O
neoliberalismo chegou ao futebol através da chamada Lei Pelé. Que pregava a
profissionalização do futebol, contra o que chamava de ditadura dos clubes.
Emir
Sader – Carta Maior, em Blog do Emir
Republico este artigo
escrito há alguns anos e publicado originalmente na Carta Maior, porque o
considero - infelizmente, 7 e mais vezes infelizmente – absolutamente atual.
Espero não tenha que publicá-lo 7 vezes mais, não tenha que publicá-lo nunca
mais.
Multiplicam-se as reclamações de que o dinheiro passou a mandar no futebol, que
os clubes estão falidos, que os jogadores já não têm apego aos clubes, mudam às
vezes durante o campeonato, passando para o rival, se contratam meninos ainda
para jogar no exterior, uma parte deles fica abandonado, submetidos a todo tipo
de irregularidade.
Mas o que aconteceu, o que está na raiz de tudo isso?
O futebol – assim como todos os esportes – não é imune às imensas
transformações econômicas, sociais e éticas que as nossas sociedades sofrerem e
ainda sofrem. No Brasil, o neoliberalismo chegou ao futebol através da chamada
Lei Pelé. Que pregava a “profissionalização” do futebol, contra a ditadura dos
clubes, que tinham os jogadores atrelados ao clube como se se tratasse de uma
relação feudal, pré-capitalista.
Intensificou-se dura campanha contra os “cartolas”, com acusações - todas
provavelmente reais -, de corrupção, concentração de poder, arbitrariedades,
etc. Porém, de forma similar ao que se fazia na campanha neoliberal contra o
Estado, não era para democratizar aos clubes, ou ao Estado, mas para favorecer
o mercado.
A profissionalização foi isto. Supostamente para libertar os jogadores do
domínio dos clubes, jogou-os nas mãos dos empresários privados. Não por acaso
se deu durante a década de 90, em pleno governo FHC, que preconizou todo o
tempo a centralidade do mercado, os defeitos do Estado, a necessidade de
mercantilizar tudo, de transformar a sociedade em um lugar em que tudo se
compra, tudo se vende, tudo é mercadoria.
Os jogadores foram transformados em simples mercadorias, nas mãos dos
empresários, que reinam soberanos, assim como o mercado e as grandes empresas
fazem no conjunto da sociedade. Enquanto os clubes, da mesma forma que o
Estado, ao invés de serem democratizados, são sucateados. Interessa aos
empresários privados que os clubes sejam fracos, estejam falidos, serão mais
frágeis ainda diante do poder do seu dinheiro. Assim como ao chamado mercado
interessa que o Estado seja mínimo, seja fraco, para que ceda cada vez mais a
seus interesses.
Os clubes podem ser democratizados – de que o exemplo da democracia corintiana
é claro. O jogo dos empresários não é democratizável, nem passível de ser
controlado socialmente, vale quem paga mais, que tem mais dinheiro. Assim como
o Estado pode ser democratizado – e as políticas de orçamento participativo são
o melhor exemplo disso.
Com o reino do mercado, não há Estado, não há democracia, não há interesses
coletivos. Triunfa o mercado e seu principio maior – o do dinheiro. Com o reino
dos empresários privados, não há clubes, há times, que ocasionalmente são
montados para disputar um campeonato, enquanto os empresários não vendem os
jogadores. Os campeonatos servem apenas como vitrine para exibir as mercadorias
dos empresários.
Em um tempo em que tantas identidades entraram em crise, nem sequer os clubes
de futebol conseguem resistir, diante da privatização que a lei Pelé
significou, fazendo da camisa dos jogadores um lugar em que mal cabe – quando
cabe – o distintivo, de tal forma tudo é comercializado. Ou se fortalecem os
clubes, democratizando-os, destacando sua dimensão publica e não de empresas
privadas a serviço da comercialização dos jogadores, ou a quebra generalizada
que atinge o mercado capitalista não poupará os clubes. Que irão à falência,
diante do enriquecimento ilimitado dos empresários privados.
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