Díli,
20 jul (Lusa) - O primeiro-ministro de Timor-Leste, Xanana Gusmão, disse hoje
em entrevista à agência Lusa que vai sair do Governo para contribuir melhor
para a construção do Estado, mas evitou avançar uma data precisa para a sua
demissão.
"Eu
não diria que saio por estar cansado. Se formos a ver, a fazer uma análise,
saio porque é um dever sair. Às vezes penso que se não fizer nada ficarei
doente, mas nesta conjuntura atual de construção do Estado é a altura de sair
para contribuir", afirmou Xanana Gusmão.
Questionado
pela Lusa sobre quando vai sair exatamente, Xanana Gusmão afirmou que "vai
acontecer", mas que agora está ocupado com a presidência da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP).
"Pode
dar crise. Mas naturalmente vai acontecer", salientou às gargalhadas.
Sobre
o futuro, depois da saída sem data, Xanana Gusmão pretende acima de tudo, com
os outros fundadores do país, aconselhar e contribuir como dita a cultura
tradicional timorense.
"Na
nossa cultura tradicional há o régulo, o reizinho, que tem os seus condes,
marqueses, mas há sempre um ancião que sabe de toda a história, de tudo o que
acontece, oralmente ele conhece tudo e quando é para tomar decisões os régulos
não tomam sozinhos, eles chamam o ancião e ele está sempre ali ao lado e
pergunta como é que é", explicou.
"Nós
acumulamos sucessos e insucessos e isso é a nossa mais valia e queremos dar
oportunidades às novas gerações para ganharem confiança em si, nas suas
decisões, e se tiverem que nos perguntar nós estamos prontos e 'pro bono',
ainda por cima", afirmou.
Mas,
segundo o primeiro-ministro timorense, se as coisas estiverem a correr menos
bem também se vão fazer "alertas".
"No
mínimo termos uma capacidade de intervir chamando a atenção. Eu estou confiante
porque nestes seis anos centramos os nossos esforços, quando falamos de
capacitação de instituições, foquei-me nas finanças públicas que são os pulmões
e coração de qualquer Estado e embora haja muitas críticas o pessoal está a
responder magnificamente", salientou.
Para
o primeiro-ministro timorense, o essencial para o Estado se consolidar já foi
feito, agora, à geração mais velha cabe promover e provocar a reflexão e o
debate.
"Só
temos mudanças onde a nossa contribuição será melhor e mais efetiva se tivermos
de fora. Deixamos de dizer o que podemos fazer para passar a dizer como podemos
contribuir", sublinhou.
Desde
final de 2012, que Xanana Gusmão tem reafirmado a sua intenção de abandonar o
cargo de primeiro-ministro.
Em
janeiro, num discurso proferido no parlamento por ocasião do início do debate
do Orçamento Geral do Estado para este ano, o primeiro-ministro afirmou que
aquela era a última vez que se dirigia ao hemiciclo como chefe do governo para
apresentar um Orçamento de Estado.
Xanana
Gusmão, de 68 anos, foi um dos líderes da luta contra a ocupação indonésia de
Timor-Leste, entre 1975 e 1999, que culminou com a realização de um referendo a
30 de agosto de 1999, que determinou a independência do território.
A
20 de maio de 2002, dia da restauração da independência do país, tomou posse
como Presidente do país. Em 2007, tomou posse como primeiro-ministro e em 2012
foi reconduzido no cargo.
MSE
// PJA - Lusa
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