Verdade (mz) - Editorial
É repugnante! Essas
palavras não definem taxativamente a indignação em relação ao saque que tem
vindo a ser perpetrado pelos dirigentes superiores deste país no qual, todos os
dias, milhares de moçambicanos lutam para torná-lo uma nação decente. Mas revelam
a revolta de um povo diante de notícias segundo as quais em apenas um juiz do
Tribunal Administrativo gastou 10 mil dólares numa máquina de barbear, montante
mais do que suficiente para apetrechar com carteiras pelo menos uma escola
primária.
O que torna
caricata a situação é olhar para a folha de salário de um desses juízes e
perceber que os mesmos auferem, na verdade, pouco menos desse valor. O que
torna, diga-se, grave tal situação é que os mesmos juízes chegam a ter dozes
carros, entre protocolares e de afectação. Contudo, em nenhuma parte do mundo
uma pessoa sensata gasta numa máquina de barbear uma valor superior ao seu
salário. Nem na Cochinchina tal sucede.
A espoliação dos
cofres do Estado levada a cabo habilmente por um grupo de juízes do TA é paradigmático
do que, nestes últimos anos, tem estado a acontecer nas instituições públicas
e/ou do Estado. Um absurdo que é permitido nos países onde no Estado, a
promiscuidade e a falta de carácter de alguns dirigentes andam de mãos dadas.
Diga-se em abono da verdade que o uso abusivo do erário pelos juízes do TA que
prossegue incólume mostra- nos aquilo que já sabíamos: não somos um país sério.
Na verdade, somos um país sem prioridades, ou melhor, um país com prioridades
invertidas.
Nós, os
moçambicanos, já não devemos aceitar que uma minoria corrupta continue a
dirigir a nau das instituições públicas e do Estado e a ampliar o seu
património pessoal até para lá do inaceitável em detrimento dos legítimos
interesses da maioria. Cabe-nos derrubá-los do trono. Jamais devemos permitir
que o nosso país continue a ser visto como uma das mais infames rameiras - as
rameiras que nós perdoem - sobre o planeta terra por causa de meia dúzia de
pessoas que estão na origem de toda a injustiça estrutural em Moçambique.
Não há outra
maneira de salvarmos Moçambique, que não seja através do voto consciente e da
fiscalização do mesmo. Só um povo organizado e unido forçará a mudança. A
principal arma que pode abrandar todo esse mal é o voto. As eleições vêm aí e
não podemos permitir que continuem a açoitar, desta forma, as bolas da nossa
dignidade. O caso do TA veio revelar aos moçambicanos que a corrupção
organizada continua aí, aparentemente sem rosto, a decidir sobre os destinos e
a justiça dos moçambicanos e da pátria.
Cabe também aos
moçambicanos abandonar a alienação em que têm sido obrigados a viver para que
sejamos capazes, todos, de destroçar a corrupção organizada. Ninguém precisa
desse elevado número de veículos para o seu próprio conforto. Aliás, com o
salário que essa gente ganha não devia ter carros do Estado. Que comprasse, tal
como o cidadão comum deste país, os carros em segunda mão do Japão. Até porque
a qualidade do trabalho que dedicam ao povo é igualmente em segunda mão.
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