José Ribeiro –
Jornal de Angola, em A Palavra do Diretor
A história incrível
que vou contar está no “site” da emissora Voz da América (VOA). O ministro da
Comunicação Social recebeu um pedido de audiência do líder da CASA-CE e deu
imediatamente resposta. A reunião no seu gabinete com Chivukuvuku já tinha data
marcada, mas um imprevisto de última hora obrigou ao seu adiamento para nova
data.
Em qualquer país do
mundo, esta situação acontece vezes sem conta e ninguém lhe confere um carácter
de excepcionalidade, e muito menos representa falta de respeito de um membro do
Governo para com um político da oposição. Mas Chivukuvuku preferiu fazer uma
fuga da informação para a VOA, atacando o ministro e os jornalistas da imprensa
pública, por causa do adiamento da audiência.
Com a oposição em Angola, as coisas são, infelizmente, assim tratadas.
Chivukuvuku disse à VOA que ia ao ministro fazer queixas da “discriminação” nos
órgãos de comunicação do Estado, alegando que eles “não cumprem com a lei sobre
a igualdade entre todos os partidos políticos”. A história de Chivukuvuku, de
que o ministro se recusou a recebê-lo porque na agenda estava a análise da
situação no sector público da comunicação social, voou da VOA para as redes
sociais.
É esta política de deslealdade pura e de faz de conta que domina hoje a agenda
de alguns políticos, de partidos da oposição e seus activistas. Abel
Chivukuvuku sabe que a actividade da imprensa em Angola é por lei autónoma e
democrática e não pode estar sujeita a qualquer tipo de controlo. Ao dirigir-se
ao Governo para exercer uma acção disciplinar sobre os jornalistas e os seus
órgãos, o líder da CASA-CE viola a Constituição da República e a Lei de
Imprensa.
É vidente que os últimos dias correram mal à CASA-CE. As primeiras grandes
dissensões rebentaram nas suas fileiras. O seu líder quis aproveitar a presença
em Angola de dois responsáveis da administração norte-americana para fazer
ouvir a sua voz, fosse como fosse. Mas os jornalistas e os meios de comunicação
social não podem ser usados como bodes expiatórios para as frustrações
episódicas e a incapacidade de influência dos partidos. Nem para
descredibilizar as instituições democráticas nacionais aos olhos de governos
estrangeiros.
Ninguém ignora que muitos dirigentes e activistas de partidos da oposição,
apresentados como independentes, estão na verdade fortemente dependentes de
negócios ilícitos, de sacos azuis de embaixadas ou de organizações que não são
mais do que meras fachadas dos interesses da oligarquia financeira que domina o
mundo, e que quer também estender o seu poder à imprensa angolana. No que diz
respeito ao comportamento de Abel Chivukuvuku, o Bloco Democrático e o PRS
sabem bem do que estou a falar. Basta ver quem surge nas imagens dos
“cocktails” oferecidos por essas embaixadas e organizações, publicadas nos seus
“sites” na Internet.
O sector público da comunicação social angolana tem sido um padrão a seguir e
vai continuar a sê-lo. O ministro José Luís de Matos é o político angolano com
mais experiência no sector e tem uma carreira profissional como jornalista que
ninguém de boa fé pode pôr em causa. Quando Angola foi isolada do resto do
mundo ao mesmo tempo que lançaram exércitos estrangeiros no território
nacional, ele foi um dos que mais se bateu, no plano interno e na cena
internacional, para quebrar esse cerco e dar visibilidade à heróica luta dos
angolanos pela democracia e pela liberdade.
Nessa altura, quando a VOA era um dos mais poderosos instrumentos da guerra
contra Angola, a luta principal era contra o apartheid. Abel Chivukuvuku,
provavelmente por um lamentável equívoco, estava do lado do apartheid e com os
generais sul-africanos que comandavam a agressão contra a “Linha da Frente”.
Angola é o país do líder da CASA-CE e nessa altura a sua Nação estava sob a
ameaça de ser destruída. Para felicidade de todos, inclusive dele, os generais
sul-africanos não conseguiram os seus intentos. E parte do seu fracasso, que
temos de saudar com todas as forças, deveu-se também à acção de José Luís de
Matos.
Quem discrimina a imprensa pública é o líder da CASA-CE. Em 2012, encontrei
Abel Chivukuvuku em Cabinda. Eu cumpria uma missão profissional e ele
esforçava-se por dar visibilidade à CASA-CE que acabava de surgir na cena
política angolana. Dirigi-me a ele e cumprimentei-o, sinceramente, pela sua
nova empreitada. Estava convencido de que a coligação ia acabar com a política
de “show off” e negativa que se via na oposição e apresentar um novo paradigma
de política, virado para um projecto nacional. Tivemos uma conversa muito
agradável e eu aproveitei para lhe pedir uma entrevista ao nosso jornal. O
pedido foi aceite, com entusiasmo e simpatia. Até hoje estou à espera que o
líder da CASA-CE satisfaça o meu pedido. Já foram enviados os ofícios exigidos
e feitos vários contactos verbais. Até hoje, passados dois anos, nada. Mas o
pedido continua de pé. Outro facto. Antes do início da campanha eleitoral de
2012 mandei uma carta às direcções dos partidos concorrentes, convidando-os a
escreverem um artigo de opinião por semana para este jornal. Apenas dois partidos
responderam ao convite, e um deles, logo no segundo texto, infringiu as normas
editoriais, que até eram simples: os textos não podiam ter mais de 4.500
caracteres (a medida dos nossos editoriais) e não eram tolerados ataques
pessoais nem uma linguagem insultuosa. As eleições terminaram, ninguém mais nos
deu importância.
Quando alguém critica o Jornal de Angola, nós lançamos um repto: escreva para o
nosso jornal! Todos dizem que sim, mas na hora da verdade ninguém escreve. A
vida angolana é muito rica em factos e acontecimentos que podem ser objecto de
reflexão pelos nossos políticos, cientistas, artistas, desportistas. O jornal
que dirijo com grande orgulho é pluralista e sempre respeitou o contraditório.
Mas ninguém pode esperar que sejam os nossos profissionais a fazer o trabalho
que compete exclusivamente aos partidos políticos. Não podemos inventar
notícias de actividades que eles não realizam nem podemos escrever artigos de
opinião pelas cabeças dos seus líderes. A CASA-CE tem no “Folha8” o seu órgão oficial.
A coligação está bem servida. A UNITA tem a “Terra Angolana” e mais algumas
réplicas. Também tem ao seu serviço o jornalismo de que mais gosta. Outros
partidos têm os seus mais destacados dirigentes a dar opiniões em vários
jornais privados. Lemos atentamente essas prosas. Se esse é o paradigma que
querem impor-nos, ao dirigirem-se ao Ministério da Comunicação Social, ficamos
esclarecidos. As nossas portas continuam abertas.
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, já escreveu para este
jornal. A chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, também.
Analistas políticos nacionais e políticos de grande nível mundial têm usado as
páginas do Jornal de Angola para darem as suas opiniões. Acabamos de receber um
excelente artigo sobre as relações da Europa com África, assinado pelo chefe do
Governo de Espanha, Mariano Rajoy, que vamos publicar, com imensa satisfação.
Os adeptos da política do insulto e do faz de conta em Angola ignoram-nos. Eles
lá sabem porquê. Nós não excluímos ninguém!
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