Lisboa, 08 mar
(Lusa) -- O secretário-executivo da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa
(CPLP) desvalorizou hoje as críticas à proposta de adesão da Guiné Equatorial,
destacando que a organização lusófona deve confiar na garantia do país sobre a
suspensão da pena de morte.
Em declarações à
Lusa, o responsável da CPLP considerou que a possível entrada do país liderado
por Teodoro Obiang, que deverá ser aprovada em julho pelos chefes de Estado dos
oito países, não irá prejudicar o prestígio internacional o bloco lusófono.
O
secretário-executivo salientou que a Guiné Equatorial é membro das Nações
Unidas, da União Africana e de outras instituições internacionais como a UNESCO
ou a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação),
instituições "regidas pelos princípios e valores que regem a CPLP".
A recomendação da
adesão da Guiné Equatorial, aprovada em fevereiro pelos ministros dos Negócios
Estrangeiros dos Estados-membros da CPLP, suscitou críticas de organizações dos
direitos humanos e alguns analistas alertaram mesmo que a adesão poderia
prejudicar o prestígio internacional da comunidade e dos seus membros.
Murargy recordou
que a existência da pena de morte naquele país era "o grande
obstáculo" à sua entrada na CPLP, que pediu uma moratória.
A Guiné Equatorial
decidiu a suspensão da pena de morte três dias antes da realização da reunião
de ministros dos Negócios Estrangeiros que discutiu o pedido de adesão, a 20 de
fevereiro.
"Não vejo nada
de anormal nesse processo. É o culminar de um processo que começou em 2010,
durou quatro anos", disse o responsável da CPLP, aludindo à data do pedido
de entrada da Guiné Equatorial, que era observador da comunidade desde 2006.
Os Estados-membros
da CPLP têm de "confiar" na palavra do Governo equato-guineense,
defendeu.
"Temos de
confiar, são um país responsável. Não vamos exigir provas como se fosse um país
qualquer. Eles são soberanos. Se disseram [que suspenderam a pena de morte],
temos de acreditar", sustentou Murade Murargy.
Questionado sobre
as críticas, desvalorizou: "As críticas hão de vir sempre. Também havia
críticas de outros países africanos, que se interrogavam por que é que a Guiné
Equatorial não entrou até hoje. Nenhuma situação é pacífica", considerou,
acrescentando que "muitas críticas são feitas por desconhecimento",
porque as pessoas "não se deslocam ao território para ver o que se passa
lá e criticam com base em informações deturpadas".
Sobre o facto de a
língua principal daquele país ser o castelhano, e não o português, o secretário-executivo
lembrou que os portugueses colonizaram a Guiné Equatorial durante 300 anos,
enquanto os espanhóis o fizeram por 200 anos.
"Eles têm
muita aproximação connosco, têm muita cooperação com os países africanos de
língua portuguesa e já têm o português como língua oficial na Constituição. O
Camões [Instituto da Língua e da Cooperação] está a ajudar a introduzir o
português nas escolas", mencionou.
Murade Murargy
salientou ainda que a Guiné Equatorial tem "um grande interesse" em
entrar para a CPLP.
Um dos maiores
produtores de petróleo de África, a Guiné Equatorial é liderada por Teodoro
Obiang desde 1979 e considerada um dos regimes mais fechados do mundo por
organizações de direitos humanos.
JH // PJA - Lusa
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