Paul Craig Roberts
- Desacato
Gerald Celente
chama a mídia ocidental de presstitutes, um termo sagaz que eu uso
frequentemente. Presstitutes vendem-se a Washington para acesso e fontes do
governo e para manter seus empregos.
Desde que o
regime corrupto Clinton permitiu a concentração dos meios de comunicação dos
EUA, não há independência jornalística nos Estados Unidos, exceto para alguns
sites da Internet.
Glenn
Greenwald ressalta a independência que a RT (Russia Today), uma organização de
mídia russa, permite a Abby Martin, que denunciou uma suposta invasão da
Ucrânia pela Rússia, em comparação com os destinos de Phil Donahue (MSNBC) e
Peter Arnett (NBC), ambos os quais foram demitidos por expressar oposição ao
ataque ilegal do regime Bush ao Iraque.
O fato de que
Donahue tinha o programa com a maior audiência da NBC não lhe deu independência
jornalística. Qualquer pessoa que fale a verdade na imprensa estadunidense
ou em rede de TV ou na NPR (National Public Radio) é imediatamente demitida.
A RT da
Rússia parece realmente acreditar e observar os valores que os estadunidenses
professam mas não honram.
Concordo com
Greenwald. Você pode ler o artigo em: “What
Russia Did Is Wrong”- RT Host Abby Martin Condemns Russian Incursion Into
Crimea – On RT.
Greenwald é
totalmente admirável. Ele tem inteligência, integridade e coragem. Ele é um dos
bravos, a quem meu livro recém-publicado, How America Was Lost, é dedicado.
Quanto a Abby Martin da RT, eu a admiro e tenho sido um convidado em seu
programa várias vezes.
Minha crítica de
Greenwald e Martin não tem nada a ver com a sua integridade ou seu caráter. Eu
duvido das alegações de que Abby Martin fez exibicionismo quanto à “invasão da
Ucrânia pela Rússia”, a fim de aumentar suas chances de passar para a “grande
mídia” mais lucrativa. Meu ponto é bem diferente. Mesmo Abby Martin e
Greenwald, que nos trazem tanta luz, não conseguem escapar totalmente da
propaganda ocidental.
Por exemplo, a
denúncia de Martin de que a Rússia “invadiu” a Ucrânia é baseada em propaganda
ocidental de que a Rússia enviou 16.000 soldados para ocupar a Crimeia. O fato
é que esses 16 mil soldados russos estão na Crimeia desde os anos 1990. Sob o
acordo russo-ucraniano, a Rússia tem o direito de basear 25.000 soldados na
Crimeia.
Aparentemente, nem
Abby Martin nem Glenn Greenwald, duas pessoas inteligentes e conscientes,
sabiam desse fato. A propaganda dos EUA é tão penetrante que dois dos nossos
melhores repórteres foram vitimados por ela.
Como já
escrevi várias vezes em minhas colunas, os EUA organizaram o golpe de estado na
Ucrânia a fim de promover sua hegemonia mundial, capturando a Ucrânia para a
OTAN e colocando bases de mísseis na fronteira da Rússia, a fim de degradar a
dissuasão nuclear da Rússia e forçar a Rússia a aceitar a hegemonia de
Washington.
A Rússia não
tem feito nada além de responder de uma forma muito discreta a uma grande ameaça
estratégica orquestrada pelos EUA.
Não é só
Martin e Greenwald que caíram pela propaganda de Washington. A eles junta-se
Patrick J. Buchanan. A coluna de Pat convidando os leitores a “Resistir ao
partido da guerra na Crimeia” abre com a afirmação propagandística de
Washington: “Com o envio de Vladimir Putin de tropas russas na Crimeia…”.
Tal envio não
ocorreu. Putin teve permissão da Duma russa de enviar tropas para a Ucrânia,
mas Putin já declarou publicamente que o envio de tropas seria um último
recurso para proteger os russos da Crimeia de invasões pelos ultranacionalistas
neonazis que roubaram o golpe de Washington e se estabeleceram no poder em Kiev
e na Ucrânia ocidental.
