domingo, 30 de julho de 2023

Angola | O Muro das Lágrimas – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Jornal de Angola faz cem anos no próximo dia 16 de Agosto. A efeméride vai ser devidamente comemorada. Angola entra no exclusivo grupo de países com jornais centenários. Com fundos cedidos pelo Serviço de Recuperação de Activos mandei imprimir camisolas com uma inscrição em duas linhas. Primeira: INFORMAÇÃO É VIDA. Segunda: JORNAL DE ANGOLA CEM ANOS A INFORMAR.

A apresentação do programa do centenário tem lugar na próxima semana, naquele hotel do Eixo Viário, também cedido pelo Serviço de Recuperação de Activos. Vai ser uma festa de jornalistas em honra de um jornal centenário, o único que temos e tão cedo não teremos outro. 

Não gosto muito do secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas, Teixeira Cândido. Mas vou convidá-lo e eu próprio lhe visto a camisola com a mensagem da efeméride. Gosto muito da jornalista Luísa Rogério. Vai ser a convidada de honra. Vou vestir-lhe a camisola. Mas não me esquecerei de lhe dizer que MULHER É VIDA!

Na festa só entram jornalistas. O ministro da Comunicação Social tem a entrada cortada. Faço questão que estejam presentes os profissionais que se escandalizaram com a presença de Luísa Rogério e Teixeira Cândido numa festa da DSTv (Digital Satellite Television) um serviço de televisão via satélite da MulriChoice que nasceu em 1995 e tem mais de dez milhões de assinantes o que dá uma audiência superior a 50 milhões. É um órgão de comunicação social. 

Na festa do Jornal de Angola todos temos camisolas vestidas publicitando os seus cem anos. Vou falar da Imprensa Angolana (nascida quase simultaneamente em Luanda e no Reino do Congo, no final do século XVI. Essa é a data da chegada das primeiras máquinas impressoras a África, pela mão dos missionários portugueses, que as instalaram nos seus colégios da Ordem dos Jesuítas, em Luanda (por trás da Igreja da Nazaré) e S. Salvador do Congo (Mbanza Congo). 

A DSTv está em Angola. Acho muito bem que jornalistas apoiem a expansão de um canal de televisão pioneiro e que teve um papel muito importante no mundo mediático angolano. Estou a defender Luísa Rogério do banditismo mediático reinante. Tenho especiais responsabilidades na matéria. Andei anos pedindo-lhe que liderasse um projecto de auto regulação. Dizia-lhe que enquanto não houvesse uma carteira profissional que nos diferenciasse ficávamos vulneráveis a todas as infiltrações, nomeadamente policiais. 

Ela, corajosamente, conseguiu. Temos que agradecer-lhe. Nunca deitá-la abaixo. Tenham cuidado com o cão e comigo!

O próximo passo vai ser construirmos o muro das lágrimas para que os infiltrados no Jornalismo Angolano chorem à vontade. Em 1945 passaram cem anos desde o nascimento do primeiro jornal em Angola (Boletim Oficial). No dia em que foi fundada a DSTv fez 150 anos. Mas a Imprensa Nacional esqueceu-se de comemorar a data. Não mandou imprimir camisolas nem as vestiu aos jornalistas. Mais lágrimas no muro.

O Pai Querido anunciou que a Sonangol já não está em queda livre. Agora a produção de petróleo “está em declínio moderado”. Na adianta irmos chorar para o muro das lágrimas. O PCA da petrolífera nacional é o pior de todos os tempos. O mais incompetente. Mas quem o ouve falar acredita que a empresa está a ser gerida. Como a administração do Caminho-de-Ferro de Benguela. Gastou o dinheiro todo a reparar rodas e agora o chefe chora copiosamente no muro das lágrimas.

O Presidente da República de Cabo Verde, José Maria Neves, é bom homem. Não consta que ande de tasco em tasco queimando escudos em grogue. Entrega todo o dinheiro que ganha à esposa, para nunca faltar cachupa na mesa. Muito bom homem. Estava eu a congeminar como podia deitar abaixo os sicários da UNITA quando me apareceu na TPA o líder cabo-verdiano anunciando que não foi à cimeira Rússia-África em solidariedade com a Ucrânia. A notícia chegou rapidamente a São Petersburgo e o Presidente Putin mandou logo construir um muro das lágrimas. 

Os participantes na cimeira foram todos chorar a ausência de Cabo Verde. Houve tentativas de suicídio. Os 17 Chefes de Estado presentes ponderaram a apresentar a demissão. Ministros africanos decidiram nunca mais regressar a África. O mundo sem Cabo Verde fica à deriva. Até eu estou a chorar. De verdade.

PAIGC e depois o PAICV adoptaram uma política externa assente na construção de boas relações com todos os países do mundo. E ainda existiam os blocos do ocidente e de leste. Conseguiram manter excelentes relações com todos os lados. José Maria Neves resolveu bandear-se com um lado. No momento em que há um movimento global para acabar cm o mundo unipolar em que vivemos. Cabo Verde desatou a correr desabridamente para o abismo. O país ainda acaba espaço insular de Portugal que por sua vez é um protectorado do cartel falido chamado União Europeia. Tanto choro no muro das lágrimas!

Um dia estava a trabalhar com o comandante César Augusto (Kiluange) no seu livro “Angola-Argélia Solidariedade Traída”. O autor era o nosso embaixador em Cabo Verde. Anunciou que no dia seguinte chegava à cidade da Praia o nosso amigo Osvaldo Serra Van-Dúnem (Beto), meu amigo dos tempos da juventude. O trabalho tinha de abrandar. Vivemos dias agradáveis de amizade e camaradagem. Ontem citei o discurso notável do seu filho, o deputado Kilamba, do Grupo Parlamentar do MPLA. Apresentei-o como filho de Beto Van-Dúnem. Um erro porque a opinião pública associa este nome ao nacionalista do Processo dos 50 e não a Osvaldo Serra Van-Dúnem (Beto). Peço desculpa se induzi alguém em erro.

Hoje de manhã decorreu a terceira reunião ordinária do Bureau Político do MPLA. A bem informada TPA disse que a direcção do partido tomou uma decisão ousada. Os membros da JMPLA e da OMA não podem mais acumular com os cargos de deputados. Têm de trabalhar com as bases! Tanto choro no muro das lágrimas. Mas está certo. 

A juventude tem de prestar provas. E isso só é possível trabalhando com as massas. As Mamãs Angolanas têm tantos problemas que a direcção da OMA precisa de mobilizar todos os recursos humanos para minorar essas situações dramáticas. É a unidade na luta contra os sicários da UNITA e seus derivados. Adalberto, Chivukuvuku, Filomeno Vieira Lopes e Justino vão desfazer-se em lágrimas. Eu vou dar uma força à OMA. Só me falta ser mulher.

*Jornalista

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