domingo, 9 de março de 2014

A PROPAGANDA DOMINA AS NOTÍCIAS



Paul Craig Roberts - Desacato

Gerald Celente chama a mídia ocidental de presstitutes, um termo sagaz que eu uso frequentemente. Presstitutes vendem-se a Washington para acesso e fontes do governo e para manter seus empregos.

Desde que o regime corrupto Clinton permitiu a concentração dos meios de comunicação dos EUA, não há independência jornalística nos Estados Unidos, exceto para alguns sites da Internet.

Glenn Greenwald ressalta a independência que a RT (Russia Today), uma organização de mídia russa, permite a Abby Martin, que denunciou uma suposta invasão da Ucrânia pela Rússia, em comparação com os destinos de Phil Donahue (MSNBC) e Peter Arnett (NBC), ambos os quais foram demitidos por expressar oposição ao ataque ilegal do regime Bush ao Iraque.

O fato de que Donahue tinha o programa com a maior audiência da NBC não lhe deu independência jornalística. Qualquer pessoa que fale a verdade na imprensa estadunidense ou em rede de TV ou na NPR (National Public Radio) é imediatamente demitida.

A RT da Rússia parece realmente acreditar e observar os valores que os estadunidenses professam mas não honram.


Greenwald é totalmente admirável. Ele tem inteligência, integridade e coragem. Ele é um dos bravos, a quem meu livro recém-publicado, How America Was Lost, é dedicado. Quanto a Abby Martin da RT, eu a admiro e tenho sido um convidado em seu programa várias vezes.

Minha crítica de Greenwald e Martin não tem nada a ver com a sua integridade ou seu caráter. Eu duvido das alegações de que Abby Martin fez exibicionismo quanto à “invasão da Ucrânia pela Rússia”, a fim de aumentar suas chances de passar para a “grande mídia” mais lucrativa. Meu ponto é bem diferente. Mesmo Abby Martin e Greenwald, que nos trazem tanta luz, não conseguem escapar totalmente da propaganda ocidental.

Por exemplo, a denúncia de Martin de que a Rússia “invadiu” a Ucrânia é baseada em propaganda ocidental de que a Rússia enviou 16.000 soldados para ocupar a Crimeia. O fato é que esses 16 mil soldados russos estão na Crimeia desde os anos 1990. Sob o acordo russo-ucraniano, a Rússia tem o direito de basear 25.000 soldados na Crimeia.

Aparentemente, nem Abby Martin nem Glenn Greenwald, duas pessoas inteligentes e conscientes, sabiam desse fato. A propaganda dos EUA é tão penetrante que dois dos nossos melhores repórteres foram vitimados por ela.

Como já escrevi várias vezes em minhas colunas, os EUA organizaram o golpe de estado na Ucrânia a fim de promover sua hegemonia mundial, capturando a Ucrânia para a OTAN e colocando bases de mísseis na fronteira da Rússia, a fim de degradar a dissuasão nuclear da Rússia e forçar a Rússia a aceitar a hegemonia de Washington.

A Rússia não tem feito nada além de responder de uma forma muito discreta a uma grande ameaça estratégica orquestrada pelos EUA.

Não é só Martin e Greenwald que caíram pela propaganda de Washington. A eles junta-se Patrick J. Buchanan. A coluna de Pat convidando os leitores a “Resistir ao partido da guerra na Crimeia” abre com a afirmação propagandística de Washington: “Com o envio de Vladimir Putin de tropas russas na Crimeia…”.

Tal envio não ocorreu. Putin teve permissão da Duma russa de enviar tropas para a Ucrânia, mas Putin já declarou publicamente que o envio de tropas seria um último recurso para proteger os russos da Crimeia de invasões pelos ultranacionalistas neonazis que roubaram o golpe de Washington e se estabeleceram no poder em Kiev e na Ucrânia ocidental.

Então, temos aqui três dos jornalistas mais inteligentes e independentes do nosso tempo, e todos os três estão sob a impressão criada pela propaganda ocidental de que a Rússia invadiu a Ucrânia.

Parece que o poder da propaganda dos EUA é tão grande que nem mesmo os melhores e mais independentes jornalistas podem escapar de sua influência.

Que chance a verdade tem quando Abby Martin recebe elogios de Glenn Greenwald por denunciar a Rússia por uma suposta “invasão” que não ocorreu, e quando o independente Pat Buchanan abre sua coluna que discorda da turma que acusa a Rússia aceitando que houve uma invasão?

Toda a história que os presstitutes têm contado sobre a Ucrânia é uma produção de propaganda.

Os presstitutes disseram que o presidente deposto, Viktor Yanukovich, ordenou que os atiradores disparassem contra os manifestantes. Com base nestes relatórios falsos, os fantoches de Washington, que compõem o não-governo existente em Kiev, emitiram ordens de prisão para Yanukovich e querem que ele seja julgado em um tribunal internacional. Em uma ligação telefônica interceptada entre a ministra das Relações Exteriores da UE, Catherine Ashton e o Ministro das Relações Exteriores da Estônia, Urmas Paet, que tinha acabado de voltar de Kiev, Paet relata:

Agora há compreensão mais forte de que por trás dos snipers (franco-atiradores), não estava Yanukovich, mas alguém da nova coalizão.

Paet passa a relatar que:

(…) todas as evidências mostram que pessoas de ambos os lados foram mortas por franco-atiradores, tanto policiais como as pessoas das ruas, que eram os mesmos atiradores matando as pessoas de ambos os lados… e é realmente preocupante que agora a nova coalizão não queira investigar o que aconteceu exatamente.

Ashton, absorvida com planos da UE para orientar as reformas na Ucrânia e preparar o caminho do FMI para obter o controle sobre a política econômica, não ficou particularmente satisfeita ao ouvir o relatório de Paet de que as mortes foram uma provocação orquestrada. Você pode ouvir a conversa entre Paet e Ashton em: “Kiev snipers hired by Maidan leaders – leaked EU’s Ashton phone tape” e a seguir a confirmação de Paet da veracidade do vazamento:


O que aconteceu na Ucrânia é que os EUA conspiraram contra e derrubaram um governo legítimo eleito e, em seguida, perderam o controle dos neonazis que estão ameaçando a grande população russa no sul e leste da Ucrânia, províncias que anteriormente faziam parte da Rússia. Estes russos ameaçados apelaram pela ajuda da Rússia e, assim como os russos na Ossétia do Sul, eles vão receber ajuda da Rússia.

O governo de Obama dos EUA e seus presstitutes vão continuar a mentir sobre tudo.

[*] Institute for Political Economy


Traduzido por João Aroldo

Paul Craig Roberts (nascido em 03 de abril de 1939) é um economista norte-americano, colunista do Creators Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro na administração Reagan e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor e colunista do Wall Street Journal, Business Week e Scripps Howard News Service. Testemunhou perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões de política econômica. Durante o século XXI, Roberts tem frequentemente publicado em Counterpunch, escrevendo extensamente sobre os efeitos das administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra contra o terror, que ele diz ter destruído a proteção das liberdades civis dos estadunidenses da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e o devido processo legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados republicanos, opondo-se à guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e criticando as políticas e ações de Israel contra os palestinos. Roberts é um graduado do Instituto de Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, com pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton, Oxford University.


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