terça-feira, 28 de agosto de 2018

Paraíso da heroína floresce sob a tutela da NATO


A operação Liberdade Duradoura lançada em 2001 pela NATO no Afeganistão, sob o comando dos Estados Unidos, permitiu multiplicar por 4000 a produção de ópio neste país, origem da maioria esmagadora da heroína e outras drogas perigosas que circulam pelo mundo. Um boom que gera lucros superiores a um bilião de dólares por ano e terá provocado a morte de mais de um milhão de pessoas em 15 anos, segundo fontes concordantes de várias organizações internacionais. Um cenário que funciona sob a tutela da Aliança Atlântica, enquanto os Estados Unidos afirmam que investiram 8500 milhões de dólares na luta contra a droga no Afeganistão.

José Goulão; com Edward Barnes, Cabul | O Lado Oculto

Desde o início da operação Liberdade Duradoura, isto é, a invasão do Afeganistão pela NATO, em Outubro de 2001, a produção anual de ópio para fabrico de heroína e outras drogas ilícitas neste país cresceu entre 4000 a 4500%, alimentando um tráfico com lucros de um bilião de dólares que terá provocado a morte de mais de um milhão de pessoas. Os dados são de várias organizações internacionais, entre elas a United Nations Office Drugs and Crime, agência da ONU para a droga e o crime.

Os dados de várias fontes sobre o cultivo e tráfico de ópio na Afeganistão convergem na demonstração da existência de uma relação de causa e efeito entre a ocupação militar atlantista e o boom de um colossal negócio ilícito que torna o país responsável por mais de 90% do comércio total de heroína no mundo.

Os Estados Unidos afirmam ter investido mais de 8500 milhões de dólares no combate ao tráfico de droga no Afeganistão, mas vários meios de comunicação norte-americanos, entre eles o New York Times e o Huffington Post, admitem que se perdeu o rasto de uma verba tão importante, no caso de ter sido usada com o objectivo declarado.

“Segundo todas as perspectivas de avaliação possíveis, falhámos”, reconhece John Sopko, um dos inspectores-gerais que avalia os resultados dos programas norte-americanos para o Afeganistão. “A produção e o cultivo estão em alta, a interdição e erradicação estão em baixa, o apoio financeiro a grupos armados está em alta, a dependência e o consumo atingem níveis sem precedentes no próprio Afeganistão”, acrescenta. Neste país, há agora mais de 100 mil crianças toxicodependentes com menos de dez anos.

Em 2000, ano anterior ao início da invasão da NATO, a produção de ópio no Afeganistão foi apenas de 180 toneladas. Este valor resulta do facto de governo talibã ter aplicado uma violenta repressão contra os produtores de ópio, à luz de uma suposta política de reconversão dos objectivos agrícolas do país, dominados tradicionalmente pelo cultivo da papoila do ópio – fonte de sobrevivência de grande parte da população rural.

A partir da operação Liberdade Duradoura, lançada para “estabelecer a democracia no Afeganistão”, a produção aumentou exponencialmente e, em 2007, atingiu um pico de sete mil toneladas, isto é, registou um aumento de quase 4000%. Depois disso, segundo os relatórios da agência da ONU, a produção estabilizou em torno de média de sete mil toneladas ano, com alguns aumentos e uma redução para metade em 2015, não por causa de incidências da ocupação mas devido a uma praga que afectou duramente a produção de papoila. Uma contrariedade remediada com notável eficácia, uma vez que a safra do ano seguinte voltou aos valores médios.

NATO embolsa os lucros? (continua)


Na foto: Soldado da NATO entre papoilas de ópio no Afeganistão

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