sábado, 12 de abril de 2014

Portugal: MISERAVELMENTE



Tiago Mota Saraiva – jornal i, opinião

Era uma mulher de sessenta anos bem marcados. Numa mão trazia um copo de plástico branco na outra uma receita médica. Dirigia-se a todos de forma arrastada: "Estou doente. Não tenho o que comer. Não posso pagar este remédio. Dêem-me pão." Na tradicionalmente sonolenta carruagem de metro matinal algumas pessoas estenderam a mão com moedas, outras desviaram o olhar. Poucos ficaram indiferentes.

O país está melhor, ainda que as pessoas vivam pior, diz-nos o líder da bancada parlamentar do PSD. É também da Assembleia da República que o vice-primeiro ministro Portas dispara: "as pessoas deixaram de ter rendimento mínimo porque, por acaso, tinham mais de 100000€ na conta bancária" referindo-se às 98 625 pessoas que perderam a prestação entre Julho de 2011 e Janeiro de 2014, ainda que nem 0,1% destas pessoas a tenha perdido pelo motivo invocado.

Tínhamos de empobrecer, partir ou morrer. Era esse o plano.

Entretanto, mantendo o plano de austeridade, Seguro prepara o caminho para esconder a miséria. Num acontecimento metodicamente preparado para o efeito, como todas as suas aparições, anuncia o plano de tirar os sem abrigo da rua numa legislatura. A maioria terá olhado para este anúncio como mais uma mentira eleitoralista - inocente, idiota ou indecente.

Quem trabalha, observa, fala com quem vive na rua, arrepia-se. Pela forma como o problema é tratado é previsível a ligeireza das soluções. Imaginam-se as tendas, os edifícios ou os campos cheios de vidas destruídas. Longe da vista.

O que há-de vir pode ser pior.

Escreve ao sábado

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