domingo, 9 de março de 2014

Portugal: O REGRESSO DO “HERÓI” RELVAS. NUNO CRATO JÁ FOI DEMITIDO?



João Lemos Esteves – Expresso, opinião

Após semanas repletas de trabalho, voltamos hoje (ainda que com algumas intermitências) às crónicas regulares aqui no POLITICOESFERA. Enquanto estive ausente, fui registando os factos políticos mais relevantes, mais insólitos e mais surpreendentes. Hoje, terei de me pronunciar sobre o facto mais insólito deste ano (até ao momento, mas dada a sua bizarrice será difícil de superar) político: o regresso de Miguel Relvas à política activa, por via da sua eleição para o Conselho Nacional do PSD. Miguel Relvas - registe-se, para memória futura - encabeçou a lista de Pedro Passos Coelho, elegendo apenas 18 representantes. Valeu a pena esta aposta de Pedro Passos Coelho? A primeira resposta seria um categórico "não": Passos elegeu apenas 18 representantes para o Conselho Nacional, obtendo o seu pior resultado de sempre em eleições internas. O que mostra bem como o PSD é um partido fantástico: enquanto Passos Coelho apresentava com alegria e satisfação o nome de Miguel Relvas, os militantes olhavam-se entre si, estupefactos, a questionar se tal revelação era mesmo verdade! Os militantes do PSD não aguentam Passos Coelho, discordam de Passos Coelho - mas, colocando o interesse de Portugal em manter a estabilidade política num momento em que Paulo Portas chamou para si a liderança do Governo, vão aguentando o seu "líder" de Partido.

Dito isto, a verdade é que Passos Coelho cumpriu os seus objectivos ao fazer regressar Miguel Relvas à política activa (sim, porque Relvas está de volta: só por ingenuidade será possível afirmar que Relvas vai para um órgão nacional do PSD para "brincar" ou para "andar a esconder-se"...). Vejamos porquê.

Em primeiro lugar, Passos Coelho mostrou claramente que defende o seu núcleo duro até ao "último sopro", custe o que custar. Passos Coelho deixou cair Relvas no ano passado, num episódio que causou algum atrito na relação entre os dois. E Relvas, ao contrário do que afirmou, não tem andado desaparecido da vida do partido. Relvas é incapaz de deixar a política - porque depende dela e os seus negócios estão a ela associados. Relvas precisa de poder - sem poder não há Relvas. É uma questão de sobrevivência. Ora, o que tem feito Miguel Relvas? Miguel Relvas, como vingança da atitude do Primeiro-Ministro, andou a sondar a disponibilidade de gente não alinhada com Passos para formar uma alternativa à sua liderança. Ou seja, Relvas percebendo que Passos Coelho estava muito enfraquecido e que tinha quebrado o dever de solidariedade que os unia, tentou criar uma onda de agitação no partido e através de alguns meios de comunicação social (os almoços com alguns jornalistas mantiveram-se). Há quem diga que Miguel Relvas chegou a almoçar com Rui Rio algumas vezes - não sei se tal rumor tem ou não fundamento: direi apenas que é muito provável que tenha algum fundo de veracidade. Ora, Passos Coelho, ao convidar Miguel Relvas, volta a ter o seu amigo "operacional" consigo para dominar a máquina, para preparar as eleições autárquicas (Relvas mexe-se muito bem nos bastidores e ainda tem algumas posições estratégicas em algumas redacções) - e dá uma imagem de força política. De facto, se Passos Coelho não estivesse confiante de que a conjuntura lhe é particularmente favorável, não terei certamente chamado Miguel de Relvas de volta - no fundo, o sinal que pretende dar aos Portugueses é o de que ele rinha razão desde o início, até na equipa que formou! E que Miguel Relvas é um dos protagonistas do "milagre económico português" - merecendo, por conseguinte, um reconhecimento por tal feito! Passos Coelho já dá a sua vitória nas legislativas como dado adquirido!

Por outro lado, Passos Coelho pretendeu com o regresso de Miguel Relvas colocar travões à ascensão, segura e meritória, de Marco António Costa dentro do PSD - mas também no País. Marco António Costa tem sido a revelação do "passismo": seguro, muito trabalhador, com um discurso social forte e um trabalho notável de concertação e colaboração com as Misericórdias. Até um conhecido meu comunista elogiou a qualidade do trabalho de Marco António Costa! - o que é obra! Marco António Costa é muito melhor do que muitos (incluindo eu) julgavam! Ultimamente, têm surgidas inúmeras divergências - sobre matérias politicamente importantes - entre Passos Coelho e Marco António Costa. O regresso de Miguel Relvas é, pois, também uma forma de Passos Coelho controlar Miguel Relvas. Passos Coelho quer ser ele a dominar a máquina, sem qualquer contestação. Eis as verdadeiras razões do regresso de Miguel Relvas.

Enfim, Passos Coelho não vive sem Miguel Relvas. Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és... Refira-se, ainda, que o regresso de Relvas é uma desautorização objectiva de Nuno Crato: então, o Ministro da Educação retira o diploma a Relvas e Passos Coelho vem reabilitar o seu ex-Ministro? Tem alguma lógica? Por isso é que Passos não consegue ter pulso no Governo, precisando de Paulo Portas...

Sem comentários:

Mais lidas da semana