Martinho Júnior, Luanda
1
– Apesar dos bons ofícios de Putin para com Donald Trump, no desespero de causa
em relação às acumuladas desilusões propiciadas por Barack Hussein Obama
(coloco aqui, não por acaso, o nome completo do personagem Nobel da Paz
iludida, até por que ele demonstrou, no uso de sua completa entidade, ser tão
permeável ao fundamentalismo das monarquias arábicas a ponto de contribuir para
incentivar monstros como a Al Qaeda, ou o Estado Islâmico), é evidente que os
riscos vão-se apresentar de outro modo, segundo outros métodos e orientações,
no sentido de prejudicar ainda mais o tão depauperado estado do mundo e o
quadro dos relacionamentos internacionais, em nome dos mesmíssimos 1% de antes!
Por
conseguinte: a ruralidade e a “ferrugem” das mensagens de Donald
Trump em campanha, demonstram como os Republicanos conseguiram manter o poder
nos Estados Unidos da América, refém de seus próprios interesses, ainda que com
menos votos dos que alcançados pelos Democratas e ganhando ao mesmo tempo Senado
e Congresso!
A
ruralidade e a “ferrugem” demonstrados, uma espécie de regresso às
origens das culturas anglo-saxónicas protestantes dos velhos tempos da
expansão, ou ao sonho do século americano que se perdeu na voragem das
desaparecidas fábricas que animaram o apogeu do após IIª Guerra Mundial, teve
um casamento quase perfeito com a perdulária inteligência elitista da obstinada
Hillary em nome dos Clinton (que tributo fazem ao “rhodesschollarship” de
Bill!), bloqueando profeticamente a esperança jovem depositada com Bernie
Sanders e atirando-a para uma persectiva de “calendas gregas”!...
Notáveis
esses 1%, manipuladores das contradições a esse nível: queimam as gorduras
neoliberais de Hillary Clinton, com um maçarico enferrujado caciquismo dum
bilionário franco-atirador… que em relação ao neoliberalismo disse nada!!!
2
– Não pode haver dúvidas: o nacionalismo russo, que parte da expressão atingida
por uma União Soviética que atingiu elevados graus de inteligência e sabedoria
acumulados nas suas Academias, (que não são nem velharias nem depósitos
desabitados), que parte dum legado enorme de infraestruturas e estruturas,
indústrias e tecnologias duramente construídas ao longo do século XX e capazes
de servir de base a novas projecções “energéticas” (muito visível por
exemplo no potencial da Marinha de Guerra com navios cujo casco e só o casco
são obra da década de 70 ou 80 do século passado), que produz um “know
how” de ponta que nenhuma sanção pode “congelar”, o jovem
nacionalismo russo, digo eu, nada tem a ver com a ruralidade do interior profundo
dos Estados Unidos, ou com a “ferrugem” do cinturão industrial, feita
ilusão nas obstinadas mensagens do Trump candidato, inestimável colector de
caciques que terá de abandonar essas vestes e enfrentar os desafios da
modernidade de que se afastaram os norte-americanos, em prejuízo de sua própria
juventude, tudo por causa dum neoliberalismo que se tem tornado congénito.
A Rússia pode ter muitos defeitos, Putin também, mas aprenderam a lição da precariedade neoliberal conforme ao tandem Gorbatchov-Ieltsin, que foi ao extremo de perder até a Iª Guerra da Chechénia… algo incompreensível para o franco-atirador Donald Trump!
Bernie
Sanders será como um fantasma social-democrata para Donald Trump, tanto como
para o carácter da inteligência elitista que tolhe os Democratas que se
aninharam ao apogeu finalmente desmistificado dos Clinton, ou ao tão “transversal” fracasso
nos termos das obscuras alianças arábicas de Barack Hussein Obama, agora com
mais uma maturação de quatro anos, uma maturação que se prolongará porventura
ainda mais, até que os jovens de hoje, que desiludidos e marginalizados se
erguem nas ruas e praças das cidades norte-americanas mais saudavelmente
cosmopolitas, com uma desilusão ainda mais acumulada, mas também ainda mais
amadurecida por que temperada na radicalização dos termos contraditórios
espelhados pelo mapa dos resultados das eleições, assumam a fase adulta dum
poder disponível para as suas muito legítimas quão proféticas convicções!
Nem
neoliberalismo, nem social-democracias, muito menos caciques nesses futuros e
enigmáticos horizontes, é o que nos diz claramente Naom Klein interpretando o “fenómeno
Trump” com os sentidos abertos ao futuro:
…”As
pessoas têm direito de estar com raiva, e uma agenda de esquerda poderosa e
multitemática pode dirigir essa raiva para onde ela deve ser dirigida, enquanto
luta por soluções globais que unirão uma sociedade desgastada.
