Martinho Júnior, Luanda
EXERCÍCIO ALCORA, SEU
APROVEITAMENTO E O ÂMBITO DO 27 DE MAIO DE 1977...
LINHA CONTRA ANGOLA A PARTIR DE
PORTUGAL COM MUITO POR INVESTIGAR!...
... E NÃO É UMA MERA E
VERSÁTIL "QUESTÃO IRRITANTE"…
É EM TODA A SUA PROFUNDIDADE
SÓRDIDA, A PROFUNDIDADE DUMA LONGA GUERRA PSICOLÓGICA COM SUAS METAMORFOSES E
COM ADAPTAÇÕES EM FUNÇÃO
DAS "MUDANÇAS DE ÉPOCAS"!
19 – Frank Charles Carlucci, um
oficial sénior de inteligência da CIA que antes de ir para Portugal "fermentou" em
África (Tanzânia, onde desembarcou o Che e Zaíre, para onde foi o Che em 1965,
depois do assassinato de Patrice Lumumba), teve acesso aos segredos do âmbito
do Exercício ALCORA e por isso, foi "mestre" no seu aproveitamento
antes, durante e após o 25 de Novembro de 1975 em Portugal!...
Há muitas questões a levantar,
entre elas nexos humanos que contribuíram duma forma ou de outra para a eclosão
do fenómeno golpista do 27 de Maio em Angola, numa altura em que em Luanda as
conjunturas imediatas ao 11 de Novembro de 1975 se propiciavam para tal.
Por exemplo: haviam ou não vários
militares portugueses a actuar de forma discreta e influente, pouco tempo
depois de ser instalado o 1º governo decorrente do 25 de Novembro em Portugal,
na direcção de Angola?!...
A manobra tardia do
reconhecimento de Angola por parte de Portugal inscreve-se na tensão contra a
República Popular de Angola e tem de ser abordada levando em consideração
os "jogos africanos" que vieram de trás, entre eles o
spinolismo, agarrado ao "Portugal e o Futuro", que forneceu
grátis a ideologia para as condutas de relacionamento para com África por parte
dos governos do “Arco de Governação”!
O “Le Cercle”, que esteve
por dentro do Exercício ALCORA, manteve-se por dentro e no apoio ao “apartheid”,
em África, na Europa e nos Estados Unidos, estabelecendo programas abrangentes,
geração após geração e de forma a nunca perder acção pelo menos nos campos
doutrinário e ideológico, no âmbito da ”democracia cristã” e dos seus“élans”,
como por exemplo o Conservative Caucus que a partir dos Estados Unidos se
ligava estreitamente a Savimbi (https://www.washingtontimes.com/news/2002/mar/14/20020314-041032-2931r/).
Com o 25 de Novembro de 1975 foi
possível, em relação à África Austral, reconfigurar o Exercício ALCORA,
distribuindo papeis por actores-chave como Cavaco Silva, Mário Soares, Savimbi,
Dlakhama, os Botha... algo que se tornou importante a fim de melhor orientar as
condutas político-diplomáticas e as inteligências, em especial aquelas que
conseguiram cobertura social-democrata e cristã-democrata (Le Cercle), as que
melhor se podiam aproximar do "diktat do apartheid"!
Inscritos na mesma matriz de
origem spinolista e circuitos de influência-inteligência próximos, embora
distintos, estão Nito Alves e Savimbi e por isso tinham planos e papéis
distintos, mas com objectivos confluentes!...
O "apartheid", com
o golpe do 27 de Maio de 1977 iria ficar a ganhar na "border
war", logo a seguir à derrota da Operação Savana, pois poderia beneficiar
dum escancarar de portas em benefício directo dos "democratas" Savimbi,
Holden e do próprio Nito Alves!
A ligação do Savimbi (http://www.angonoticias.com/Artigos/item/7074/tive-fama-de-ser-partidario-de-savimbi-mas-nunca-o-fui)
a Mário Soares (mais discretamente a Cavaco Silva), permitiu pontes que desde a
Operação Madeira beneficiaram o "apartheid", o principal
interessado na África Austral em derrubar a República Popular de Angola!
