segunda-feira, 14 de abril de 2014

Angola: O 4 DE ABRIL, O NOBEL E A PROMOÇÃO DA INSTABILIDADE SOCIAL



William Tonet - Folha 8 - 12 abril 2014

1. O Governo partidocrata decidiu mais uma vez violar a Constituição, nos seus preceitos normativos quanto a unidade, reconciliação nacional, liberdades e democracia, por ocasião das comemorações do 04 de Abril de 2014. Não pode haver amor, só com um dos parceiros, ele é o misto de cumplicidades e intimidades a dois. Nenhuma guerra se faz só com um dos contendores.

Em Angola já se tornou cediço o regime pavonear isoladamente ser o único arauto da paz, quando se quer referir ao calar das armas. Por muito que nos custe, paz com fome não é paz, por aquela perturbar mentalmente, o cidadão que com o estômago vazio, pode a mente influenciar comportamentos de revolta e de auto defesa, capazes de perturbarem a normalidade social.

Mas afinal o que é a paz, tão incompreendida pelo governo, 12 anos depois do calar das armas e 38 anos depois de partidarizar os meios de comunicação social do Estado? A palavra Paz deriva do latim “Pacem = Absentia Belli”, significando a ausência de violência social ou guerra, logo deve ser entendida como um estado de alma onde repousa a tranquilidade e a normalidade.

No plano individual PAZ significa estado de espirito sem recalcamentos, desconfiança, insegurança e de um modo geral, sem sentimentos de revolta interior. A Paz é um anseio de cada indivíduo e deste para com a colectividade, pois a paz individual consolidada só pode beneficiar a Paz geral e com ela a estabilidade social. Por isso quando o coração de um homem está tranquilo ele saúda os demais com um “Que a paz esteja contigo” ou “que o Senhor esteja contigo”, para simbolizar a aurora em nós.

Infelizmente, temos estado a semear uma paz dos “brutos” em que se humilha o outro, se discrimina o outro, se excluiu o outro, até mesmo nas celebrações festivas, transformadas em desfile de vaidade e exibições nos monólogos do regime. Esta “Paz partidocrata” é perigosa por permitir o calcorrear do ódio incubado no coração do discriminado. E quando assim é estamos a um passo de uma explosão social de consequências imprevisíveis, pois afastamos por interesses de poder a pomba branca que é o verdadeiro símbolo da paz.

O que temos hoje é uma paz de terror, uma paz de força, uma paz de medo, fortalecida pelo regime e apenas controlada pelo poder militar e policial é o que inglês se denomina “peace through strength” ou ainda a paz do terror, inspirada no conceito de Raymond Aron, no seu livro “Peace and War Among Nations”, que transportado para a actual realidade angolana assenta, que nem uma luva, por privilegiar sempre a discriminação de uma parte da população por outra que detém o poder político e militar.

2. O padre Apolónio deu uma entrevista ao Jornal de Angola, que tem batido todos os recordes de comentário. Tenho acompanhado na distância e considero ter o padre o direito subjectivo de, em democracia, expressar as suas opiniões. Tem legitimidade para o fazer e não é mau preferir o Presidente da República ao Papa Francisco para receber o prémio Nobel da Paz. Não o censuro, pelo contrário, mas não posso deixar de reconhecer, não ser este ainda o tempo para Eduardo dos Santos receber tão nobre Nobel.

Como leigo, não votaria num Nobel que impede, ostensivamente, a propagação do evangelho, proibindo, por via disso, a extensão do sinal da Rádio Eclésia. Não votaria num Nobel, cujo palácio constitui uma assombração para os cidadãos que dirige. Não votaria num Nobel que cultiva o ódio, a discriminação, o desemprego e a humilhação, contra todos quantos pensem diferente. Não votaria num Nobel, que nos 35 anos de consulado, nunca dormiu duas noites numa província. Não votaria num Nobel, que não acredita na democracia e não promove esse exercício, ao ponto de partidarizar os órgãos de Estado. Não votaria num Nobel, que privativa a Comunicação Social do Estado, para não permitir o contraditório. Eu não votaria num Nobel, que elege a perseguição aos adversários políticos, tem medo de eleições directas e autárquicas e nada faz para travar a corrupção e o desrespeito a Constituição e a lei.

Mas, apesar de não votar, considero legítimo, acreditando na democracia, por ser um direito constitucionalmente consagrado a visão do padre Apolónio. No entanto, se formos perceber o que é um verdadeiro Prémio Nobel, sem controversias, temos, segundo versão electrónica que o “Prémio Nobel da Paz é atribuído anualmente a pessoas que se evidenciaram pelo seu contributo para o fim de períodos prolongados de violência, conflito ou opressão através do seu empenho e liderança moral”. 

Por tudo isso ou muito me engano ou estes atributos ainda não fazem parte do acervo intelectual e moral do nosso Presidente da República.

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