Jacarta, 13 jul (Lusa) - A tensão está a intensificar-se na Indonésia desde que os dois candidatos presidenciais se declararam vencedores, com dúvidas crescentes quanto à contagem dos votos, acusações e intimidações a centros de sondagens.
Após
as eleições de quarta-feira, nas quais participaram 72 por cento dos 190
milhões de eleitores, ambos os candidatos declararam vitória, com base em
diferentes sondagens de centros privados, o que levou o presidente cessante,
Susilo Bambang Yudhoyono, a apelar à calma.
Dois
terços das sondagens à boca das urnas deram a vitória ao atual governador de
Jacarta e candidato do Partido Democrático Indonésio da Luta (PDI-P), Joko
Widodo, conhecido como Jokowi, por cerca de cinco pontos percentuais.
Quatro
centros de sondagens apontaram o ex-general Prabowo Subianto - fundador do
Movimento da Grande Indonésia (Gerindra) e suspeito de violações de direitos
humanos, inclusive durante a ocupação de Timor-Leste -, como o vencedor, com
uma margem de um a quatro pontos percentuais.
Na
madrugada de sexta-feira, foi lançado um cocktail molotov contra um desses
quatro centros, o Jaringan Suara Indonesia, sem causar uma explosão, confirmou
à Lusa o porta-voz da polícia de Jacarta, o coronel Rikwanto, acrescentando que
o responsável ainda não foi identificado.
No
mesmo dia, um responsável do Pol-Tracking Institute, centro que atribuiu a
vitória a Jokowi, foi informado pela polícia de um potencial ataque contra as
instalações, segundo o jornal The Jakarta Post.
O
coronel Rikwanto assegurou que estão a ser realizadas "patrulhas de grande
escala dia e noite" e que em breve serão levados a cabo exercícios de
segurança para lidar com eventuais problemas após o anúncio oficial dos
resultados, a 22 de julho.
"Infelizmente
o processo de contagem dos votos é altamente vulnerável à manipulação",
disse à Lusa o analista político Paul Rowland, avisando que o impasse pode
arrastar-se até meados de agosto se seguir para o Tribunal Constitucional.
O
especialista observa que a tensão que marcou a campanha aumentou após o dia das
eleições, com acusações entre as candidaturas.
Embora
não descarte a hipótese de violência pós-eleitoral, dado que a Indonésia democrática
nunca esteve tão "polarizada", Paul Rowland recorda que o país tem
"pouquíssima história de violência" em eleições do género.
Reza
Syah confessa que sente uma "preocupação crescente" ao ouvir
denúncias de preenchimentos de boletins de voto durante a contagem, mas, ainda
assim, está confiante no trabalho da comissão eleitoral.
Na
visão do indonésio de 36 anos, Prabowo Subianto é "louco", mas não
será ele o responsável por eventuais focos de violência pós-eleitoral, porque,
ao contrário dos seus parceiros de coligação, não terá nada a perder a nível
pessoal com uma derrota.
Maria
Oryzasativa está igualmente confiante de que o processo decorrerá com
tranquilidade e mostra-se disponível para aceitar os resultados, desejando
apenas um país melhor, como era no tempo do primeiro presidente, Sukarno.
A
Indonésia tem "muitos recursos naturais, mas não existe um equilíbrio com
os recursos humanos", defende a professora, que elogia a personalidade
"simples e forte" de Prabowo.
Na
corrida para segundo presidente democraticamente eleito, Prabowo representa um
regresso ao passado, enquanto Jokowi, que cresceu em favelas, é visto como um
homem do povo, sendo também encarado por alguns como um ?brinquedo' nas mãos de
Megawati, a presidente do partido e filha de Sukarno.
A
'jokomania', que se estende até ao mercado das camisas aos quadrados idênticas
às do candidato, assemelha-se ao fenómeno Obama, sendo que há até quem encontre
parecenças físicas entre Jokowi e o presidente dos Estados Unidos.
Após
uma campanha amplamente discutida e que dividiu famílias e partidos, o atual
impasse está a causar receios entre os investidores na maior economia do
Sudeste Asiático, que tem também um dos níveis mais altos de corrupção do
mundo.
AYN
// PJA – Lusa
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