Durante
o governo de direita em Portugal, de 2011 a 2014, assistiu-se a um esforço da Troika
(FMI e UE) para transformar o Estado, que se queria social e apoio à população,
em fiscal e perseguidor dos cidadãos. Era o contrário da democracia instaurada
pelo 25 de Abril há quarenta anos, que começou a ser minada por Mário Soares em
1976 quando eleito, ao trazer o programa da social-democracia subordinado ao
imperialismo para dirigir a vida política nacional. Durante estas 4 décadas, o
PS aproximou-se dos partidos de direita com quem alternou a condução do governo
até eleger Sócrates (formado na juventude do PSD e preparado pela TV) para
desempenhar como socialista as orientações do Clube de Bildemberg, basilar na
União Europeia. Com uma gestão financeira desastrosa que aprofundou a dívida
nacional (misturada com dívidas privadas), abriu caminho para os partidos de
direita, PSD/CDS, assumirem o Governo como emissários das orientações diretas
das Comissões Européias que consideram o país a serviço da gestão financeira e
não da democracia. Ou seja, abandonou-se a preocupação com o desenvolvimento
social e económico que eleva as condições de vida e trabalho dos cidadãos a
favor das regras do mercado internacional e da acumulação de capital nas empresas
financeiras privadas.
Tal
percurso fortaleceu a direita em Portugal, que se ofereceu como agente do imperialismo
adotado pela UE para subordinar a nação a um projeto externo, mas despertou a
esquerda para a busca de apoio organizado em pequenos partidos e de uma tendência
dentro do PS, que acompanharam o fortalecimento do movimento sindical na defesa
dos direitos democráticos levantados no 25 de Abril. A estabilidade ideológica
do PCP permitiu que liderasse uma unidade de esquerda que apoiou a eleição de
um governo PS à esquerda, destronando a direita. Foi clara a introdução do
conceito de esquerda, de cidadania e de Estado social (para atender a população
e as forças produtivas contra a ganância financeira do setor financeiro que
delapidara a independência nacional), nos debates políticos inclusive
promovidos pela média. Isto coincidiu com mudanças simultâneas em toda a
Europa, detonadas com o flagelo dos milhões de fugitivos das nações bombardeadas
(tanto pelas forças da NATO e do imperialismo norte-americano como do grupo
auto denominado Estado Islâmico).
Vemos
a oscilação das condições de cidadania, quando o Estado é um instrumento para o
desenvolvimento social e económico - com o 25 de Abril em 1974 - e com as
forças de esquerda no Parlamento em fins de 2015 - ou quando o Estado é
controlado por um poder externo e exerce o seu poder fiscal e de causador da
austeridade que leva o povo à perda dos seus direitos sociais: pensões,
emprego, habitação, saúde, escola, alimentação, transporte, segurança civil.
Corresponde à tendência individualista do sistema capitalista que deixa as
pessoas sem os recursos institucionais da cidadania.
Mesmo
os governantes submissos pensam poder redimir-se das falhas de administração atribuindo
os erros às "ordens recebidas da UE", o que não justifica perante o
povo e o país, a nação que o elegeu para defender a soberania do país.
Mas
o facto é que o governo da direita, PSD/CDS, transformou o Estado no fiscal prepotente,
capaz de levar a habitação do cidadão a leilão para pagar uma dívida pequena.
Face a esta situação, o governo PS de hoje, que atende o programa da esquerda,
trouxe um alívio que é a confiança no Estado e não o medo ou a revolta. Sente-se
o benefício dessa confiança que aproxima o cidadão às instituições que
respeitam os direitos democráticos.
A
Europa está em crise diante dos erros e crimes cometidos contra a soberania das
nações - levando a guerra para dentro das que estão no Oriente Médio e Norte da
África ou que deixaram o socialismo soviético - e das que compõem a União
Europeia, através da imposição de decisões financeiras e de política social
anti-democráticas. Nada fez pela paz, que seria o único objetivo para evitar o
fluxo de populações desesperadas em busca de refúgio e condições de vida
equilibrada, nem mesmo impediu que bandos de traficantes organizassem a saída
pelo Mediterrâneo iludindo os viajantes com inadequados barcos insufláveis para
enfrentar tempestades marítimas. Também não foi capaz de organizar missões de
salvamento deixando que centenas de milhares de adultos e crianças andassem a
pé, no frio e na chuva, em busca de socorro entre os países europeus ou
morressem afogados. Uma falência vergonhosa que se somou à crise de gestão
política no continente.
A
consequência nos países mais ricos é o ressurgimento do nacionalismo de direita
com os grupo e partidos neo-nazistas e as ações terroristas por grupos que
foram armados para as primeiras invasões imperialistas das chamada
"primaveras" com o objetivo de anarquisarem as sociedades mais
frágeis. Diante deste caos civilizacional, só referem a crise financeira que
atinge uma elite apátrida, egoista e criminosa em relação aos cidadãos que
pagam, com a austeridade imposta, os seus roubos e incompetências na gestão do
dinheiro público.
Os
Estados Unidos, arrotam grandeza ameaçando os terroristas - que criaram como mercenários
para gerar conflitos sociais que "justificaram" as suas invasões - e
os países ricos da Europa seguem o modelo valendo-se das mortes que se multiplicam
como revanche do Estado Islâmico nos seus centros urbanos. O mesmo ocorre com
Israel que aterroriza permanentemente o Estado Palestino. Correm atrás do
estopim que eles próprios acenderam para se fazerem de defensores dos seus
povos. Mas fogem da paz "como o diabo da cruz".
Os
povos que despertaram para a defesa da cidadania com um Estado democrático à esquerda,
criam a única defesa possível para deixar uma sociedade responsável e saudável
para as novas gerações.
*Zillah
Branco - Cientista social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de
vida e trabalho no Brasil, Chile, Portugal e Cabo Verde.
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