domingo, 9 de março de 2014

A loja de diamantes do Estado angolano e do marido de Isabel dos Santos




Foi uma nova "joia para a coroa" de Isabel dos Santos, escreve a revista Forbes. Empresa de Sindika Dokolo, marido da filha do Presidente angolano, terá adquirido com a estatal Sodiam grande parte de uma joalharia suíça.

Um novo caso envolve a comercialização de diamantes em Angola e a filha do Presidente, Isabel dos Santos.

De acordo com uma investigação da revista norte-americana Forbes, a filha do Presidente, através do seu marido Sindika Dokolo, estabeleceu uma parceria com o Estado angolano para a aquisição da prestigiada joalharia suíça De Grisogono.

A publicação escreve que a empresa Victoria Holding Limitada, com sede em Malta, adquiriu, já em 2012, 75% das ações da De Grisogono. Por sua vez, a Victoria Holding terá sido constituída através de uma outra empresa de Sindika Dokolo em parceria com a empresa estatal angolana de diamantes Sodiam.

Assim, segundo a Forbes, através desta empresa estatal de comercialização dos diamantes angolanos, as pedras preciosas estão a ser canalizadas para a joalharia suíça, na posse de familiares do Presidente José Eduardo dos Santos.

A DW África ouviu o jornalista e ativista angolano Rafael Marques, um dos autores do artigo da Forbes.

DW África: Este é um caso de conflito de interesses?

Rafael Marques (RM): Não, é um caso específico do saque de recursos naturais do país, porque a Sodiam, a empresa que detém o exclusivo da comercialização dos diamantes em Angola, é uma empresa pública, cuja administração é nomeada e exonerada pelo Presidente da República e que só pode agir em função de uma política traçada pelo próprio chefe de Estado. Logo, a Sodiam não poderia ter feito uma parceria com Isabel dos Santos sem a autorização do Presidente da República.

A Sodiam, por exemplo, está obrigada por lei a prestar contas públicas das suas atividades. [Mas] foi preciso descobrir esta operação secreta entre a Sodiam e a empresa detida por Isabel dos Santos e o seu marido, Sindika Dokolo, na República de Malta. E [o tema] mantém-se como segredo de Estado em Angola, não se fala no assunto.

Os diamantes estão agora a ser canalizados dos cofres do Estado angolano, neste caso, para uma joalharia que Isabel dos Santos adquiriu na Suíça, a De Grisogono. E não há um retorno público para os cofres do Estado angolano.

DW África: Em que medida é que o povo angolano em geral volta a ser prejudicado neste caso?

RM: Nós estamos a falar de um negócio de um bilião de dólares anuais. Estas receitas não são contabilizadas de forma transparente para os cofres do Estado.

Por outro lado, o que é importante afirmar aqui é que nas Lundas se vive uma situação dramática de violação constante dos direitos humanos, de uma miséria extrema; um processo de espoliação até mesmo das terras para agricultura de subsistência das comunidades locais. E o que vemos são os diamantes explorados nesta região beneficiarem exclusivamente não o Estado angolano, mas Isabel dos Santos e outros operadores que merecem os favores do Presidente da República.

DW África: Este não é o primeiro caso descoberto que envolve a comercialização de diamantes e a família presidencial angolana. Na sua opinião, por que é que as autoridades em Angola continuam a fechar os olhos a estas supostas ilegalidades?

RM: As autoridades angolanas não fecham os olhos a esse tipo de ilegalidades. O Presidente da República, que detém o poder absoluto, é o principal promotor e beneficiário da pilhagem dos recursos do Estado angolano, ele e a sua família. Logo, não está a fechar os olhos, porque os olhos estão bem abertos a saquear o país.

DW África: Perante a descoberta deste tipo de casos, tem havido alguma reação por parte das autoridades?

RM: A reação foi apenas por parte do genro do Presidente da República, Sindika Dokolo, que é o marido de Isabel dos Santos, a dizer que os africanos têm todo o direito de ser ricos e que isto é uma questão de inveja. Eu também descobri nesta investigação que Sindika Dokolo não faz estes investimentos como africano, fá-lo como cidadão dinamarquês, porque a sua mãe é dinamarquesa.

Então, ele fá-lo como cidadão europeu para beneficiar das vantagens, mas, depois, quando se tem de justificar o saque, assume-se como africano. É uma situação de hipocrisia.

Deutsche Welle – 26.02.2014 - Autoria Glória Sousa - Edição Guilherme Correia da Silva / Madalena Sampaio

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