terça-feira, 7 de junho de 2016

O MÃOS-SUJAS EMBARCA NO CAIS DO LODO DA MOTA ENGIL



Acerca de Portas, o mãos-sujas. Acerca da Mota Engil, a fossa onde políticos mergulham e se sujam integralmente. Uns e outros são uns sem-vergonha. É legal? Parece que sim. Para aqueles que são os próprios a fabricar as leis é legal quase tudo que querem. E a moralidade? Não há. E a decência? Também não? E a transparência? Está opaca. Honestidade... Ora, ora. Resposta? Vide os manuais da bagunça de certos e incertos políticos, de certos e incertos empresários nacionais e estrangeiros. Quanto a Portas, foram os Pandur, os submarinos, as fotocópias, os documentos desaparecidos… Lodo ou trampa? E o lodo não é acumulação de muitas trampas?

Há lodo no cais? Pois. Esse é o título em Portugal do filme realizado por Elia Kazan. Um dos filmes mais importantes do cinema americano dos anos 50. Filme que deu a Marlon Brando um dos mais marcantes papéis da sua carreira. Neste caso o lodo não existe no cais mas sim na Mota Engil e nos políticos carregados de penumbras e breus ao longo das suas carreiras. E se estiverem limpinhos-limpinhos sabem que se podem sujar na Mota Engil e noutras esterqueiras nacionais e estrangeiras. Não resistem. A ganância move-os, apesar do lodo que os alimenta e de que teimam em nunca mais sair desde que o provam.

Boa, Portas. Esta é só mais uma para registar no cardápio das poucas-vergonhas, para não lhes chamar outra coisa mais feérica e contundente.

Mudar as leis, para dar fim a todas as javardices que ao longo de décadas assistimos impávidos e indignados, não é com eles. As mentes criminosas abundam no legislador. Crime, imoral, inadmissível - dizemos nós.

Mais um mãos-sujas que embarca no cais do lodo da Mota Engil… Podia ser noutro desse tipo de cais. É o que se queira. Topas?

Mário Motta / PG

Bom dia, este é o seu Expresso Curto 

João Viieira Pereira – Expresso

A Florida dos nossos políticos

Há empresas que têm tendência para serem notícia, e nem sempre pelas boas razões. A Mota Engil é uma delas. Já em 2008 tinha espantado ao contratar para seu CEO Jorge Coelho. Mas neste caso o ex-ministro das Obras Públicas ainda aguardou dois anos.

Paulo Portas não esperou tanto tempo. É verdade que não vai (para já) ocupar um cargo executivo, mas liderar o Conselho Internacional da empresa, um órgão de aconselhamento estratégico, é o mesmo que dizer que vai ser uma peça chave na internacionalização da construtora. E com um enfoque especial na América Latina, uma das zonas de maior crescimento da atividade da Mota Engil. Só no México a carteira de investimentos da empresa de António Mota é de 1,2 mil milhões como escreve Abílio Ferreira.

Para quem teve a oportunidade de ter acompanhado Paulo Portas numa das suas viagens como ministro dos Negócios Estrangeiros ou como vice primeiro-ministro (eu estive na deslocação que fez à cidade do México) sabe que Portas faz a diferença. Não é todos os dias que um político faz esperar uma sala cheia de empresários quase uma hora para depois chegar e, de improviso, discursar outra hora, em espanhol, e receber uma ovação de pé.

Apesar de tudo o que Paulo fez pela internacionalização das empresas portuguesas, Portas considera que aceitar esta função não é incompatível com as suas anteriores funções. Pronto, já podem parar de sorrir. É que no fundo, como diz um amigo meu, a Mota Engil é uma espécie de Florida para os nossos políticos.

Está na forja o primeiro veto de Marcelo Rebelo de Sousa. Esta terça-feira entram três dossiês polémicos em Belém. As 35 horas, a procriação medicamente assistida e a lei das barrigas de aluguer. Este último poderá chumbar.

