O Comité Central da FRELIMO
reúne-se, a partir desta sexta-feira (23.03), durante três dias. A avaliação da
atual governação e a preparação dos próximos atos eleitorais são os principais
tópicos em cima da mesa.
O Comité Central da FRELIMO
está reunido desde hoje (23.03) e até ao próximo domingo na
Matola, nos arredores de Maputo. No discurso de abertura do encontro, o
Presidente da FRELIMO, Filipe Nyusi, explicou que a agenda está centrada na
análise da atual situação do país, com enfoque para o custo de vida, destacando
que é uma questão que preocupa muito os moçambicanos. Acrescentou que os
preparativos para as eleições autárquicas de outubro próximo, bem como as
eleições gerais e provinciais do próximo ano estão também entre os assuntos
principais.
Recentemente, a FRELIMO
enfrentou uma derrota histórica nas eleições intercalares em Nampula,
a terceira maior cidade do país. Nyusi comentou que este resultado coloca
à prova a capacidade da FRELIMO de enfrentar e vencer os próximos pleitos
eleitorais, mas garante que o partido não tem medo de mudanças.
"É chegado o momento da
FRELIMO dedicar mais tempo para se revelar grande e afirmar-se como um partido
moderno e não absolutista. O absolutismo não é e nunca foi a característica do
nosso partido, porque a FRELIMO nunca teve medo de mudanças”, afirma Nyusi.
Ainda durante o discurso, Filipe
Nyusi apontou que as próximas eleições poderão ser realizadas dentro de um
quadro constitucional legal marcado pelo novo modelo de descentralização, em
apreciação no Parlamento. Depois dos consensos já alcançados entre o Chefe
de Estado e o líder da RENAMO, Afonso Dlakhama, o presidente da
FRELIMO coloca a responsabilidade no partido da oposição.
"A expetativa de todos os
moçambicanos é de que a RENAMO não atrase o processo querendo introduzir novas
exigências, cuja substância é contrária à do consenso”, afirmou o
líder da FRELIMO.
Nyusi informou também que
prossegue a discussão de detalhes no âmbito de assuntos militares com
vista ao desarmamento da RENAMO, tendo frisado que "o pacote da
descentralização e a questão da desmilitarização e reintegração são duas
componentes indissociáveis”.
"No processo democrático,
não se tem nenhuma experiência de processos armados de descentralização. São
dois processos que, segundo os consensos alcançados, devem caminhar no mesmo
ritmo e na mesma direção que é o alcance de uma paz efetiva e definitiva em
Moçambique”.
O presidente da
FRELIMO aproveitou ainda o momento para condenar os ataques que
têm sido levados a cabo por armados desconhecidos na província de Cabo
Delgado, desde outubro do ano passado. Para ele, estes ataques são um atentado
à segurança e ordem públicas e uma afronta às instituições do Estado legalmente
constituído.
Desafios para a FRELIMO
Segundo o analista Gil
Laurenciano, o próximo ciclo eleitoral no país poderá criar uma nova
configuração política, considerando que a RENAMO vai participar no escrutínio,
depois de ter boicotado o último pleito eleitoral autárquico. O analista acrescenta que
a FRELIMO deverá rever a sua estratégia eleitoral e política a nível
local.
"Parece que a solução de ser
o partido que leva alguém e diz é "este que vai concorrer" não está a
dar resultados.”
Laurenciano explicou à DW África
que o maior desafio atual do governo e da FRELIMO está relacionado com a
solução do problema
das dívidas ocultas contraídas em 2013 e 2014 com garantias do
executivo sem o conhecimento do parlamento e dos parceiros internacionais.
"Isso influencia todos
os esforços que o governo tenta fazer para ver se tenta aliviar um pouco o
sofrimento a que as pessoas estão sujeitas. Esse problema das dívidas ocultas,
que acaba tendo implicações económicas, também tem implicações políticas e
essas implicações políticas podem influenciar o comportamento do eleitorado nas
próximas eleições”.
A abertura da sessão do Comité
Central da FRELIMO contou também com a apresentação de mensagens
das organizações do partido. O Secretário-geral da Juventude, Mety Gondola
foi um dos que falou na abertura da sessão, descrevendo a habitação e a
empregabilidade como questões prioritárias para a juventude moçambicana.
Gondola propôs o acesso a terrenos infraestruturados, a isenção na aquisição de
materiais de construção, e a aposta da formação técnico profissional com
enfoque para as artes e ofícios.
Leonel Matias (Maputo) | Deutsche
Welle
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