20 – Algumas linhas de
inteligência foram detectadas inclusive no terreno, entre elas a que explorava
Amílcar Fernandes Freire, Francisco Alberto Albarran Barata e Dongala Kamati,
na pesquisa de dados sobre portos e dispositivos das FAPLA.
Essa linha foi gerida a partir da
iniciativa operativa de Jacobus Everhardus Louw, Adido Militar Adjunto da
embaixada do “apartheid” em Lisboa em 1982, entidade que
significativamente foi mais tarde agraciada com a Ordem do Infante Dom
Henrique, pelo presidente Cavaco Silva (http://observatorioemigracao.pt/np4/588.html).
Note-se como, a pretexto da
língua, (um processo de exclusividade de lusofonia extensivo aos critérios
inscritos na prossecução da CPLP), o presidente Cavaco Sulva e outras figuras
gradas do “Arco de Governação”, assim como por tabela muitas entidades
brasileiras, regeram os relacionamentos para com África, em especial em relação
ao grupo PALOP.
Esse Adido em Lisboa, em ligação
como semanário Expresso do Bildeberger assumido Francisco Pinto Balsemão,
desencadeou a Operação Cubango de contrapropaganda, que visava confundir,
atingindo alvos precisos pré determinados por via de difamação aberta, ou
velada, figuras do estado angolano.
Jacobus Everhardus Louw recebeu
sintomaticamente três medalhas brasileiras, uma francesa e outra portuguesa, um
trabalho sob a influência dos “lobbies” mais conservadores na esteira
do Ezercício ALCORA, entre eles o “Le Cercle”.
Posteriormente, de 1992 a 2002 o choque
neoliberal alimentou-se desse “dispositivo” Portugal-Angola e depois
do protagonismo de Savimbi na “guerra dos diamantes de sangue”, algo em
que o prestígio do cartel e do “lobby” dos minerais ficavam a perder,
pelo que Savimbi finalmente passou a “descartável”, até por que em Bicesse
já se haviam reunido as condições para o início da terapia neoliberal modelando
as “novas instituições democráticas” angolanas, algo que se arrasta
até nossos dias, agora explorando mais as trilhas da inteligência económica!
Obstruir custasse o que custasse
a luta contra o "apartheid" interessava aos golpistas do 25
de Novembro, aos governos do "Arco de Governação", como mais
tarde às correntes que procuram expedientes de assimilação desde os ganhos do
Acordo de Bicesse a 31 de Maio de 1991, em direcção sobretudo a Angola, o que
leva a que ainda em nossos dias, hajam expedientes de filtragem e
distensão “soft power”, entre eles os que seguem a via económica e
académica de relacionamentos, neste último caso, por exemplo, ao nível da
jurisprudência!...
Ao “Arco da Governação” interessou
sempre não publicitar muito o golpe do 25 de Novembro de 1975.
Salvo em círculos militares
portugueses e dum modo “apagado” o golpe é “lembrado” em
Portugal, mas em Angola desconhecem-no, desconhecem suas profundas implicações
em Portugal e no relacionamento entre Portugal, Brasil e Angola, precisamente
na razão inversa da publicidade que foi sempre dada ao golpe do 27 de Maio em
Angola a fim de aglutinar pressões com sentido de ingerência e manipulação,
imprescindíveis para os processos correntes de assimilação e manipulação,
inclusive por parte de algumas entidades angolanas captadas nas suas
motivações.
