Díli,
23 out (Lusa) - A incerteza sobre o futuro político de Timor-Leste e os
cenários em jogo no caso da queda do Governo, depois do chumbo parlamentar do
programa, estão a marcar os debates políticos do país.
Uma
situação que se torna particularmente evidente nas redes sociais, especialmente
no Facebook, que nos últimos meses têm sido um dos principais palcos de debate
político, com muitos dirigentes partidários e políticos, instituições públicas
e privadas e cidadãos a usarem perfis para defender as suas posições.
Essa
tendência aumentou significativamente durante as campanhas para as eleições
presidencial e parlamentar deste ano e tornou-se novamente "acesa" no
fim de semana, depois de a oposição ter aprovado um primeiro chumbo do programa
do Governo.
A
dominar o debate nos últimos dias está a questão dos cenários que se colocam ao
país no caso de a oposição voltar a chumbar o programa do Governo que, o
executivo disse estar a rever para voltar a apresentar aos deputados.
No
caso do segundo chumbo, o Governo cai e cabe ao Presidente timorense, Francisco
Guterres Lu-Olo, decidir se convida outro partido a formar Governo, se avança
para um Executivo de iniciativa presidencial ou se opta por eleições
antecipadas.
A
oposição tem vindo a insistir no primeiro cenário argumentando que as três
forças que chumbaram o programa do Governo - Congresso Nacional da Reconstrução
Timorense (CNRT), Partido Libertação Popular (PLP) e Kmanek Haburas Unidade
Nacional Timor Oan (KHUNTO) - se uniram numa Aliança de Maioria Parlamentar
(AMP) capaz de garantir estabilidade governativa, que acusam o atual Governo
minoritário de não ter.
Dirigentes
do CNRT e do PLP têm vindo nos últimos dias a partilhar um excerto de um vídeo
de uma declaração de Lu-Olo, na qual o chefe de Estado parece defender que a
opção do convite a um novo partido para formar Governo teria precedente sobre a
opção de eleições antecipadas.
Em
resposta, dirigentes da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente e do
Partido Democrático (Fretilin e PD, partidos do Governo) usaram os seus perfis
para partilhar o vídeo da entrevista na íntegra, afirmando que o comentário
está a ser "tirado de contexto". Insistiram ainda na opção de
eleições antecipadas e, muitos militantes, já estão em 'campanha' nas redes
sociais.
O
assunto chegou mesmo à Igreja com o presidente da Conferência Episcopal
Timorense, bispo Basílio do Nascimento, a declarar a jornalistas dos serviços
de comunicação da diocese que "normalmente" quando um Governo cai
"se vai para eleições antecipadas".
Tudo
depende, porém, do que ocorrer com o segundo eventual chumbo.
Em
comunicado, divulgado no fim de semana, o Governo explicou que está a preparar
"um novo programa" que "será apresentado em simultâneo com o
orçamento retificativo até ao final do ano".
O
Governo garantiu que "tudo fará para dar ao povo um futuro mais digno, num
Timor-Leste mais inclusivo, justo e próspero" e o primeiro-ministro, Mari
Alkatiri, sublinhou que "tudo fará para elevar a nação a uma situação
prometida pelos líderes históricos durante os árduos anos de luta".
O
executivo destacou "a maturidade" mostrada pela população no momento
atual e considerou que a moção de rejeição ao programa "representa mais um
momento de crescimento desta jovem democracia, num país empenhado em respeitar
os valores fundamentais, que o Governo serenamente aceita".
"A
democracia não será dirigida por outros valores que não os mais elevados. Esta
posição já valeu a Timor-Leste o reconhecimento internacionalmente e, no que
depende do Governo, irá manter-se", de acordo com o comunicado.
Um
dos aspetos menos positivos do recente debate, e que se chegou a evidenciar com
críticas e gritos de alguns membros do público no final da discussão
parlamentar do programa de Governo, têm sido as acusações contra alguns dirigentes
de que teriam sido, no passado, a favor da autonomia de Timor-Leste sob
soberania indonésia.
Nas
últimas semanas têm-se repetido mensagens publicadas nas redes sociais que
acusam alguns dos novos membros do Executivo de serem pró-autonomistas, acusação
que foi depois dirigida a alguns deputados das bancadas da oposição por
apoiantes dos partidos do Governo.
Apesar
da tranquilidade, a tensão política não passou despercebida, em especial porque
a televisão ainda estava em direto quando, no final do debate, alguns deputados
das bancadas do Governo, e seus apoiantes no público, dirigiram insultos aos
deputados da oposição.
Ainda
que não se tenham registado incidentes físicos e as autoridades tenham
garantido que a situação está tranquila no país, como reiterou na sexta-feira o
comandante das forças de Defesa, Lere Anan Timur, foi evidente desde
quinta-feira à noite uma menor movimentação em Díli.
As
autoridades reportaram uma maior movimentação do que o normal para os
distritos.
ASP
// EJ
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