terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Portugal: A “FATWA” DE ANTÓNIO BARRETO




António Barreto ainda não terminou o seu ajuste de contas com o Portugal de Abril. Prossegue a sua trajectória em direcção à extrema-direita. Pelos vistos, não quer ficar para a História apenas como o principal carrasco da Reforma Agrária. Mas, faça o que faça, ficará no rodapé da História simplesmente como um dos mais arrogantes, presunçosos e reaccionários inimigos da Revolução de Abril e do povo português.

Há muitas razões para defender a Constituição da República, e algumas delas nem precisam de argumentação. Por exemplo: António Barreto não gosta dela.

O facto desse personagem a considerar “funesta” (Jornal “I”, 31.01.2015) é suficiente para se concluir que a Constituição foi e continua ainda a ser algo de bom para os trabalhadores e o povo. E para os democratas.

António Barreto é um oráculo que os jornais que temos (e sobretudo os seus proprietários) reverenciam. Sabem que sempre que vão registar o seu notável pensamento irão colher novas e velhas tiradas reaccionárias, somando esta “respeitada opinião” (é o jornal que o diz) ao chorrilho quotidiano da maioria dos seus colunistas e editorialistas. Se não são os “direitos sociais insustentáveis” é a “funesta Constituição” que os consagra, uns e outros produto da Revolução de Abril, essa “revolução obsoleta”. “Revolução do século XIX, princípio do século XX” que, graças ao nosso crónico atraso, demorou quase um século a chegar. Que gerou uma espantosa e épica Reforma Agrária construída e dirigida pelo proletariado rural, em cuja destruição Barreto e o 1º governo de Mário Soares desempenharam um papel central.

Vota à Constituição o mesmo visceral ódio que o moveu contra a Reforma Agrária. Tem de ser “limpa dos seus ónus ideológicos” (“matérias laborais, de saúde, de educação, de segurança social, de organização do Estado, função das autarquias e justiça”, está claro), tem de ser “limpa do método d’Hondt, do sistema proporcional, da ideia de que os deputados são eleitos por listas” e, no fundo, de tudo o que contenha de democrático. Do alto da sua arrogância, aponta um caminho para a revisão que não deve passar em claro. É que se a revisão não for feita a bem, “terá de ser feita a mal” . Perante a incredulidade da jornalista, explica: “Um golpe de Estado, uma revolução, pronunciamentos ou assassinatos” . Nem mais.

De facto, não olhou a meios na aplicação da “lei Barreto”. Uma lei criminosa aplicada por meios criminosos. Para usar a linguagem do fundamentalismo islâmico agora tão referida, desta vez lançou uma “fatwa” sobre a Constituição e quem a defenda. Resta saber se mais alguém fala pela boca desta sinistra criatura.

*Este artigo foi publicado no ”Avante!” nº 2149, 5.02.2015

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