Mário Centeno está confiante. O ministro das Finanças viajou para Nova Iorque com uma delegação de empresários, muito poucos por sinal, numa iniciativa da bolsa portuguesa. Num jantar afirmou que Portugal "atravessa um processo de retoma que ainda está na infância”. E disse ainda que o ambiente para investir “é estável” e que “há estabilidade política” e sem “ameaças da extrema-esquerda ou da direita". Será que Centeno vive em Portugal, ou ainda se está a referir aos tempos em que estudou em Harvard?

A agência de rating Moody’s diz que pode voltar a baixar o rating da Caixa, que já é de lixo, tudo por causa do aumento de capital que se aproxima. No mesmo dia em que a comissária europeia da Concorrência afirmou que o Governo português pode investir o que quiser no banco público desde que o faça “como um privado”. O mesmo que dizer que o dinheiro injetado tem de ser para gerar rendimento, e não para fornecer uma ajudinha à CGD.

OUTRAS NOTÍCIAS

Se tiver em sua posse 30 ações do BCP deve conseguir trocá-las por um café. O valor do banco não para de cair (ontem quase 8%).Em oito sessões da bolsa já perdeu 33%. A CMVM não teve alternativa a não ser manter a suspensão das vendas a descoberto, de modo a proteger o banco de ataques especulativos.

O serviço de informação não partidário What UK Thinks, que está a acompanhar o que os britânicos pensam sobre a União Europeia e sobre o próximo referendo, dá pela primeira vez vantagem ao Brexit (51%) ,tendo como base uma média de várias sondagens feitas nos últimos dias.

Clinton vs Trump. É este o palco de um dos maiores espetáculos do mundo, as eleições norte-americanas. A imprensa internacional diz que Hillary já tem os delegados suficientes para ser a candidata democrata.

Foi detido um cidadão francês na Ucrânia suspeito de estar a planear ataques terroristas durante o Euro. Com o Europeu à porta aumentam os receios sobre a segurança. Entre armas e explosivos, as imagens do arsenal descoberto são impressionantes.

Por falar em futebol, a Goldman Sachs estima que a probabilidade de Portugal ganhar o Euro 2016 é apenas de 8%. E que o mais provável é que sejamos eliminados nos quartos-de-final, às mãos de Inglaterra. Está na hora de ensinar a este banco americano que, mais uma vez, estão, obviamente, errados.

E já agora, não perca esta excelente prosa de Nicolau Santos que explica porque a seleção se confunde com o Sporting. Isto e muito mais no site especial Euro 2016 lançado pelo Expresso.

Em Inglaterra o julgamento que opõe a médica Eva Carneiro ao Chelsea (e a Mourinho) faz os destaques da imprensa. A sessão começou com a descrição de insultos alegadamente proferidos pelo ex-treinador e a revelação de que Eva Carneiro recusou 1,2 milhões de libras para chegar a acordo com o clube.

Não mudou o mundo mas o “Sexo e a Cidade” foi uma das séries de televisão que é vista como precursora de uma nova revolução sexual da mulher. Fez ontem 18 anos que foi transmitido o primeiro episódio.

Depois de quase 10 anos preso, Vale e Azevedo foi libertado esta terça-feira. Mas o polémico ex-presidente do Benfica enfrenta uma outra condenação, a 10 anos de prisão. Cumprir a pena vai depender agora dos tribunais ingleses.

Isabel dos Santos confirmou que, tal como avançou o Expresso no sábado, vai sair dos conselhos de administração da NOS, do banco BIC e da Efacec.

Bem vindos ao futuro! A Airbus produziu o primeiro avião impresso em 3D e já fez testes de voo com sucesso.

O El Mundo elencou 5 razões para os espanhóis virem aos festivais portugueses. Conheça-as aqui.

E vamos ao jornais de hoje:

- O Público faz manchete com um número. 18 mil é o total de condutores que todos os meses ficam proibidos de conduzir. E dá destaque também ao número de alunos que fizeram as provas de aferição, mesmo não contando para a nota, 96%.

- O Jornal de Notícias denuncia que o presidente da Câmara de Celorico de Basto foi acusado de favorecer a empresa dos pais, uma consultora a quem adjudicou contratos. Em sua defesa alegou desconhecer que a empresa era da família.