Por outro lado, com a migração
para Portugal (e nunca para a URSS ou para a Rússia), de angolanos ligados de
forma directa ou indirecta ao processo fraccionista que gerou o 27 de Maio de
1977, é permitido alimentar a partir de Lisboa uma tensão que interessa às mesmas
linhas de intervenção que antes aproveitaram o Exercício ALCORA nos moldes
tornados possíveis pelo tandem Frank Charles Carlucci-Mário
Soares-Savimbi-Botha, ou seja, uma guerra psicológica de baixa intensidade mas
de geometria variável, que se antes procurava integrar as iniciativas de
derrube da República Popular de Angola, procura hoje pressão sobre a moldagem
das mentalidades propícias aos convenientes módulos corporativos da assimilação
conforme aos "superiores interesses" das caravelas!
A “lavagem” da imagem
de Savimbi (https://www.tsf.pt/sociedade/interior/savimbi-nao-estava-preparado-para-uma-sociedade-aberta-e-livre-8827488.html),
feita a partir de seus próprios filhos “trabalhados” pelos vínculos
portugueses“cristão democratas”, alguns deles identificados com o CDS,
inscrevem-se precisamente nesse mesmo plasma de opções correntes, opções essas
que bebem da “experiência” que foi lançada com a Operação Madeira, em
pleno fascismo e colonialismo português e, desde 1968, com seus laços no
sudeste de Angola, com a hipocrisia da “border war” do“apartheid”!
Martinho Júnior. Luanda, 1 de Dezembro de 2018.
Imagens:
Frank Charles Carlucci III e
Mário Soares (https://www.abrilabril.pt/nacional/carlucci-e-companhia);
Os “amigos” portugueses
de Savimbi na Jamba (democratas cristãos e social-democratas) – https://www.publico.pt/2000/02/01/jornal/os-amigos-de-savimbi-139453;
Condecoração da Ordem do Infante
Dom Henrique outorgado pelo presidente Cavaco Sulva a Jacobus Everhardus Louw,
oficial de inteligência do“apartheid”, na ebaixada sul-africana em Lisboa em
1982;
Educação de alguns filhos de
Savimbi em Portugal, a cargo de alguns “cristão democratas” do CDS (“fotos
de família” recentemente publicadas);
Filha de Savimbi, “produto” dessa “educação” e
uma das entidades promotoras interessadas na “lavagem” da imagem do
pai (http://peroladasacacias.net/2017/09/meu-pai-jonas-savimbi/); https://expresso.sapo.pt/internacional/2017-09-02-Meu-pai-Jonas-Savimbi#gs.ije9cZ0;
pensamento político de Jonas Malheiro Savimbi – oficial – https://www.club-k.net/index.php?option=com_content&view=article&id=3213:pensamento-politico-de-jonas-malheiro-savimbi-oficial&catid=8&lang=pt&Itemid=1071
Artigos anteriores desta série:
Portugal à sombra de ambiguidades
ainda não ultrapassadas – I – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/04/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda.html
Portugal à sombra de ambiguidades
ainda não ultrapassadas – II – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/04/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda_30.html
Portugal à sombra de ambiguidades
ainda não ultrapassadas – III – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/05/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda.html
Portugal à sombra de ambiguidades
ainda não ultrapassadas – IV – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/05/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda_8.html
Portugal à sombra de ambiguidades
ainda não ultrapassadas – V – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/05/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda_14.html
Portugal à sombra de ambiguidades
ainda não ultrapassadas – VI – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/05/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda_18.html
Portugal à sombra de ambiguidades
ainda não ultrapassadas – VII – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/06/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda.html
Portugal à sombra de ambiguidades
ainda não ultrapassadas – VIII – http://paginaglobal.blogspot.com/2017/07/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda.html
Portugal à sombra de ambiguidades
ainda não ultrapassadas – IX – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/10/portugal-sombra-de-ambiguidades-ainda.html
Pistas e traumas do longo choque
neoliberal – I – http://paginaglobal.blogspot.com/2017/07/pistas-e-traumas-do-longo-choque.html
Pistas e traumas do longo choque
neoliberal – II – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/07/pistas-e-traumas-do-longo-choque_29.html
Pistas e traumas do longo choque
neoliberal – III – http://paginaglobal.blogspot.pt/2017/08/pistas-e-traumas-do-longo-choque.html
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