António
Veríssimo, Lisboa
As
notícias sobre a expulsão de portugueses de Timor-Leste começaram a chegar freneticamente
a Portugal. A reação está a ser semelhante à do corno - ou marido traído – que para
limpar aparências se diz ser o último a saber e assume-se como vítima. Um
coitadinho. É assim que em Portugal muitos portugueses se sentem e se lamentam,
revoltam, sentem-se injustiçados. Provavelmente sem razão.
Era
fácil empurrar a decisão timorense para a xenofobia (que por lá também existe).
Para a ingratidão pura e simples (que por lá também existe). O difícil é saber
quais os motivos desta decisão do governo timorense a reboque da decisão dos
parlamentares timorenses dos partidos políticos do governo (parece que a
Fretilin não votou favoravelmente, parece que não, mas em pormenor não se sabe
exatamente qual a posição daquele grupo parlamentar. Sabe-se que Estanislau da
Silva, destacado dirigente da Fretilin no Parlamento afirmou sobre a
inconstitucionalidade da medida aprovada. A seu tempo tudo se saberá com mais
pormenores.
Retomando
a figura do corno e a eventualidade daquele não ter razão, importa recordar que
Timor-Leste avisou antes Portugal de que iria prescindir dos serviços de
cooperação de mais de trinta portugueses, alguns australianos e de outras
nacionalidades. No total, diz-se, são cerca de cinquenta que vêm embora. O que
não se falava era de expulsão nem de prazo tão curto para saírem de
Timor-Leste, 48 horas. Saírem expulsos, com toda a carga de indecentes e más-figuras.
Ora se Timor-Leste já tinha dado conhecimento a Portugal da decisão – vão lá
umas duas semanas – e Portugal considerou e declarou que sim senhor e não
mostrou indignação, qual a razão de toda esta chinfrineira semelhante ao corno
que fazia de conta que não sabia que era corno?
Motivos
de segurança de Estado?
Foi
agora, no ato da expulsão dos portugueses, que foram evocados motivos de
segurança para a pressa de os pôr fora do país. Segurança de Estado. Mas então
o que é que magistrados e oficial da polícia portugueses andaram a fazer em
Timor que pudessem fazer perigar a segurança do país? Não se sabe. Sobre o
assunto a omissão é total. O que é alegado é que aqueles profissionais têm “falta
de capacidade técnica para dotarem funcionários timorenses de conhecimentos
adequados”. Ou seja: são maus formadores nas áreas profissionais para que foram
exercer a cooperação.
Se
assim é bastava pedir com urgência as suas substituições por outros mais
dotados e adequados às necessidades timorenses. Fazendo-os regressar quando
fossem substituídos, em prazo breve.
Não
se entende que o eventual défice de qualidades profissionais daqueles
formadores cooperantes possam fazer perigar os interesses e segurança do Estado
de Timor-Leste desde que colmatado o erro… Não. Nesta desculpa esfarrapada estão
escondidas as verdadeiras razões por que os deputados de Xanana Gusmão se
atiraram aos cooperantes como gato a bofe. O que está por esclarecer é a razão
da decisão e a pressa em fazer sair aqueles cooperantes do país como se de
criminosos se tratem. Quando até sabemos que alguns dos políticos
preponderantes da área do governo e maioria são bastante tolerantes a lidar com
criminosos, com assassinos de massacres que a história não deixa esquecer, e
outros igualmente do mundo do crime que tenham necessidade de utilizar. Assim já
foi. Assim deverá continuar a ser. Mas isso são outras pevides do passado
recente que não deve ser misturado com as alcagoitas do momento, sob pena de
desencadear uma enorme diarreia.
Por
agora o que importa é ouvir os testemunhos dos cooperantes portugueses expulsos
(se falarem). Não se espere que por parte do governo português assistamos a
esclarecimentos adequados. Primeiro porque no cargo de primeiro-ministro está
um dos maiores aldrabões que conseguiu aquele cargo. Depois, porque Portugal
tem o azar de ter um ministro dos Negócios Estrangeiros que é um desastre, um
bacoco, um trapalhão (a condizer com todo o governo), para pior está em Belém,
na Presidência da República, um sujeito que quer é safar-se e arrecadar mais
uma pensão ou reforma vitalícia a juntar às muitas outras que já tem no seu
cardápio. Portugal, a sua independência e dignidade que se lixem.
Como
não se consegue imaginar, em boa fé, que os cooperantes expulsos possam (pudessem) fazer
perigar na realidade a segurança do Estado timorense, compete ao governo
timorense vir a público dar uma explicação cabal e correspondente à realidade. Ou
então até podemos imaginar que os magistrados e outros dos expulsos se
preparavam para acusar governantes de corrupção, de assassinatos… Sabe-se lá,
de crimes graves. Assim sim, por razões de segurança dos governantes e cúmplices
criminosos, à luz dos seus interesses (não dos de Timor-Leste) tornou-se
urgente expulsá-los. Evidentemente que esta parte seria um exemplo de imaginação
fértil que em nada corresponde à realidade. Pois não? Então qual é a realidade? Ficamos à
espera. Sentados. É que assim toda esta estória está muito mal contada por
parte do governo timorense, com a cumplicidade, até agora, dos desastrosos
responsáveis do governo português que como as prostitutas se mostram muito
indignados para no momento seguinte baixarem rapidamente as calcinhas (se as
usarem).
1 comentário:
Até a explicação do ministro timorense José Luís Guterres em ficheiro áudio à TSF é ingénua senão mesmo infantil.
Desde quando se expulsam pessoas por preferirem "pessoas mais experientes"?! Desde quando se tornam em "persona non grata" quem é alegadamente inexperiente?
Este epiteto é para terroristas, espiões ou pessoas que sejam ameaça à soberania nacional. Ridiculamente risível...
(Declaração de interesse: estou em Timor Leste desde 2012)
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