Tiago Mota Saraiva –
jornal i, opinião
Era uma mulher de
sessenta anos bem marcados. Numa mão trazia um copo de plástico branco na outra
uma receita médica. Dirigia-se a todos de forma arrastada: "Estou doente.
Não tenho o que comer. Não posso pagar este remédio. Dêem-me pão." Na tradicionalmente
sonolenta carruagem de metro matinal algumas pessoas estenderam a mão com
moedas, outras desviaram o olhar. Poucos ficaram indiferentes.
O país está melhor,
ainda que as pessoas vivam pior, diz-nos o líder da bancada parlamentar do PSD.
É também da Assembleia da República que o vice-primeiro ministro Portas
dispara: "as pessoas deixaram de ter rendimento mínimo porque, por acaso,
tinham mais de 100000€ na conta bancária" referindo-se às 98 625 pessoas
que perderam a prestação entre Julho de 2011 e Janeiro de 2014, ainda que nem
0,1% destas pessoas a tenha perdido pelo motivo invocado.
Tínhamos de
empobrecer, partir ou morrer. Era esse o plano.
Entretanto,
mantendo o plano de austeridade, Seguro prepara o caminho para esconder a
miséria. Num acontecimento metodicamente preparado para o efeito, como todas as
suas aparições, anuncia o plano de tirar os sem abrigo da rua numa legislatura.
A maioria terá olhado para este anúncio como mais uma mentira eleitoralista -
inocente, idiota ou indecente.
Quem trabalha,
observa, fala com quem vive na rua, arrepia-se. Pela forma como o problema é
tratado é previsível a ligeireza das soluções. Imaginam-se as tendas, os
edifícios ou os campos cheios de vidas destruídas. Longe da vista.
O que há-de vir
pode ser pior.
Escreve ao sábado
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