Essa
articulação é possível.
No
Canadá, começamos a pavimentar essa união sob a bandeira de uma agenda popular
denominada The Leap Manifesto (O Manifesto do Salto), endossado
por mais de 220 organizações, do Greenpeace do Canadá ao “Black Lives Matter”
de Toronto e alguns dos nossos maiores sindicatos.
A
surpreendente campanha de Bernie Sanders percorreu um longo caminho na direção
de construir esse tipo de coalizão, e demonstrou que há espaço, nos EUA, para o
socialismo democrático. Mas Sanders não foi capaz de se comunicar com os
eleitores negros mais velhos e latinos que são, demograficamente, os que sofrem
mais abuso do nosso modelo econômico atual. Esse fracasso impediu a campanha de
atingir seu potencial. Aqueles erros podem ser corrigidos e uma coalizão forte
e transformadora pode ser construída.
Essa
é a tarefa que temos à frente. O Partido Democrata precisa ser, ou
decididamente arrancado dos neoliberais pró-corporações, ou abandonado”...
Internamente
nada será pacífico nos Estados Unidos da América nos tempos mais próximos e
externamente sua força terá muito menos praticabilidade inteligente, por muito
que tentem a inteligência económica e o “soft power” do neoliberal
costume!...
Só nessa altura haverá a possibilidade de quebrar efectivamente com os banhos de promessas dirigidas ao pesadelo rural e à “ferrugem” urbana, quebrar com a hegemonia unipolar e por fim quebrar definitivamente com o “estabelishment” de que Trump não se vai desenvencilhar de forma desenvolta, ainda que acionando prioritariamente toda a capacidade da inteligência económica nos seus relacionamentos internos e internacionais, em busca duma outra imagem, afinal no quadro do mesmíssimo posicionamento de domínio!
O
segredo de qualquer progresso está numa cultura de inteligência historicamente
consolidada mas sempre recriada, que se pode abrir a valores para lá dos
simples negócios e desequilibrados relacionamentos, não numa ilusão de cultura
meio “hollywoodesca” de inteligência recriada a partir de ilusões
suportadas nos desequilíbrios acumulados do passado, desde os tempos duma
expansão que foi tão pouco pacífica ao ponto de exterminar as nações autóctones
e escravizar a mão-de-obra africana transportada à força pelos esclavagistas…
algo que nos traz uma certeza: Putin não se vai deixar equivocar, quando do
outro lado está um “candidato” que foi até apoiado pelo Ku Klux Klan!
Resta
saber até quando durará a provavelmente tão efémera transitoriedade da
aproximação norte-americana / russa, que oxalá se fizesse mesmo assim sobre os
escombros das atávicas monarquias arábicas, ou pelo menos dos seus protegidos
tornados catapultas de caos e terrorismo, como a Al Qaeda e o Estado Islâmico!
Será
que uma hegemonia unipolar assente num pressuposto de globalização neoliberal,
vai chegar ao ponto duma autocondescendência, perdendo gorduras, apenas por
causa dum manifesto “flirt” por demais evidente, que ainda não passa
dum simples piscar de olhos para com a emergência multipolar?
Imagens: Para
reflexão conforme as fotos, serão mesmo as armas de Putin e de Trump,
desafiadoras da “nova ordem global”, ou estamos na presença de mais um equívoco
para toda a humanidade?
A
consultar:
Uma
questão de plasticidade – http://paginaglobal.blogspot.com/2016/11/uma-questao-de-plasticidade.html
El
lenguaje gestual revela la verdad de la reunión entre Obama y Trump (Fotos) – https://actualidad.rt.com/actualidad/223345-lenguaje-corporal-verdad-encuentro-obama-trump
Dos
tímidos aos pessimistas, como votou a América – http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12161:2016-11-09-21-10-03&catid=72:imagens-rolantes
“Hillary
errou ao trocar os votos e ideias de Bernie Sanders pelo eleitor conservador” – http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12164:hillary-errou-ao-trocar-os-votos-e-ideias-de-bernie-sanders-pelo-eleitor-conservador&catid=34:manchete
Cinq
raisons pour lesquelles Trump va gagner – http://www.huffingtonpost.fr/michael-moore/cinq-raisons-pour-lesquelles-trump-va-gagner/
La
strana coppia: Donald Trump e Vladimir Putin – http://www.rischiocalcolato.it/2016/03/la-strana-coppia-donald-trump-e-vladimir-putin.html
"Bien
hecho Putin": ¿Por qué se atribuye a Rusia la victoria de Trump? – https://actualidad.rt.com/actualidad/223310-victoria-trump-putin-rusia-medios
Como
se colocou Donald Trump no poder – http://outraspalavras.net/capa/como-se-colocou-donald-trump-no-poder/
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