Mariana Mortágua* -Jornal de Notícias, opinião
Assunção
Cristas deu recentemente uma entrevista em que fez duas afirmações que merecem
destaque. A primeira é que nunca, no tempo do anterior Governo, os assuntos da
Banca foram a Conselho de Ministros. O que Assunção Cristas nos conta - achando
isso normal - é que, ainda durante a maior crise financeira desde 1929, o seu
Governo não achou importante debater o sistema bancário. Nem as causas que
levaram à injeção de milhares de milhões de euros em vários bancos, entre eles
o Banif e o BES. Nem os problemas que persistem no balanço dos bancos e que são
um impedimento real à recuperação económica.
É
uma revelação grave, que nos confirma duas coisas. A primeira é que, na
obsessão pela redução dos custos do trabalho e dos gastos públicos, o problema
financeiro não foi considerado como a principal causa da crise. A segunda é que
o Governo de Passos e Portas nunca teve intenção de resolver os problemas da
Banca. Navegou à vista, lidando com o que aparecia, e deixando o resto para
quem viesse a seguir.
A
segunda afirmação, que me parece igualmente grave, diz respeito ao tema Paulo
Núncio e do seu passado profissional.
Segundo
Assunção Cristas, não há qualquer relação entre as funções desempenhadas por
Núncio nas sociedades de advogados por onde passou e a sua ação governativa. É compreensível
que, sendo presidente do CDS, Cristas considere a situação normal. Deve ser
tido em conta que, de Lobo Xavier a Diogo Feio, são vários os altos quadros do
partido ligados aos departamentos de fiscalidade de importantes escritórios de
advogados.
Em
teoria, nada impede que um advogado possa assumir funções governativas. Na
prática, há muitos tipos de advocacia, e tudo depende da atividade que se
desempenha. O problema surge quando um advogado, como Núncio, faz carreira a
ajudar empresas e pessoas a contornar o mesmo sistema que depois, como
secretário de Estado, é suposto proteger. E quando, depois de conhecer bem a
máquina, volta à sua atividade de aconselhamento privado.
Que
Assunção Cristas não perceba o problema desta relação mostra bem como a porta
giratória entre o poder público e os negócios não incomoda o CDS, muito pelo
contrário.
Deputada
do BE
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