- O Diário de Notícias faz manchete com a segurança para o Euro. Seleção proibida de fazer treino para emigrantes, titula o diário.

- O jornal “i”diz que a Caixa pode custar mais aos contribuintes do que o BPN e o Banif juntos.

- “Isabel promete transparência” é a legenda da fotografia de capa doNegócios na qual a filha do presidente de Angola toma posse como presidente do conselho de administração da Sonangol.

O QUE DIZEM OS NÚMEROS

300 mil. Número de veículos que atravessaram o túnel do Marão no seu primeiro mês.

31 mil. Total de militares envolvidos no maior exercício da NATOdesde a guerra fria, que decorrerá na Polónia durante 10 dias e envolve 24 países.

96 milhões de dólares. Valor que o Equador deverá pagar à petrolífera Chevron depois de o Supremo Tribunal dos EUA ter chumbado o recurso que o Equador interpôs para evitar pagar a indemnização. O processo arrasta-se há mais de 20 anos e está ligado aos danos alegadamente causados na floresta amazónica do Equador entre 1964 e 1990 pela Texaco, que entretanto foi comprada pela Chevron.

13 mil. É o número de agentes da polícia francesa que farão parte do dispositivo de segurança do Euro 2016 em Ile-de-France.

1.200. Nascimentos que a Dinamarca registará a mais, apenas no verão, em relação ao ano passado. Isto depois da exibição de um anúncio que pretendia combater o envelhecimento da população apelando à natalidade através de férias em países com sol, tudo para promover a atividade sexual. O governo dinamarquês diz contudo que não é possível atribuir o aumento da natalidade a esse anúncio viral.

75%. Corte que Cristhopher Bailey, Ceo da Burberry, sentiu no seu ordenado relativamente ao ano anterior por não ter cumprido os objetivos, recebendo "somente" 2,4 milhões de euros.

4,3 milhões de euros. Valor pago pelo xeque Arif Ahmad Al Zarouni pela matrícula número 1 do Emirado de Sharjah. Não foi um recorde, pois em 2008 outra matrícula foi vendida por 12,5 milhões de euros em Abu Dabi.

120 mil euros. É o preço estimado das 56 fotografias da última sessão fotográfica de Marylin Monroe, captadas seis semanas antes da sua morte pela objetiva de Bert Stern, que serão leiloadas na próxima sexta-feira, em Viena.

690. É o número de pessoas que poderão participar no primeiro cruzeiro-orgia da história.

O QUE EU ANDO A LER

Já não é a primeira vez que escrevo que esta rubrica se devia chamar “O que eu quero ler (e muitas vezes não consigo)”. Mantendo-me fiel à afirmação que serve de título a este habitual epílogo, o que eu ando mesmo a ler é o resto do relatório final que considerou Ricardo Salgado, Morais Pires e José Manuel Espírito Santo culpados, com dolo, de uma série de ações que levaram à colocação massiva de papel comercial do Grupo Espírito Santo. São 762 páginas, mais anexos, mas uma leitura estimulante, pelo menos para mim. Como os documentos não estão disponíveis, deixo aqui alguns links para notícias que o Expresso já publicou sobre este processo.

E termino então com uma sugestão que me vai acompanhar nos próximos dias em que andar em viagem. Pós-Capitalismo é uma obra interessante de Paul Mason. O jornalista de The Guardian, editor de economia do Channel 4 e professor universitário, tornou-se amplamente conhecido pelas posições que tomou a favor da Grécia e contra a UE na recente crise. E escrevo apenas interessante porque não podia estar mais em desacordo com a génese deste livro, onde o autor parte do princípio que o capitalismo morreu. Dois séculos depois, dizer que o capitalismo morreu é refutar que este sistema económico é feito de altos e baixos, que se reinventa a cada período de crescimento e em cada período de crise.

Mas Mason tem razão em defender que devemos caminhar para um sistema, se não diferente, pelo menos mais justo, se isso for possível, claro. Vou ler e depois partilho o que achei da obra. Até lá podem ler a crítica de Jorge Nascimento Rodrigues.

Tenha uma excelente boa terça-feira. O Curto volta amanha pela mão de Martim Silva.

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