedralves.
 
A disseminação interna da ideia de que JES se encontra debilitado (prevista para breve nova viagem a Barcelona), tem dado azo a fenómenos como uma quebra da sua autoridade, tendencialmente em deterioração, que também terão influenciado a sua vontade de acelerar uma retirada.
 
4 . M Vicente não goza de apoios nos orgãos de direcção do MPLA, em especial BP. Para este ano está, porém, prevista a realização de um congresso do partido antevisto como oportunidade para JES alterar a actual relação interna de forças num sentido mais favorável a M Vicente.
 
A ala da direcção do MPLA adversa a M Vicente, é constituída por adeptos de Fernando da Piedade Dias dos Santos – cujas aspirações pessoais ao cargo de Presidente, supostamente ainda se mantêm. Dino Matrosse, primo de FD Dias dos Santos, SG do partido, é a principal figura da ala que contesta M Vicente.
 
A relação especial entre ambos esteve patente no recente casamento de uma filha de D Matrosse, para o qual FP Dias dos Santos era o principal convidado. As previsões vão no sentido de que D Matrosse será substituído como SG no próximo congresso, do mesmo modo que os "veteranos" que constituem o foco de contestação a M Vicente.
 
A substituição dos "veteranos" será justificada pela necessidade de rejuvenescer o partido – o que levará à promoção de quadros mais jovens, conotados com M Vicente. Os apoios com que o actual Vice Presidente conta na sociedade e no regime situam-se no sector do petróleo, em meios da elite política e na juventude.
 
A promoção de M Vicente à função presidencial, nas circunstâncias que parecem definidas, implicará que uma outra figura eleita nas listas do MPLA às eleições de 2012 seja designada Vice Presidente. Prevê-se que a escolha venha a recair numa figura que pela sua autoridade compense a postura branda de M Vicente.
 

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