William Tonet - Folha
8 - 12 abril 2014
1. O Governo
partidocrata decidiu mais uma vez violar a Constituição, nos seus preceitos
normativos quanto a unidade, reconciliação nacional, liberdades e democracia,
por ocasião das comemorações do 04 de Abril de 2014. Não pode haver amor, só com
um dos parceiros, ele é o misto de cumplicidades e intimidades a dois. Nenhuma
guerra se faz só com um dos contendores.
Em Angola já se
tornou cediço o regime pavonear isoladamente ser o único arauto da paz, quando
se quer referir ao calar das armas. Por muito que nos custe, paz com fome não é
paz, por aquela perturbar mentalmente, o cidadão que com o estômago vazio, pode
a mente influenciar comportamentos de revolta e de auto defesa, capazes de
perturbarem a normalidade social.
Mas afinal o que é
a paz, tão incompreendida pelo governo, 12 anos depois do calar das armas e 38
anos depois de partidarizar os meios de comunicação social do Estado? A palavra
Paz deriva do latim “Pacem = Absentia Belli”, significando a ausência de
violência social ou guerra, logo deve ser entendida como um estado de alma onde
repousa a tranquilidade e a normalidade.
No plano individual
PAZ significa estado de espirito sem recalcamentos, desconfiança, insegurança e
de um modo geral, sem sentimentos de revolta interior. A Paz é um anseio de
cada indivíduo e deste para com a colectividade, pois a paz individual
consolidada só pode beneficiar a Paz geral e com ela a estabilidade social. Por
isso quando o coração de um homem está tranquilo ele saúda os demais com um “Que
a paz esteja contigo” ou “que o Senhor esteja contigo”, para simbolizar a
aurora em nós.
Infelizmente, temos
estado a semear uma paz dos “brutos” em que se humilha o outro, se discrimina o
outro, se excluiu o outro, até mesmo nas celebrações festivas, transformadas em
desfile de vaidade e exibições nos monólogos do regime. Esta “Paz partidocrata”
é perigosa por permitir o calcorrear do ódio incubado no coração do
discriminado. E quando assim é estamos a um passo de uma explosão social de
consequências imprevisíveis, pois afastamos por interesses de poder a pomba
branca que é o verdadeiro símbolo da paz.
O que temos hoje é
uma paz de terror, uma paz de força, uma paz de medo, fortalecida pelo regime e
apenas controlada pelo poder militar e policial é o que inglês se denomina “peace
through strength” ou ainda a paz do terror, inspirada no conceito de Raymond
Aron, no seu livro “Peace and War Among Nations”, que transportado para a
actual realidade angolana assenta, que nem uma luva, por privilegiar sempre a
discriminação de uma parte da população por outra que detém o poder político e
militar.
2. O padre Apolónio
deu uma entrevista ao Jornal de Angola, que tem batido todos os recordes de comentário.
Tenho acompanhado na distância e considero ter o padre o direito subjectivo de,
em democracia, expressar as suas opiniões. Tem legitimidade para o fazer e não é
mau preferir o Presidente da República ao Papa Francisco para receber o prémio
Nobel da Paz. Não o censuro, pelo contrário, mas não posso deixar de reconhecer,
não ser este ainda o tempo para Eduardo dos Santos receber tão nobre Nobel.
Como leigo, não
votaria num Nobel que impede, ostensivamente, a propagação do evangelho, proibindo,
por via disso, a extensão do sinal da Rádio Eclésia. Não votaria num Nobel, cujo
palácio constitui uma assombração para os cidadãos que dirige. Não votaria num
Nobel que cultiva o ódio, a discriminação, o desemprego e a humilhação, contra
todos quantos pensem diferente. Não votaria num Nobel, que nos 35 anos de
consulado, nunca dormiu duas noites numa província. Não votaria num Nobel, que
não acredita na democracia e não promove esse exercício, ao ponto de
partidarizar os órgãos de Estado. Não votaria num Nobel, que privativa a
Comunicação Social do Estado, para não permitir o contraditório. Eu não votaria
num Nobel, que elege a perseguição aos adversários políticos, tem medo de eleições
directas e autárquicas e nada faz para travar a corrupção e o desrespeito a
Constituição e a lei.
Mas, apesar de não
votar, considero legítimo, acreditando na democracia, por ser um direito
constitucionalmente consagrado a visão do padre Apolónio. No entanto, se formos
perceber o que é um verdadeiro Prémio Nobel, sem controversias, temos, segundo
versão electrónica que o “Prémio Nobel da Paz é atribuído anualmente a pessoas
que se evidenciaram pelo seu contributo para o fim de períodos prolongados de
violência, conflito ou opressão através do seu empenho e liderança moral”.
Por tudo isso ou
muito me engano ou estes atributos ainda não fazem parte do acervo intelectual e
moral do nosso Presidente da República.
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