Então, temos aqui
três dos jornalistas mais inteligentes e independentes do nosso tempo, e todos
os três estão sob a impressão criada pela propaganda ocidental de que a Rússia
invadiu a Ucrânia.
Parece que o
poder da propaganda dos EUA é tão grande que nem mesmo os melhores e mais
independentes jornalistas podem escapar de sua influência.
Que chance a
verdade tem quando Abby Martin recebe elogios de Glenn Greenwald por denunciar
a Rússia por uma suposta “invasão” que não ocorreu, e quando o independente Pat
Buchanan abre sua coluna que discorda da turma que acusa a Rússia aceitando que
houve uma invasão?
Toda a história que
os presstitutes têm contado sobre a Ucrânia é uma produção de propaganda.
Os
presstitutes disseram que o presidente deposto, Viktor Yanukovich, ordenou que
os atiradores disparassem contra os manifestantes. Com base nestes relatórios
falsos, os fantoches de Washington, que compõem o não-governo existente em
Kiev, emitiram ordens de prisão para Yanukovich e querem que ele seja julgado em
um tribunal internacional. Em uma ligação telefônica interceptada entre a
ministra das Relações Exteriores da UE, Catherine Ashton e o Ministro das
Relações Exteriores da Estônia, Urmas Paet, que tinha acabado de voltar de
Kiev, Paet relata:
Agora há compreensão
mais forte de que por trás dos snipers (franco-atiradores), não estava
Yanukovich, mas alguém da nova coalizão.
Paet passa a
relatar que:
(…) todas as
evidências mostram que pessoas de ambos os lados foram mortas por
franco-atiradores, tanto policiais como as pessoas das ruas, que eram os mesmos
atiradores matando as pessoas de ambos os lados… e é realmente preocupante que
agora a nova coalizão não queira investigar o que aconteceu exatamente.
Ashton,
absorvida com planos da UE para orientar as reformas na Ucrânia e preparar o
caminho do FMI para obter o controle sobre a política econômica, não ficou
particularmente satisfeita ao ouvir o relatório de Paet de que as mortes foram
uma provocação orquestrada. Você pode ouvir a conversa entre Paet e Ashton em: “Kiev snipers hired
by Maidan leaders – leaked EU’s Ashton phone tape” e a seguir a confirmação
de Paet da veracidade do vazamento:
O que aconteceu na
Ucrânia é que os EUA conspiraram contra e derrubaram um governo legítimo eleito
e, em seguida, perderam o controle dos neonazis que estão ameaçando a grande
população russa no sul e leste da Ucrânia, províncias que anteriormente faziam
parte da Rússia. Estes russos ameaçados apelaram pela ajuda da Rússia e, assim
como os russos na Ossétia do Sul, eles vão receber ajuda da Rússia.
O governo de
Obama dos EUA e seus presstitutes vão continuar a mentir sobre tudo.
[*] Institute
for Political Economy
Traduzido por João
Aroldo
Paul Craig Roberts
(nascido em 03 de abril de 1939) é um economista norte-americano, colunista do
Creators Syndicate. Serviu como secretário-assistente do Tesouro na
administração Reagan e foi destacado como um co-fundador da Reaganomics. Ex-editor
e colunista do Wall Street Journal, Business Week e Scripps Howard News
Service. Testemunhou perante comissões do Congresso em 30 ocasiões em questões
de política econômica. Durante o século XXI, Roberts tem frequentemente
publicado em Counterpunch, escrevendo extensamente sobre os efeitos das
administrações Bush (e mais tarde Obama) relacionadas com a guerra contra o
terror, que ele diz ter destruído a proteção das liberdades civis dos
estadunidenses da Constituição dos EUA, tais como habeas corpus e o devido processo
legal. Tem tomado posições diferentes de ex-aliados republicanos, opondo-se à
guerra contra as drogas e a guerra contra o terror, e criticando as políticas e
ações de Israel contra os palestinos. Roberts é um graduado do Instituto de
Tecnologia da Geórgia e tem Ph.D. da Universidade de Virginia, com
pós-graduação na Universidade da Califórnia, Berkeley e na Faculdade de Merton,
Oxford University.
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