Paula
Ferreira – Jornal de Notícias, opinião
Durante
esta semana, se nada de anormal acontecer, saberemos quem nos vai governar. O
presidente da República deve anunciar ao país quem nomeará como
primeiro-ministro. Até agora, temos vivido um impasse. Cavaco Silva, ao longo
dos últimos meses, não se cansou de apelar ao consenso e de definir como meta
de fim de mandato nomear um Governo estável - portanto, com apoio parlamentar.
Os resultados de 4 de outubro são conhecidos de todos, e não apontam em tal
sentido. Neste momento, a possibilidade de haver um executivo com apoio
parlamentar está à esquerda do espetro político.
Será
Cavaco Silva, que garantiu durante o fim de semana ter sido este um dos
cenários analisados, capaz de nomear um Governo liderado por António Costa,
apoiado por Catarina Martins e Jerónimo de Sousa? Se o fizesse, assistiríamos a
algo ainda mais espantoso do que temos vivido nos últimos dias, com os
comunistas a declararem apoio a uma solução governativa liderada pelos
socialistas. Contudo, se não o fizer, é caso para perguntar: estamos a assistir
a uma peça que vai à cena, num teatro em que na plateia estão sentados os
portugueses?
Ontem,
Passos Coelho foi prestar contas ao presidente da República. Incumbido de
encontrar uma solução estável de governação, Passos esteve dependente das propostas
de um PS que parece apostado em não deixar cair o apoio manifestado, desde a
noite das eleições, pelo BE e PCP. O objetivo comum dos partidos à esquerda do
PS é afastar a Direita do poder, e sua política austeritária, assumindo deixar
entre parênteses algumas das bandeiras dos seus programas eleitorais. Uma
questão se levanta: terá o PSD feito os esforços necessários para conseguir um
acordo parlamentar? Não sabemos. Mas a perceção que fica é de que foi António
Costa a assumir esse papel à Esquerda, perante o "fazer de morto" da
coligação PàF.
Se
a solução mais estável for um Governo socialista, apoiado no Parlamento pelos
partidos à Esquerda e o PAN, Cavaco Silva terá consciência de que Costa -
embora o PS não seja o Syriza, nunca foi - será a continuidade dos últimos
quatro anos. Um risco? Um risco, claro, que a Europa estará a acompanhar com a
máxima atenção. Comunistas num Governo europeu? A experiência grega
mostrou-nos, de forma clara, que se assim for a guerra surda será aberta.
Cavaco
parece condenado a dar posse a Passos Coelho. Nada de surpreendente se
recordarmos a relação que manteve com o Executivo na última legislatura. Mesmo
sabendo que será um Governo a prazo. A não ser que Cavaco esteja a fazer as
mesmas contas que António Costa para ver quem, dentro do PS, pode apoiar o
Governo de Direita. E se a rebelião acontecer no Largo do Rato, poderá ser
suficiente para manter vivo o "arco da governabilidade".
Sem comentários:
Enviar um comentário