Foi uma nova
"joia para a coroa" de Isabel dos Santos, escreve a revista Forbes.
Empresa de Sindika Dokolo, marido da filha do Presidente angolano, terá
adquirido com a estatal Sodiam grande parte de uma joalharia suíça.
Um novo caso
envolve a comercialização de diamantes em Angola e a filha do Presidente,
Isabel dos Santos.
De acordo com uma investigação da revista norte-americana Forbes, a filha do
Presidente, através do seu marido Sindika Dokolo, estabeleceu uma parceria com
o Estado angolano para a aquisição da prestigiada joalharia suíça De Grisogono.
A publicação
escreve que a empresa Victoria Holding Limitada, com sede em Malta, adquiriu,
já em 2012, 75% das ações da De Grisogono. Por sua vez, a Victoria Holding terá
sido constituída através de uma outra empresa de Sindika Dokolo em parceria com
a empresa estatal angolana de diamantes Sodiam.
Assim, segundo a
Forbes, através desta empresa estatal de comercialização dos diamantes angolanos,
as pedras preciosas estão a ser canalizadas para a joalharia suíça, na posse de
familiares do Presidente José Eduardo dos Santos.
A DW África ouviu o
jornalista e ativista angolano Rafael Marques, um dos autores do artigo da
Forbes.
DW África: Este é
um caso de conflito de interesses?
Rafael Marques
(RM): Não, é um caso específico do saque de recursos naturais do país,
porque a Sodiam, a empresa que detém o exclusivo da comercialização dos
diamantes em Angola, é uma empresa pública, cuja administração é nomeada e
exonerada pelo Presidente da República e que só pode agir em função de uma
política traçada pelo próprio chefe de Estado. Logo, a Sodiam não poderia ter
feito uma parceria com Isabel dos Santos sem a autorização do Presidente da
República.
A Sodiam, por
exemplo, está obrigada por lei a prestar contas públicas das suas atividades.
[Mas] foi preciso descobrir esta operação secreta entre a Sodiam e a empresa
detida por Isabel dos Santos e o seu marido, Sindika Dokolo, na República de
Malta. E [o tema] mantém-se como segredo de Estado em Angola, não se fala no
assunto.
Os diamantes estão
agora a ser canalizados dos cofres do Estado angolano, neste caso, para uma
joalharia que Isabel dos Santos adquiriu na Suíça, a De Grisogono. E não há um
retorno público para os cofres do Estado angolano.
DW África: Em que
medida é que o povo angolano em geral volta a ser prejudicado neste caso?
RM: Nós
estamos a falar de um negócio de um bilião de dólares anuais. Estas receitas
não são contabilizadas de forma transparente para os cofres do Estado.
Por outro lado, o
que é importante afirmar aqui é que nas Lundas se vive uma situação dramática
de violação constante dos direitos humanos, de uma miséria extrema; um processo
de espoliação até mesmo das terras para agricultura de subsistência das
comunidades locais. E o que vemos são os diamantes explorados nesta região
beneficiarem exclusivamente não o Estado angolano, mas Isabel dos Santos e
outros operadores que merecem os favores do Presidente da República.
DW África: Este não
é o primeiro caso descoberto que envolve a comercialização de diamantes e a
família presidencial angolana. Na sua opinião, por que é que as autoridades em
Angola continuam a fechar os olhos a estas supostas ilegalidades?
RM: As
autoridades angolanas não fecham os olhos a esse tipo de ilegalidades. O
Presidente da República, que detém o poder absoluto, é o principal promotor e
beneficiário da pilhagem dos recursos do Estado angolano, ele e a sua família.
Logo, não está a fechar os olhos, porque os olhos estão bem abertos a saquear o
país.
DW África: Perante
a descoberta deste tipo de casos, tem havido alguma reação por parte das
autoridades?
RM: A reação
foi apenas por parte do genro do Presidente da República, Sindika Dokolo, que é
o marido de Isabel dos Santos, a dizer que os africanos têm todo o direito de
ser ricos e que isto é uma questão de inveja. Eu também descobri nesta
investigação que Sindika Dokolo não faz estes investimentos como africano, fá-lo
como cidadão dinamarquês, porque a sua mãe é dinamarquesa.
Então, ele fá-lo
como cidadão europeu para beneficiar das vantagens, mas, depois, quando se tem
de justificar o saque, assume-se como africano. É uma situação de hipocrisia.
Deutsche Welle –
26.02.2014 - Autoria Glória Sousa - Edição Guilherme Correia da Silva
/ Madalena Sampaio
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